Um ano a desafinar
· 17 Mar 2004 · 08:00 ·
Há um ano atrás dei início a uma colaboração com o bodyspace.net, respondendo a um desafio que os responsáveis pelo site me colocaram: escrever sobre música, portuguesa de preferência. Desde então que procuro manter uma certa assiduidade, apesar de, por vezes, os compromissos profissionais não o permitirem. Mas tenho-me aguentado e confesso que o tempo que passo em frente ao computador, os comentários dos visitantes do site, as mensagens simpáticas e as extremamente simpáticas que vou recebendo, em muito me têm agradado. Mas, tal como disse há precisamente um ano atrás, “vamos ao que interessa: música. É por isso que estou aqui”.

Neste primeiro trimestre de 2004, além da política, futebol e terrorismo, tem sido a música a dominar a atenção da população portuguesa. Para ser mais preciso, dois eventos – o Rock in Rio Lisboa (RRL) e o Festival Super Bock Super Rock (SBSR). Todas as semanas acrescentam-se nomes aos cartazes, numa clara competição saudável entre as duas organizações. Sim, porque para quem ainda não reparou, dois dias depois de findo o RRL inicia-se o SBSR. Ou seja, o mais provável é que quem vá a um não vá ao outro, ou então compra bilhetes para os dias que mais lhe interessa (isto para quem vive em Lisboa ou arredores, porque os custos de duas deslocações à capital são elevados). Se estamos perante uma competição, então um confronto torna-se inevitável. Imaginemos que os festivais são duas equipas de futebol e estamos perante um derby que decide o título de campeão. O RRL apresenta-se em campo com a seguinte formação: Peter Gabriel; Sting; Metallica; Britney Spears; Alejandro Sanz; Guns N´Roses; João Pedro Pais; Rui Veloso; Evanescence; Incubus; e Ben Harper. Pelo SBSR alinham: Fatboy Slim; Massive Attack; Pixies; Korn; Linkin Park; Blasted Mechanism; Clã; Avril Lavigne; Nelly Furtado; David Fonseca; e Lenny Kravitz. Não se esqueçam que a equipa do SBSR ainda apresenta algumas fragilidades. Mas anunciam-se, para breve, reforços. No fim, quem sairá vencedor deste derby? O futuro o dirá, mas para já é o consumidor, porque tem uma oferta qualitativa acima da média. Olhando para os cartazes, veremos que há muito por onde escolher. Pessoalmente, tenho uma clara tendência para o SBSR, sem dúvida aquele que apresenta um produto a pensar num melómano e frequentador habitual de eventos musicais, em contrapartida com o RRL, que prefere apostar na quantidade e nas massas. Políticas e estratégias.

Mas nem tudo se resume a estes dois festivais. Os primeiros meses de 2004 têm sido marcados por edições nacionais dignas de registo, onde podemos incluir nomes como Gomo, Loto, Hipnótica, Matozoo ou Sloopy Joe. E neste ponto é de valorizar o papel do Blitz, que tem apoiado o lançamento de alguns discos através de distribuição conjunta com o jornal. O mais recente foi “Manifesto”, uma compilação que reúne temas dos Ezspecial, Mão Morta, Anger e Mentes Conscientes. Quatro nomes de áreas bem distintas a provarem que, apesar das diferenças entre as sonoridades, nada impede os músicos portugueses de realizarem projectos em conjunto. São iniciativas destas que levam às mudanças, nunca o choramingar do costume. O caminho está no olhar em frente e na vontade de mudar e alcançar objectivos.

Por falar em mudar, queria deixar aqui um voto de boa sorte para os ex-membros dos Sax Shop, um projecto em torno do qual se gerou uma discussão bem acesa, há umas semanas atrás, aqui mesmo no bodyspace.net. Ao que tudo indica, a banda resume-se agora a apenas um dos elementos, tendo os restantes criado uma outra, que dá pelo nome de “SiNai”. Ficamos à espera para ouvir os sons deste novo projecto. Entretanto, as más-línguas vão-se ouvindo por aí. Para algumas pessoas esta situação é fruto de uma má digestão crítica. Para outros uma consequência natural. Eu digo que foi obra do Diabo…
Jorge Baldaia

Parceiros