Mudem de canal, por favor!
· 01 Out 2003 · 08:00 ·
Nos últimos quinze dias voltou-se a falar do mesmo de sempre. Temos a Casa da Música (CM), a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e as quotas obrigatórias na Lei da Rádio. Estamos perante verdadeiras novelas ao bom estilo mexicano ou venezuelano. A verdade é que já cansa ouvir falar de todos estes assuntos, principalmente quando sentimos que são fruto de facilitismos, guerrilhas de poder, incompetências e o já tradicional amuo. Senão vejamos.

O tal edifício que supostamente vai surgir nas traseiras da CM emparedando-a (digo supostamente porque há a hipótese de se abrir um “janelão” na estrutura da futura sede do Banco Português de Negócios que permite manter a vista – acho má ideia, porque a concretizar-se e seria por si só uma verdadeira obra de arte capaz de ofuscar a própria CM, se é que me faço entender) parece ser obra de Nuno Cardoso e do braço de ferro que protagonizou com a Sociedade Porto 2001, tendo por fundo a estabilidade financeira das contas da autarquia. Devia ter pensado nas consequências. Mas a má gestão autárquica já é algo a que nos habituamos. Ficamos à espera da resolução para mais este problema.

Quanto à SPA já se torna cansativo falar dela. Mas deve ser uma boa fonte de rendimentos, pelo menos a julgar pelos boatos sobre a criação de uma nova e, claro, fundada pelo senhor Luiz Francisco Rebello. Se a isto acrescentarmos as altas consequências financeiras que implicam a rescisão do seu contrato com a SPA, então está tudo dito e poderemos concluir que sabe cuidar muito bem de si. No meio disto tudo a única coisa boa parece estar na forma desportiva como José Saramago aceitou a derrota da sua Lista, desvinculando-se da cooperativa e transferindo todos os assuntos relacionados consigo para a Editorial Caminho. Saber perder é uma virtude.

Em relação às quotas de música na rádio tudo não passa de fogo de vista. Incrivelmente foram aprovadas duas propostas bem diferentes. Ou seja, nada está decidido. A decisão final dependerá da proposta do PSD e fica adiada para uma outra altura. Nada de novo, pois então. Quanto a este assunto a minha opinião não poderia ser mais clara. Defendo uma quota mínima apenas para as estações públicas ou que dependem de subsídios estatais e regionais. Cabe ao privado seguir a mesma política ou não. O alicerce fundamental da democracia é a liberdade de escolha e, nesse sentido, apenas o aspecto moral poderá ser aplicado, nunca o jurídico.

Como se pode constatar Portugal é um país que se parece caracterizar, em termos de política cultural, pela incoerência. Veremos se, a longo prazo, mudará.

Mas nem tudo é mau no espectro cultural nacional. A Orquestra Nacional do Porto lançou hoje, 1 de Outubro, Dia Mundial da Música, os seus dois primeiros discos enquanto orquestra sinfónica. Há sempre uma primeira vez para tudo e, neste caso, já era mais que aconselhável.

Porém, a grande novidade na música nacional é a recém-criada categoria para Melhor Banda Portuguesa nos MTV Europe Music Awards. Na sua décima edição o evento, que será apresentado por Christina Aguilera, vai ter um vencedor português. No próximo dia 6 de Novembro, em Edimburgo, Escócia, entre David Fonseca, Blind Zero, Primitive Reason, Fonzie ou Blasted Mechanism, um deles vai trazer o troféu. Que ganhe o melhor e que o português se faça ouvir nos agradecimentos. Se havia dúvidas quanto aos benefícios da MTV Portugal este surge como um bom argumento para as dissipar. Esperemos que dê frutos.

Para terminar quero apenas dizer que, relativamente à CM, à SPA e às quotas obrigatórias para a Lei da Rádio, apenas me voltarei a pronunciar no último episódio. Até lá mudarei de canal. Haverá outros, por certo, mais interessantes.
Jorge Baldaia

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