As dez melhores canções de sempre neste preciso momento #15 - Minta
· 13 Abr 2009 · 20:00 ·

Minta é Francisca Cortesão e o mesmo se podia dizer ao invés. Isto de escrever canções, por menos autobiográficas que sejam, implica sempre enfiar-se na pele do que dá a cara, do que assina. É preciso alguma coragem. Mesmo assim, Francisca Cortesão, a quem não falta coragem para mostrar canções ao mundo, hesita mais do que muito na altura de escolher as suas 10 melhores canções de sempre neste preciso momento - que não outro. Optou por isso por dar a esta rubrica um subtítulo simpático: "Dez dos meus duetos favoritos". Só para tornar a tarefa dantesca um pouco menos impossível. Estas são as suas escolhas.


© Vera Marmelo

O critério tem de ser assim, algo estranho, porque a alternativa implicaria decisões demasiado difíceis. Gosto demasiado de demasiadas canções para que escolhendo dez dessas como as favoritas não ficassem demasiadas favoritas de fora! Assim, escolho dez das músicas cantadas por duas pessoas que mais tenho gostado de ouvir nos últimos tempos.

1. "7/4 (Shoreline)", Broken Social Scene ft Feist: Gosto muito dos Broken Social Scene, e ainda mais da Feist. Das músicas que compõe e da maneira como canta seja o que for. Este "7/4 (Shoreline)" tem uma energia incrível, pela pulsação e pela maneira como a bateria e as guitarras transportam a música. Dá-me vontade de dançar! E é um dueto a sério, em que o Kevin Drew e a Feist reagem à voz um do outro, num ambiente de festa.

2. "Lua", Conor Oberst & Gillian Welsh: Este é o mais recente dos meus duetos favoritos. Está no Dark Was The Night. Tenho os discos todos da Gillian Welsh — adoro a voz, as canções e as harmonias que faz com o David Rawlings, que para além de ser um dos guitarristas de que mais gosto também canta muito bem — mas não conhecia o Conor Oberst. A música é linda, as vozes dos dois e as guitarras dos três casam mesmo bem e vale a pena ouvir a letra com atenção, é uma história que acontece muitas vezes.

3. "Hear No More", The Breeders: Foi a primeira música que ouvi do novo Mountain Battles, que é um disco à altura das Deal. Sou um bocado obcecada com toda essa "família" de Boston, dos Pixies e tudo o que surgiu depois, e sobretudo com estas irmãs. Os álbuns da Kelley Deal a solo são ambos maravilhosos. Nesta canção as Breeders reduzem-se mesmo às gémeas — vozes, contrabaixo e guitarra. Chega e sobra.

4. "Sin City", Beck & Emmylou Harris: Bela maneira que arranjei de matar vários coelhos com uma só cajadada! Em primeiro lugar, a vénia ao Graham Parsons. O country foi uma descoberta relativamente tardia para mim e comecei por este disco, Return Of The Grievous Angel: A Tribute to Gram Parsons. O amigo que mo emprestou, a quem eu tinha pedido o Grievous Angel propriamente dito, disse: «acho que é melhor ouvires primeiro as canções assim». E tinha toda a razão. Esta é a minha versão favorita do disco, é um lado do Beck que adoro, tem todos os bons clichés do estilo, do violino ao pedal steel, e ninguém bate a Emmylou Harris neste género de harmonias.

5. "Sometimes it Hurts", Tindersticks & Lhasa: Só prestei atenção aos TIndersticks bastante tarde, e nessa altura fiquei com pena de não ter começado a ouvi-los há mais tempo. Gosto muito do Waiting for the Moon, de que faz parte esta música. O Stuart Staples e a Lhasa são muito teatrais a cantar juntos, e isso funciona mesmo bem.

6. "Wages of Sin", Damien Jurado & Rosie Thomas (Bruce Springsteen): O Badlands: a Tribute to Bruce Springsteen's Nebraska é outro exemplo de um bom disco de versões de vários artistas. Gosto sobretudo deste dueto. É curioso, porque em separado as vozes do Damien Jurado e da Rosie Thomas não estão de modo algum entre as minhas favoritas. Mas é daqueles bonitos casos em que o todo é mais do que a soma das partes.

7. "Sand", Lisa Germano & OP8 (Lee Hazelwood): Muitas vezes conheço música de uma forma pouco correcta no que respeita à cronologia. Foi o que aconteceu com "Sand". Só há bem pouco tempo ouvi a versão original, do Lee Hazelwood com a Nancy Sinatra. É muito boa, mas continuo a gostar mais desta! Comprei este disco, Slush, assim que saiu — a Lisa Germano é das minhas maiores referências e devo a este disco ter ficado a conhecer a música do Howe Gelb. Aqui ela canta a parte que era do Hazelwood e ele a parte da Nancy Sinatra. É mais perverso e funciona igualmente bem.

8. "The Ballad Of The Beaconsfield Miners", Foo Fighters & Kaki King: Dueto de guitarras, um pouco de show off de dois "cromos", o Dave Grohl e a Kaki King. Descobri a música dela há uns meses, é viciante. Os Foo Fighters são uma banda de que gostei muito na adolescência e por quem continuo a ter alguma simpatia. Gosto desta música por causa do jogo entre melodias e por se conseguir ouvir o gozo que eles estão a ter a tocá-la.

9. "Bridge Over Troubled Water" Johnny Cash & Fiona Apple: Como toda a gente, ouvi vezes sem conta a versão original desta música, um dos duetos de que mais gosto entre Simon e Garfunkel. E também ao nomear esta música mato uns quantos coelhos! Adoro as versões que o Johnny Cash fez, conseguia transformar qualquer música numa música dele. E a voz dele é incrível. Incrível também é a maneira como combina com a da Fiona Apple, outra das minhas singer-songwriters de eleição. É um encontro de gerações lindíssimo, passe a lamechice.

10. "Sweeter", Julie Doiron & The Wooden Stars: O álbum que a Julie Doiron gravou com os Wooden Stars é um dos meus discos favoritos. Gosto imenso dos Wooden Stars e a Julie Doiron é uma das pessoas cuja música mais admiro e mais ouço. A colaboração entre eles — que aliás também se pode ouvir no The Moon dos Wooden Stars — é maravilhosa. As harmonias, sobretudo quando ela e Mike Feuerstack cantam "What can I do to make this change?" fazem-me arrepios. Ouvindo a versão original, que aparece no primeiro disco dela, Loneliest in the Morning, percebe-se quanto as músicas ganham com a energia dos Wooden Stars. E viva o Canadá!

André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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