As dez melhores canções de sempre neste preciso momento #3 - Pelt
· 29 Mar 2006 · 09:00 ·

Mike Gangloff é membro dos norte-americanos Pelt, nome maior da música psicadélica da última década. Além disso, toca banjo nos Black Twig Pickers, que vêm desenvolvendo um curioso trabalho de pesquisa sobre a música tradicional norte-americana. É da tradição do seu país - que ecoa também na música dos Pelt - que vem a maior parte das escolhas de Gangloff partilhadas com o Bodyspace.

1 "Washington's March" tocada pelo mestre do fiddle [violino tradicional americano] da Virgínia Ocidental, Edden Hammons, nas sessões de 1947, que foram as únicas coisas que se sabe que ele gravou. O filho dele vai matraqueando a guitarra ao longo do tema - é o som da alegria pura e inalterada.

2 "Queen of the Earth, Child of the Skies", também de Edden Hammons. Absolutamente selvagem. Um pedaço de música perfeita. Agradeço à editora da Universidade da Virgínia Ocidental por ter melhorado esta gravação e tê-la tornado disponível outra vez.

3 "Yew Piney Mountain" tocada por Dwight Diller na sua obra-prima Just Banjo '99. Dwight Diller é um guru do banjo clawhammer e se não te arrepiares ao ouvi-lo tocar, não estás a prestar atenção.

4/5 "Mule Rider" ou "V8 Ford Blues Pt. 2" de Charlie Parr, no seu disco de 2004, King Ear". Toda a gente fala de "Reverend's Eviction Blues" deste álbum, que é uma canção fantástica (adoro a linha "Can't sit in the coffeeshop, they say I smell like booze"), mas gosto da forma como o Charlie toca banjo e a diversidade de “Mule riderâ€, comparativamente com o resto do disco. Sobre “V8â€: consegues apontar algum talking blues dos últimos 20 ou 40 anos que preste? Um álbum maravilhoso. Qualquer canção podia estar na lista.

6 "Twin Sisters" tocada por Sidna e Fulton Myers, gravada no início dos anos 60 e editada pelo Field Recorders' Collective no ano passado. É uma das minhas canções favoritas e esta versão é louca, bela e muito complicada de se compreender. O fiddle de Fulton parece estar muito mais longe do microfone do que o banjo de Sidna. As várias estranhezas na gravação ao longo da sessão geram uma atmosfera que é como uma abordagem Brian Jones Present à música antiga apalachiana.

7 "Sally Ann" no fiddle de Oscar Jenkins, na reedição da County Records para o disco de Jenkins, Jarrell and Cockerham, "Down to the Cider Mill". Tommy Jarrell e Fred Cockerham são os fiddlers mais conhecidos desta colecção e a versão deles em fiddle e banjo para “Sally Annâ€, acompanhado por "Stay All Night and Don't Go Home", é o clássico raro que vale a hipérbole. Mas o fiddling de Oscar nesta canção também é óptimo - a forma como ele se recusa a deixar as duas cordas agudas e se agarra insistentemente a certas notas é muito selvagem. Também dá esperança àqueles de nós que fazem versões - digamos - idiossincráticas destas músicas.

E duas canções para evitar serem só coisas antigas:

8 "One Down, One Up", de John Coltrane, editado pela Impulse. Música brilhante. Quando o locutor [de rádio] entra e a canção é interrompida, é imensamente frustrante. Tenho dificuldades em ouvir o suficiente de Coltrane.

9 "Go! live at the Plophouse". É uma gravação minha de um trio com o saxofonista Mahlon Hoard, o baixista Pat Lawrence (ambos de perto da Carolina do Norte) e o baterista Nathan Bowles (que vive perto de mim e toca às vezes na Spiral Joy Band) a tocar numa festa caseira no início deste ano. A nuvem de electrónica e as pancadas e os assobios que o Pat consegue sacar, as linhas do Mahlon, por vezes a guinchar, outras tenor suave ou soprano, enquanto o Nathan mantém a coisa toda a vaguear sem descanso. É apenas uma energia porreira, totalmente improvisada e exploratória, com grande domínio dos instrumentos, o tipo de espectáculo que não acontece frequentemente. Pat e Mahlon já andam nisto há uns tempos - não tive a oportunidade de lhes perguntar se já tinham ouvido as explosões de Paul Flaherty e Chris Corsano.

Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com

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