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Panda Bear
B.Leza, Lisboa
11/04/2007


Em cima do palco do B. Leza, com as palavras “em b. leza” atrás dele, Noah Lennox era apenas um puto a fazer a música que queria como queria. O que deve ter sido sempre o seu objectivo. Não é um melómano, diz raramente ouvir música em casa, e é fã de bandas que ninguém com dois dedos de testa aprova, como 4Taste ou Evanescence, mas pega em bocados de tudo aquilo de que gosta para criar canções. Como num DJ set ou num concerto dos Ramones, não há paragens. Diz que foi ao iTunes buscar samples de 30 segundos de tudo o que conseguia, pôs umas guitarras aqui e ali, juntou tudo e fez as canções de Person Pitch, aqui apresentado mundialmente pela primeira vez. O resultado é alguém que não comunica muito com o público, que tem um sampler e máquinas e mostra o que andou a fazer no quarto ao vivo, com bons resultados.

A sala estava cheia, esgotada, e, depois de uma confusão com o sistema de reservas – não havia bilhetes, só reservas online, o que fez com que demorasse demasiado tempo a entrar toda a gente -, da cerveja quente em copos quentes a 3 euros, da cerveja em falta, Panda Bear, que tinha andado pelos corredores e pelo balcão o mais discretamente possível para alguém com a camisola mais feia do mundo, subiu ao palco.

Lá, as batidas davam espaço a outras batidas, rock, pop, dub, hip-hop, a wall-of-sound de Phil Spector, e a voz de Lennox, com efeitos, às vezes loopada, outras não, cantava palavras e frases imperceptíveis. Mais ou menos como em disco, só que algo acontece lá no meio, isto deixa de ser uma massa de som e passa a ser canção, mesmo que não pareça à primeira audição.

Não devia resultar ao vivo, e muitas vezes não resulta, até porque se pode tornar aborrecido, mas a memória de Person Pitch consegue manter as coisas interessantes, e mesmo que não existisse, os baixos dubby e todo o ambiente de música de dança – algo que é uma influência assumidíssima e isso nota-se - que aquilo pode ter compensava tudo.

O início de “Good Girl/Carrots”, ao vivo, especialmente, podia ser um beat de Timbaland para Missy Elliott, só sem o rap, o que é uma feliz coincidência visto todo o modus operandi de Noah Lennox ser perigosamente próximo da estética do hip-hop: pegar e samplar tudo e juntar o velho para criar o novo. Claro, é só um tipo que nem sequer conhece de cor os nomes de toda a gente importante do kraut rock ou do free jazz russo dos anos 60, umas máquinas e um microfone, num espectáculo que é próximo do karaoke, mas se todo o karaoke fosse assim o mundo seria um sítio mais bonito.

Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
11/04/2007