7 maravilhas sonoras de 2007
· 02 Jul 2007 · 08:00 ·
© Teresa Ribeiro

À passagem do primeiro semestre de 2007, já se amontoam as novidades chegadas aos escaparates este ano. Para não andarmos à nora atrás de lançamentos e mais lançamentos, importa fazer uma triagem que separe os inconsequentes dos registos que se apresentam como verdadeiros monumentos. Partindo do conceito das Sete Maravilhas difundido pela televisão e nas vésperas de se conhecerem vencedores, deixamos aqui possíveis nomeados para “maravilha do ano 2007”, no campo discográfico. A variedade de critérios juntou na nossa lista sonoridades que vão do jazz à electrónica, passando por guitarras proeminentes ao bom estilo pop/rock, mas sem se renderem à banalidade subjacente ao estilo. Da mesma forma, tanto privilegiamos estreias arrojadas como regressos inspirados. Sugestões que chegam como alternativa ao comando da televisão. EUGÉNIA AZEVEDO

Dinosaur Jr. Beyond
2007
PIAS / Edel

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http://www.dinosaurjr.com
http://www.myspace.com/dinosaurjr
http://www.pias.com
http://www.edel.de

Em 2005, a noticia do regresso dos Dinosaur Jr. (ainda por cima na sua formação ideal) animava as hostes dos amantes de guitarras. Tudo aconteceu para promover a reedição de três álbuns de outros tempos mas havia algo mais a dizer: Beyond não é de forma alguma, como muitas vezes acontece nas reuniões de família (escutar por favor o regresso triste dos Stooges em álbum), num disco desnecessário e dispensável. Beyond cai na discografia dos Dinosaur Jr. melhor do que a cereja em cima do bolo. J. Mascis está em óptima forma e Lou Barlow não lhe ficará atrás: a escrita de canções é quem ganha com o bom momento do trio completado, como não, por Murph na bateria. São bastantes as provas para declarar Beyond como o melhor disco de guitarras do ano: “Almost Ready” logo a abrir, “Pick me Up”, e especialmente “It’s me” (senhora de um riff colossal), contêm níveis suficientes de excitação para considerar de grande importância para o ano que corre o regresso dos Dinosaur Jr., que se recusam a ostentar o epíteto de seniores. Haja cordas que aguentem guitarras assim tão insubmissas. Mesmo quando não são assim tão insubmissas, as guitarras não deixam de brilhar neste Beyond, em temas como “We’re not alone”, com selo de garantia de qualidade ”Dinosaur Jr.”. Ainda existem regressos assim. ANDRÉ GOMES

Original Silence The First Original Silence
2007
Smalltown Superjazz / AnAnAnA

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http://www.smalltownsupersound.com
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O que se pode esperar de um supergrupo que reúne alguns dos nomes grandes do free jazz contemporâneo com figuras maiores do rock mais experimental? Uma grande sessão de improv-rock-free-jazz, está claro. Eles são muitos e são todos bons: Thurston Moore (o tal da velhinha “juventude sónica”), Jim O'Rourke (o génio), Terrie Ex (dos free-punks The Ex), Mats Gustafsson e Paal Nilssen-Love (camaradas nos The Thing) e Massimo Pupillo (dos italianos Zu). Juntos comandam uma massa sónica que nunca é previsível, que aglomera o saxofone free com as diversas guitarras em desvarios sónicos, que se transfigura em crescendos, espasmos sonoros e passagens quase “noise”. Energia em estado bruto, esta gravação é representativa do melhor que a improvisação livre tem para oferecer - interacção, dinâmica de grupo, criatividade, força. Mostrando uma rara transversalidade, não há por aqui o silêncio do título, mas compensa-se em originalidade: não é free jazz, não é rock, não é noise, não é improvisação não idiomática - é tudo em simultâneo. E não é pouco. NUNO CATARINO

Voxtrot Voxtrot
2007
Play Louder / Popstock!

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http://www.voxtrot.net
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Fruto de uma internet que, cada vez mais, dita leis no que à música diz respeito, o fenómeno que trouxe à ribalta os Voxtrot é de assinalar. A história tem a sua génese no já habitual burburinho que se gera no seio de cibernautas atentos, que descobrem cerca de duas dezenas de faixas que foram materializadas em singles de sete polegadas e três EPs. Originalmente de difícil acesso, o material gravado não é propriamente de uma criatividade desconcertante. Tal como não o é o longa-duração que agora apresentam. O que salta à vista é a improvável conjugação de influências, que ora nos remetem para a elegância de uns Belle & Sebastian, ora nos impõem o que de mais imediato o rock pode oferecer. Chamem-lhe derivativo, evocativo, o diabo a quatro. Quem disse que não há mérito em reinventar e coser tecidos diferentes? É o que faz a seu belo prazer esta formação oriunda do Texas, que marcará presença, ainda este mês, no festival da Pitchfork, um dos mais eficazes veículos de promoção na internet de bandas emergentes como os próprios Voxtrot. "Steven" é o single de avanço que espreita uma estrutura melódica distante de faixas como "Kid Gloves", "Firecracker" ou "Brother in Conflict", todas a ter em conta. A desarmante polivalência do pop/rock mora aqui e consta que se fará ouvir por todo o lado em breve. EUGÉNIA AZEVEDO

The Sea and Cake Everybody
2007
Thrill Jockey / Dwitza

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http://www.theseaandcake.com
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Preza-se toda a estabilidade que mantenha Sam Prekop incumbido de aproximar-se ao seu muito gradual ritmo de uma pop refinada que ilumina os dias. Todos os dias inclusivamente partilhados com todos os dispostos a vivê-los. Prekop e os Sea and Cake voltam a demonstrar em Everybody o rol de qualidades low-profile que os estabeleceram como nome de enorme tradição no catálogo da Thrill Jockey. Qualidades que florescem essencialmente de ideias que muito naturalmente se associam a Everybody: a manutenção da linearidade pop não implica restrições dogmáticas (talvez por isso, em relação ao último One Bedroom, os sintetizadores tenham desaparecido), a melodia é uma ciência em aberto (que permite até a inclusão do deslumbrante funk ligeiro de “Middlenight”), a música dos Crowded House seria mais subtil do que os telediscos que os promoviam. Everybody aglomera espontaneidade para, depois, estendê-la como passadeira vermelha ao desfile de detalhes (nas guitarras) e elegância artística de quem a transpira. Mais maravilhoso será o Verão de quem o tiver sempre à mão de semear. MIGUEL ARSÉNIO

Flower/Corsano Duo The Radiant Mirror
2007
Textile Records

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http://textilerec.free.fr

A união de Chris Corsano, provavelmente o mais requisitado baterista do underground actual, e de Mick Flower, dos velhinhos e essenciais Vibracathedral Orchestra, corresponde totalmente às expectativas criadas pela soma dos dois nomes. Gravado ao vivo, The Radiant Mirror junta, em três longas incursões, a bateria fervilhante de Corsano (que surge mais contido do que noutros registos) e o banjo japonês de Flower, que lembra um cruzamento entre uma sitar e uma guitarra eléctrica. Em “Earth”, a qualidade eléctrica do instrumento é particularmente sentida: Flower vai construindo uma rede sonhadora, enquanto o tentacular Corsano explora cada peça da sua bateria, num crescendo de intensidade. Mais meditativa e com Corsano a deixar a bateria e a dedicar-se à percussão manual, "Wind" aponta ao transe, patente sobretudo no respirar circular do banjo, no final da peça. Do outro lado do vinil, "Fire" completa a tríade de elementos da Terra. Com quase 20 minutos, abranda o ritmo, deixando espaço para nervosas irrupções da bateria. Misto de intensidade rock e trip espiritual oriental, The Radiant Mirror será presença habituais em muitas listas dos melhores de 2007. PEDRO RIOS

Matthew Dear Asa Breed
2007
Ghostly International

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http://www.matthewdear.com
http://www.myspace.com/matthewdear
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Matthew Dear tem feito da quebra de paradigmas o seu principal objectivo enquanto produtor. Seja através da escrita em nome próprio ou encapuçado de Jabberjaw, False ou o mais mediático Audion. Será dos poucos que tem uma visão própria do que um techno inspirado pode fazer pelas linguagens electrónicas mais despojadas. Retirando a faceta mais imediata de um techno funcional e desenhado para as pistas, Matthew disponibiliza-se como poucos neste Asa Breed a actualizar a visão modernista dos princípios que regeram a acção pop de Brian Eno, dos Talking Heads, de Beck, de Nick Cave e até mesmo dos legendários Kraftwerk.
Do Michigan chega o perfeito exemplo da extraordinária capacidade de estruturar pequenas canções pop – algumas a sonhar com o Verão – e simultaneamente promover o lado mais hedonista da música. No início Dear propõe-se a desbravar os ideais tech-house que orientaram a música nos dois primeiros discos – especialmente Backstroke (2004) – para depois dedicar-se à eloquência de uma tech-folk camuflada, quente e inspirada. E à medida que caminhamos para o fim perdemos um pouco a noção do papel que o techno ou o house desempenham. Mas no gume entre a especulação da gramática pop, o experimentalismo high-tech – umas vezes iluminado, outras soturno – e o prazer de fazer boa música, encontra-se a mais-valia que realmente trás ao mundo um facto estético capaz de devolver clarividência à humanidade. Uma das poucas maravilhas de 2007. RAFAEL SANTOS

Shining Grindstone
2007
Rune Grammofon / AnAnAnA

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http://www.shining.no
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Um imemorial saber oriental garante, sem lugar a dúvidas, que o mundo se divide em dois grupos de pessoas: aqueles que gostam de ouvir as palavras “metal” e “jazz” na mesma frase e aqueles que não gostam. Os Shining, colectivo norueguês que partilha membros com os Jaga Jazzist, parecem ter começado a fazer música para destituir aquela ideia do grupo de ditos feitos. Grindstone, quarto tomo dos escandinavos, não é propriamente novidade no que a isso toca. Mas se em alguns temas as guitarras pesadas estão pejadas de numerosos riffs mais dominantemente presentes que os ambientes jazzísticos, se noutros a verve metaleira é senhora de si , ainda outros há onde a fusão se distribui em doses equitativas. Disperse-se “In The Kingdom Of Kitsch You Will Be A Monster” e “Moonchild Mindgames” num longo conjunto de músicas aleatórias, por exemplo, e dificilmente se perceberá que têm sangue de irmãos. A cacofonia jazzística, dissonante e cujos vozeios antevêem ligeiras perturbações mentais, da segunda faixa mencionada, quase nada têm que ver com a primeira, que se constrói a toque de torpedos e artilharia pesada. Refere-se, repetidas vezes, a coerência de um álbum como uma das suas maiores vértebras e Grindstone, embora disfarce bem, tem também na sua multiplicidade uma coerência à prova de bala. TIAGO GONÇALVES


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