As dez melhores canções de sempre neste preciso momento #9 - Tiago Sousa
· 14 Jul 2008 · 08:00 ·
Em Agosto 2006 um piano ter-lhe-á mudado a vida, como tantas as vezes objectos ou situações inesperadas mudam a mais impenetrável das existências. Mas qual será a porção de importância que cada um atribui às canções? Tiago Sousa sabe quais são as 10 canções que lhe ficaram na mente até hoje – e até nem demorou muito a dizer quais são. Amanhã já ninguém sabe, se calhar nem o próprio, mas hoje, vá lá, nos próximos 15 minutos, são aquelas que surgem nesta página, acompanhadas de explicações plausíveis. Ele que em 2008 lançou novo disco pela Resting Bell, quis deixar ao mundo a lista das listas, o património imaterial mundial que cada melómano possui.
 
© Vera Marmelo
 

Antes de mais um aviso. Não sou muito um tipo de "uma canção". Regra geral nem sei os nomes das canções (ou não canções) dos discos que mais gosto. Tendo a ouvir os discos como um todo, daí que esta tarefa me seja particularmente difícil e inevitavelmente estarei a relacionar as canções com os seus discos. Neste momento as 10 "melhores" canções que me ocorre referir, colocadas sem qualquer ordem, são estas;

"Winter's Love", Animal Collective: Foi durante muito tempo o meu "disco de cabeceira" e esta canção em particular é o paradigma perfeito para este disco, contagiante, solar e vibrante.

"Kuula", Lau Nau : Encantador, místico, assombrado e assombroso.

"Canto do Amanhecer", Carlos Paredes: Expoente máximo da música portuguesa, apesar de ser um instrumental e isso não ser normalmente associado a uma "canção", é de canções que trata Paredes. Canções com cenários muito claros e um imaginário muito vincado e que inevitavelmente dirá sempre muito a qualquer português de bom gosto.

"A Formiga No Carreiro", José Afonso: Para mim o melhor escritor de canções português, em particular nos discos "Venham Mais Cinco" e "Cantigas de Maio". Canções muito simples na sua forma, muito ricas no seu conteúdo, retrato social que aos dias de hoje parece ter muito menos carga "politica" do que provavelmente se pensaria à data. Quanto a mim Zeca Afonso é acima de tudo um narrador de histórias sobre um povo cheio de defeitos e virtudes.

" Gnossienne 4, Lent", Erik Satie: Talvez também não seja aquilo a que normalmente se chame canção, mas se houve alguém com uma capacidade de escrever canções absolutamente únicas, num tempo em que dificilmente se pensaria na música desse modo, foi sem dúvida Erik Satie. Cortando com os standards eruditos da época escrevia pequenos trechos musicais, desenhos melódicos absolutamente perturbantes e que exercem um fascínio incontornável sobre mim.

"La Fin de L'inertie a Pretty Bee", Half Asleep: Passa quase despercebida no frenesim da música independente europeia mas para mim é uma das compositoras mais fascinantes. Escreve canções soturnas, noctívagas, de uma carga emotiva que transparece toda a sua intimidade com a música.

"Within the Quilt of Demand", Shannon Wright: Se me pedissem para apresentar a música da Shannon a alguém, certamente que lhes mostraria esta canção. É uma síntese perfeita de tudo aquilo que transporta na sua música, harmonias desencantadas, guitarra em riste, cadências lentas em pequenas cadências agri-doces.

"O True Believers", James Blackshaw: Canção celeste.

"Bind Them", Religious Knives: Foi o meu amigo Rui Dâmaso quem pela primeira vez me mostrou isto e graças lhe sejam dadas, é um belo disco. Imaginem que o Terry Riley caiu no caldeirão entrou em tripe Lo-Fi e fez um disco.

"Echo All ACoustically Correct", Ignatz: Para mim este continua a ser o disco do Ignatz que mais me marcou. A sua abordagem despojada, amante do lo-fi, que o transporta até um caminho menos racional na construção de pequenos peças musicais - ou canções, como lhe queiram chamar - mostrou-me um mundo novo.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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