The Drowning Bride - Uma sinfonia incompleta
· 10 Fev 2015 · 22:51 ·
Em 2014, Eduardo Sardinha aceitou, para grande orgulho nosso, assinar uma mensalidade no Bodyspace, que aproveitou para falar sobre os Rated with an X e sobre Os Príncipes. Falou sobre aquilo que sabia melhor (entre outras coisas): sobre música. Apesar de o convite o ter feito pensar demasiado, como admitiu num desses textos: "Olhei à volta para quem acompanharei neste registo e compliquei-me: tudo gente a quem se deve ler para ter ouvidos, concordando ou discordando; muitos de quem tenho saudades de trabalhar com e todos em pleno fulgor profissional dessa coisa de “dançar sobre arquitectura” que é “escrever sobre música”. E euzinho; um amador destas coisas desde o último número do UM (Dezembro de 2006!), escrevendo apenas newsletters, textos para bandas que me agradam (e convidam) e abébias no Facebook, com excepção da fugaz passagem anglófona pelo Wolf-ear.com há um ano. O medo, o pânico, “the horror”!". No mês seguinte Eduardo Sardinha deixou-nos e a falta que faz ficou connosco. Na altura em que faleceu, encontrava-se a escrever um último texto para juntar aos dois que tinha escrito em Outubro, que agora publicamos, ainda que incompleto. A última palavra que escreveu, ainda que por terminar, foi música.
 

Como diz a campanha mal feita que anda por aí, vocês precisam de saber uma coisa (ou algumas, vá) antes de se deitarem a adivinhar nos Drowning Bride uma banda gótica, com um álbum cheio de centerfolds de suicide girls. Sendo sabido que a morte tem uma longa relação com a cultura popular ocidental e a arte em geral, também não são poucos os flirts com o suicídio (vide precisamente a cultura gótica, pivoteada pela literatura do séc. XIX) e, menos sabido, com o homicídio. Neste particular one-night stand (quer dizer, não podem ser relações duradouras…), importa-nos para o caso saber que a música tradicional norte-americana (folk, blues ou country) é pródiga em exemplos do tipo, muitos passados entretanto para cultura pop massificada de forma quase desapercebida conforme esses géneros foram ampliaram audiências ou essas músicas (geralmente canções) foram apropriadas por outros géneros ainda mais disseminados, com o rock à cabeça.

Exemplo acabado disso e talvez o mais conhecido das últimas décadas será o álbum de 1996 Murder Ballads, dos Nick Cave & The Bad Seeds, inteiramente dedicado ao tema. Uma década depois, em Portugal, seriam os The Unplayable Sofa Guitar a lançar Rocky Grounds, Big Sky (Bor Land, 2005) com temas originais, mas originados por uma aprofundada pesquisa ao sub-género na América da primeira metade do séc. XX e/ou a bluesman que tivessem tido algo de igualmente mortífero na sua vida ou carreira. Precisando, a formação desses TUSG eram Francisco “Old Jerusalem” Silva, o produtor Paulo Miranda (que também produz o disco aqui em análise) e Ana Figueiras, a Drowning Bride ela própria, por assim dizer.

Eduardo Sardinha

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