As dez melhores canções de sempre neste preciso momento #20 - Old Jerusalem
· 08 Mar 2010 · 21:40 ·

Por dar a cara a uma canção tão perfeita como “33 1/3” nos Mighty Tiger (devidamente videotecados algures nestas páginas), não resistimos a ir ao encontro de Andy Vaughan para descobrir alguém profundamente apaixonado pela música pop e carregado de bom humor. Batoteiro quanto baste, tratou de escolher um menu que é um misto de canções de sempre (maioritariamente) e outras que resgatou a um quase anonimato (minoritariamente), admitindo para si mesmo alguns prazeres levemente culpados. O alinhamento – já o testamos por aqui – é uma perfeita viagem por alguns dos melhores tiques de escrita de canções da pop, da folk, e de outras maravilhas do século XX. Experimentem saltar de Youtube em Youtube, de LP em LP, de CD em CD, de MP3 em MP3 e não se vão certamente arrepender.




"Die", Carissa’s Wierd: Atravessei um período de tempo na altura em que estava na universidade na Universidade do Nebraska em que estava totalmente apaixonado por esta banda de Seattle. “Die” é uma das últimas canções que eles gravaram, do disco ao vivo e de Lados B I before E. O Mat Brooke e a Jenn Ghetto, as figuras principais, cantam sobrepondo linhas durante o verso que converge numa belíssima harmonia de “die, right now”. É definitivamente uma das minhas justaposições musicais favoritas. Um bónus: ouvir a Ghetto cantar “Promise I’ll make it in that hip-hop video”.

"Only Love Can Break Your Heart", Neil Young: Esta canção é típica do estilo de escrita de canções do Neil Young numa canção que é relativamente simples na sua essência, no entanto há muita coisa a acontecer. Adoro a forma como o Neil Young harmoniza com ele próprio naquela voz alta e chilreada que ele tem. A mistura stereo na parte em que ele canta “but only love can break your heart” é simplesmente perfeita. A natureza óbvia mas no entanto elusiva do tema das letras funciona comigo também; certamente ninguém pode viver o quebrar do coração a não ser que já tenha estado apaixonado.

"Satellite of Love", The Velvet Underground / Lou Reed: Adoro ambas as versões dos Velvet e do Transformer desta canção. O Bowie a fazer vozes na versão do Transformer também é um verdadeiro ovo da Páscoa também.

"Feeling Yourself Disintegrate", The Flaming Lips: O Wayne Coyne é, para mim, um dos primeiros praticantes do existencialismo positivo (se é que existe tal coisa) por aí, hoje em dia. A sua última visão do universo é ateia, gelada e de certa forma vazia. Mas será que este tipo fica todo sombrio e emo e depressivo? Não. Em vez disso adverte o ouvinte a valorizar o amor e a vida sob todas as outras coisas. As canções do Wayne lembram-me sempre uma das minhas citações favoritas do Kurt Vonnegut: “There's only one rule that I know of, babies—God damn it, you've got to be kind”.

"And You and I ", Yes:
Já é fixe gostar dos Yes de novo? Sou um enorme fã dos Yes desde que aprendi a tocar baixo nos tempos da escola secundária. Lembro-me de gostar muito dos Primus naquela altura e tinha lido uma entrevista com o Les Claypool em que ele falava do facto do Chris Squire ser uma das suas influências principais como baixista por isso achei que devida descobri-los. Fui ouvir o Fragile e nunca mais olhei para trás. Aqueles gajos são mesmo músicos incríveis, de fazer explodir a tua cabeça. Na boa, na boa, a melhor banda de rock progressivo de sempre. Alguém que pensa que os Rush são melhores precisa urgentemente de confrontar-se com a realidade. Já agora, façam a vocês um favor e vão ouvir a versão dos Grizzly Bear para a “Owner of a Lonely Heart.”

"Paranoid Android", Radiohead: Esta canção é tão estranha tanto musicalmente como nas letras. Tem, entre tantas outras grandes canções dos Radiohead, uma forma de automaticamente fazer-me sentir estranho, desconfortável até. Há algo de mesmo muito estranho e especial dentro da cabeça do Thom Yorke. Quero dizer, como é que alguém escreve uma canção como a “Paranoid Android”? Como é que começas sequer? Aparentemente ele disse um dia: "if you can have sex to this one, you’re fucking weird”.

"Abbey Road medley", The Beatles:
Vou fazer batota para conseguir enfiar tantas canções dos Beatles quanto possível. O medley no Lado B do Abbey Road vai desde “You Never Give Me Your Money” até “The End”. As secções mais incríveis para mim são a “Mean Mr. Mustard” e a “Polythene Pam”. Para vosso conhecimento, tentei mesmo muito não incluir os Beatles nesta lista mas não podia mesmo permitir a mim mesmo deixá-los de fora.

"Don’t Worry About the Government", Talking Heads: Tive o prazer de ver o David Byrne em Seattle recentemente na fila da frente. Deixem-me que vos diga, este homem é uma entidade singular no universo. Os álbuns dos Talking Heads produzidos pelo Brian Eno são os meus favoritos, mas esta canção do ’77 é fantástica. As canções são bastante o protótipo daquilo que eu penso acerca do David Byrne. Ele parece encontrar alguma coisa profunda nos peões.

"Gotta Get Up", Harry Nilsson: A canção perfeita a abrir o melhor álbum do Nilsson, Nilsson Schmilsson. A voz do Nilsson é muito possivelmente a melhor voz de todo o rock and roll. Já ouviram o alcance dele na versão dele da “Without You”? Selvagem. De qualquer das formas, os arranjos à volta do piano triturado nesta faixa é incrível; ouçam o acordeão no segundo verso. As letras são muito subversivas também: “He’d come to town and then he’d pound her for a couple of days”? Sheesh!

"God Only Knows", Beach Boys: O Paul McCartney está sempre a dizer que esta é a canção favorita dele de todos os tempos e eu estou totalmente com ele nesta. É definitivamente uma daquelas coisas em que a soma é maior do que a totalidade das partes. “God Only Knows” é quase uma propriedade emergente como a consciência: há algo de muito real e tangível no seu impacto emocional em muitas pessoas que não pode ser explicado pela progressão de acordes, pelas letras, pelo timbre vocal, etc., mesmo que todas sejam incríveis. Continua a ser o protótipo de escrita de canções na minha vida.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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