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As dez melhores canções de sempre neste preciso momento #11 - Nadine Khouri



Mesmo quem não respeita incondicionalmente as “regras” conhecidas na hora de escrever uma canção, tem as suas referências e modelos mais ou menos identificados. Nadine Khouri, que editou o disco de estreia Cuts from the Inside há algum tempo atrás, não é uma escritora de canções tradicional mas nem por isso deixou de aceitar o desafio de escolher as 10 da sua vida – neste preciso momento. Apesar da dificuldade na escolha, Nadine Khouri, que esteve em Portugal recentemente, foi rápida e incisiva. Nas suas frases é possível ler nas entrelinhas e perceber intimamente o porquê de cada escolha. Porque nem todos são tão transparentes e abertos na hora de contar ao mundo quais as 10 canções que nos perduram na memória.

 
“Wild is the Wind”, Nina Simone: Algo no piano nesta canção nunca deixa de me causar calafrios. A Nina é incontestadamente um mestre e acho que a sua forma de tocar piano é tão magnífica com a sua voz.

“Blue”, Joni Mitchell: Outra canção muito triste, com uma voz e piano fantásticos. A Joni Mitchell sempre representou para mim uma cantora e escritora de canções fenomenal. A sua voz sobe de baixos para altos sem esforços; os acordes no piano são também muito abertos e interessantes, deixam-se ficar mesmo quando a canção está acabada.

“Inner City Blues”, Marvin Gaye: Ouvi o Marvin Gaye pela primeira vez quando tinha 10 anos e fiquei pasmada com a voz dele. Ouvi esta canção num táxi de Nova Iorque não há muito tempo, e atingiu-me seriamente porque tinha groove, era política e sincera, tudo ao mesmo tempo. Não há muita gente que consiga escrever uma canção fabulosa que acontece também ser uma canção de protesto. Também tem um triângulo óptimo a soar durante toda a canção.

“Mistress”, Red House Painters: Eu ouvi esta faixa na rádio às 3 da manhã enquanto andava a conduzir por aí e fui atingida pela melancolia e timbre da voz do Mark Kozelek. O piano é também esparso e lembrou-me um bocado o Eric Satie. É uma faixa muito minimal mas imensamente triste e emotiva.

“Is this Desire?”, PJ Harvey: Esta faixa é muito esparsa quando comparação com muitos discos da PJ Harvey em meados dos anos 90. Eu adoro a vibração pantanosa desta canção, e a instrumentação minimal e sem folhos. É uma faixa muito sexy e negra mas as vozes são muito frágeis, ao contrário digamos dos rugidos característicos em canções como a “Rid of Me” ou “Big Exit”.

“My Gurl”, Joan As Police Woman: Eu adoro a música da Joan Wasser porque é tão multifacetada. Esta faixa mistura rock com música soul de uma excelente forma; grande trabalho de bateria cortesia do Ben Perowsky e Rhodes distorcido, algo que eu adoro. A voz dela é muito fumarenta e a letra é muito poética.

“Paranoid Android”, Radiohead: Eu adoro os Radiohead porque eles combinam sempre grandes melodias com sons artificiosos e ideias sombrias. Há sempre um sentimento de desconforto na música deles. Uma luta entre o ser humano e modernidade circundante. A “Paranoid Android” é como a “Bohemian Rhapsody” deles, uma sinfonia indie rock fragmentada e doida.

“Anchor Song”, Björk: Existem canções sem fim para se escolher quando se trata da Björk! Esta canção ficou sempre comigo por ter apenas voz e sopros. Sempre adorei a Björk pela sua versatilidade na música. Que ela se possa sentir tanto à vontade com uma harpa medieval como com batidas electrónicas. A voz é também muito doce e evocativa.

“Kiss”, Prince: Esta é uma canção pop standard dos anos 80 mas eu acho que é genial. Eu devo ter ouvido esta faixa mais de mil vezes e nunca me canso dela.

“Famous Blue Raincoat”, Leonard Cohen: Esta faixa é bastante lírica e abre-se como uma estória. Tem vozes inquietantes quase klezmer ao fundo e a voz densa do Cohen no topo. Ninguém rivaliza com o Leonard quando falamos de escrever canções como poemas.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
03/11/2008