A vontade de triunfar
· 17 Mar 2003 · 08:00 ·
Quando recebi o convite do bodyspace para escrever uma coluna sobre música portuguesa não hesitei. A paixão que me move foi decisiva, bem como a oportunidade para escrever sobre o nosso universo musical. Mas o mais difícil estava para vir. Qual o nome a dar a esta coluna quinzenal? Depois de muito pensar lá acabei por encontrar um. “Desafinações” pareceu-me interessante. Porquê? Fica ao critério da vossa imaginação.

Mas vamos ao que interessa: música. É por isso que estou aqui. E como não poderia deixar de ser, há que começar logo por aquele que considero um dos grandes cantores românticos portugueses, o Tony Carreira.

Como todos devem saber, este senhor actuou, no passado dia 08 de Março, e a propósito dos seus 15 anos de carreira, para um Pavilhão Atlântico cheio. Estranho? Sim, e isto se tivermos em conta que muitos dizem ser ele pimba e um músico onde há pouca qualidade. Mas até hoje quantas bandas portuguesas encheram o Pavilhão Atlântico? Provavelmente só se recordam dos Silence4, mas foram mais. E não é qualquer um que o consegue. Aliás, o mesmo argumento serve para o famoso Olympia, em Paris.

Sobre o Tony Carreira, apenas posso dizer que o vejo como um músico de sucesso, independentemente de gostar ou não daquilo que faz. Terá qualidade? Pelo menos o compositor francês Didier Barbelivien, que escreveu canções para o Charles Aznavour, entre outros, acha que sim.

Sabem qual é um dos nossos grandes problemas? Menosprezamos o que é feito cá e em muitos casos rotulam-se os músicos de foleiros. Mas qual é a grande diferença entre o Tony Carreira e o Rod Stewart? E entre a Ágata e a Celine Dion? Exagero? Talvez, mas a ideia central é que os gostos não se discutem, e não podem haver dois pesos, duas medidas.

Interessante tem sido a Operação Triunfo. Mais que uma Academia de Estrelas, cujo grande objectivo é a concorrência que vem tornando a nossa televisão medíocre, o programa apresentado pela Catarina Furtado em versão algo pouco à vontade, é um verdadeiro poço de descoberta de talentos. Pelo menos lá aprende-se muita coisa, e os nossos A&R até nem precisam de sair das suas cadeiras para descobrirem os possíveis sucessos de amanhã. Um programa que deve ser encarado com seriedade.

No entanto, não poderia deixar de fazer referência à nossa representação no Festival Eurovisão da Canção. Que a Rita Guerra possui uma excelente voz, entre outros atributos, ninguém duvida. Mas porquê ela? Não terão todos os outros compositores e intérpretes direito a uma oportunidade? Infelizmente “quase” ninguém se manifestou. Vá-se lá saber porquê...

E já que se fala de talentos não poderia deixar de falar de algumas das bandas que tenho seguido com atenção nas últimas semanas. Nesse sentido gostava de fazer referência aos Orangotang, Bildmeister, Sinapse e O Projecto é Grave. Nomes a reter e dos quais terei todo o gosto em fornecer os contactos.

Para terminar queria apenas fazer referência à ligação dos Toranja à Universal Music que, e segundo ouvi dizer, dará frutos ainda durante este ano. Entretanto, já estão disponíveis o primeiro álbum dos Ezspecial, “In`n`Out”, e o single que antecede o primeiro disco a solo de David Fonseca, “Someone that cannot love”. Tudo indica que o ano de 2003 vai fazer concorrência directa ao de 2002. Esperemos que sim.
Jorge Baldaia

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