Klaxons: o futuro não podia ser duradouro
· 30 Jan 2017 · 10:46 ·


Myths Of The Near Future
é um daqueles álbuns que não viveu muito tempo para contar a sua própria história. Editado há precisamente dez anos, a 29 de Janeiro de 2007, o disco foi prontamente impelido pelo burburinho que os Klaxons tinham vindo a despoletar com alguns EPs e singles, que captaram a atenção da monstruosa Pitchfork e do seu séquito de leitores ávidos por qualquer novidade indie. Havia mesmo, à altura, quem afirmasse sem ponta de ironia que a banda se poderia vir a tornar tão grande quanto os Oasis. Para casa, levaram um prémio Mercury. Para a história, ficaram como uma das bandas fundadoras do malogrado género musical que era o nu rave. E, por cá, proporcionaram uma óptima versão dos Clã de um dos seus temas mais conhecidos.

Não viveu muito tempo, não. Apenas cinco meses depois, os Klaxons apresentavam-se ao vivo no Super Bock Super Rock, numa edição que se tornou mítica: Metallica, LCD Soundsystem, Jesus & Mary Chain, Arcade Fire, Bloc Party, Interpol, Underworld... Mas, ao invés de lutar olhos nos olhos com todos estes grandes nomes, que então se encontravam, grosso modo, no pico das suas forças, os britânicos decidiram destruir de vez qualquer interesse que pudesse existir nas suas canções, tamanha foi a banhada. Quando até os Gift dão um concerto melhor naquela fatídica tarde, está tudo dito... E decidido. Doravante, os Klaxons não seriam mais que um nom du jour, e não valeria a pena perder mais tempo com aquilo (ver também: Clap Your Hands Say Yeah).



A vida dos Klaxons pós-Myths também não ajudou a que Myths Of The Near Future se mantivesse intocável, passadas as más memórias. Surfing The Void, de 2010, era só uma tentativa parola de imitar os MGMT. E o seu derradeiro álbum, Love Frequency, ainda que contivesse alguns bons temas a roçar o house, não chegava nem de perto ao impacto provocado pela sua estreia. Nem tinha as mesmas boas referências: os KLF e o seu famoso manual, J.G. Ballard, Thomas Pynchon, William Burroughs, Aleister Crowley, um sonho rave perdido no tempo...

Era mais do que aquilo que aparentava, assim se poderá descrevê-lo. E tinha as canções, pop estranha mas ainda pop, para o provar. Desenterrando-o, dez anos depois, ainda é possível perceber no eco resquícios dessa ideia de que os Klaxons poderiam ter sido maiores, tal qual espelhado na letra de "Forgotten Worlds": you know something's going to happen... Não aconteceu, ficando apenas a memória de cinco meses bem passados, sendo que a new rave se transformou numa mera nota de rodapé desse período que foram os "anos 00", onde toda a música passou a ser possível. Para o bem e para o mal. Quanto aos Klaxons, deram o seu último suspiro numa altura em que já se tornou impossível falar de indie. Não acabaram tão grandes quanto os Oasis, mas talvez sejam, de vez em quando, desenterrados da mesma forma.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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