O Som e a Imagem
· 29 Set 2002 · 08:00 ·
Entre Maio e Julho tive de conceber, juntamente com dois colegas da universidade, um trabalho de investigação e especulação sobre a relação entre diferentes media e/ou meios de expressão. Era um trabalho colectivo em que se focavam três aspectos, três momentos da relação, em concreto, do som e da imagem : Mondrian e o Jazz [ o pintor e a inspiração concreta da sua obra na música; metáforas musicais aplicadas à pintura, como o ritmo ou a composição ] ; Kandinsky e Schöenberg [ o pintor e o músico; simbiose de conhecimentos, equivalência de estilos e relação entre pintores e músicos de uma mesma era; duas expressões distintas mas complementares ] ; Multimédia e suas raízes [ a Arte como um todo; o fenómeno contemporâneo do multimédia, conjugado com o pensamento pós-moderno, oferecendo ao espectador um leque cada vez maior de emoções, abrangendo diversas formas de expressão, e suas raízes – artísticas, não técnicas, obviamente – no dadaísmo e no futurismo, ou seja, no pensamento modernista ].

Tudo isto para dizer que a conjugação da música com as imagens não se esgota nos videoclips despidos e aeróbicos da Shakira ou da Britney Spears. Por outro lado, embora quer a Música quer a Pintura valham por elas mesmas, são frequentes os casos onde são conjugados de forma positiva. Mais: no contexto contemporâneo, faz cada vez mais sentido analisar a Arte como um todo. Uma Arte cada vez menos estanque, onde uma pintura possa corresponder a uma música. Onde um poema possa corresponder a um som. Onde de um cheiro se possa fazer um ritmo, de uma cor uma palavra. Tudo pode ser Arte.

O espectador da Arte espera que esta o envolva, o ataque, o penetre – e por isso espera que ela se mostre em todas as suas áreas, que a Arte esteja em todos os sentidos. Por isso vale a pena interrogarmo-nos: até que ponto a pintura é mais nobre que uma instalação que aborde os cheiros, ou até o sabor? O que distingue a profundidade de uma obra de Arte não é a forma, ou o fim: é o seu início, a conceptualização, a intenção com que foi produzida. Um cheiro, um som ou um toque podem ser tão nobres como uma linha. No fim da investigação, conseguimos perceber que esta relação interdisciplinar não passa afinal da tentativa de tornar realidade uma velha aspiração romântica: o conceito de Arte Total.

O interesse por uma expressão polifacetada não é novo, e nasce com o Modernismo. No entanto, a questão do desenvolvimento tecnológico, com os mercados económicos que lhe estão associados, acaba por potenciar o desejo do indivíduo de estar apto a comunicar por mais do que uma via. O que nos remete para os videoclips, que possuem uma força imensa na forma como a mensagem inerente à música é transmitida; como um vídeo da Björk é diferente de um da Shakira.

Podia navegar durante muitas páginas pela problemática do som versus imagem, mas o que me interessa focar é a força com que a mensagem é transmitida – a eficácia da comunicação, é disso que se trata. E a imagem transporta uma força irresitível.
Nuno Cruz

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