Topes 2010
· 14 Dez 2010 · 00:48 ·

Top 2010 · Top Portugueses 2010 · Topes Individuais · Momentos 2010 · Topes Ilustres

© Teresa Ribeiro


 

30

These New Puritans
Hidden
Domino

Qual foi a última vez em que caíram de pára-quedas num concerto? Em que foram às cegas, convidados por alguém ou porque vos ofereceram o bilhete? Lembram-se? Muito bem. E nessa situação, ou noutra, acontecida previamente, foram arrebatados por quem pisava o palco? De tal forma que não descansaram enquanto não ouviram tudo o que o artista produzira até à altura? Já? Óptimo! Foi isso que me aconteceu quando, há pouco tempo, vi These New Puritains no Music Box. Até essa data eram-me anónimos. Vi-os por um misto de acaso e sorte – uns amigos iam e picaram-me; o concerto estava esgotado, mas fui na vez de quem à última não pôde ir –, e fiquei agarrado a este produto sintético vindo de Inglaterra como um junkie ao cavalo. O último álbum destes rapazes é escuro e denso, mas dá vontade de dançar em tronco nu, debaixo das luzes duma sala de espectáculos ou duma festa que tanto passe música alternativa como hip hop, dancehall ou Joy Division. Esta mistura é droga dura. HRP

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29

Sufjan Stevens
The Age Of Adz
Asthmatic Kitty

Sufjan foi ao seu próprio baú electrónico de Enjoy Your Rabbit e de músicas dispersas por álbuns anteriores para ir mais longe e construir talvez o seu álbum mais audacioso. Há algo de "entrou na modinha" neste disco, se calhar mais no dançável (e excelente) "I Walked", mas o seu talento vai além do mimetismo, e sem nos dar nada assim de novo, novo, este opus que atravessa melodias e processos nada alheios a obras sublimes como Yoshimi Battles The Pink Robots ou Merriweather Post Pavillion tem, sem dúvida, o toque mágico e pessoal de Sufjan. Sem banjos mas sempre embrulhado em coros femininos, em tons épicos que intensificam a sua mensagem, desta vez não temos um estado dos E.U.A. mas um estado de espírito: cada música é um "Being" Royal Robertson em que entramos na cabeça do conturbado artista norte-americano. Um homem cuja esquizofrenia deu-lhe para desenhar e pintar inúmeros ambientes e robots estranhíssimos (como o da capa), um Henry Darger sci-fi, personas sui generis tão ao gosto do psicólogo-bardo-mor Sufjan. NL

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28

Pantha du Prince
Black Noise
Rough Trade

O produtor de techno alemão Hendrik Weber compôs música sob diversos alter-egos, nomeadamente Glühen $ e Panthel, até se distinguir como Pantha du Prince na Dial de Carsten Jost e Lawrence (sediada em Hamburgo). Discos pautados por minimalismo soturno e cerebral, dir-se-ia que inspirados no caminho aberto por Isolée, Diamond Daze (2004) e This Bliss (2007) granjearam-lhe profunda admiração entre os apreciadores mais segmentários. Com "Black Noise" dá-se a metamorfose criativa, das margens do techno para o quase-centro da electrónica de tonalidade indie, já com o selo da Rough Trade e convidados especiais como Tyler Pope dos !!! e Noah Lennox dos Animal Collective. Permanecem as texturas minimais, cerebrais, mas mais luminosas, adoptando o formato de canção e introduzindo letras orelhudas. Sem dúvida um dos melhores momentos do ano. GS

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27

Neil Young
Le Noise
Reprise

Fica sempre algo por dizer do monstro que é Neil Young; de facto, só o mero pensar em escrevê-lo é suficiente para causar um tremendo arrepio naquele a quem foi delegada tal função, como se estivesse a lidar com algo de bíblico, sagrado, impossível de medir pela mão humana. Não podia haver melhor título para um dos álbuns mais ruidosos da carreira de Young. Mais que nunca, aquela guitarra faz estremecer o horizonte, transporta-nos para locais insondáveis. Ele chama-lhe folk metal; nós não queremos pensar nos Agalloch e sim nos Spacemen 3 (mas isso é um absurdo, uma impiedade, comparar Young a alguma coisa). Do ruído não retiramos apenas fantásticos temas como "Walk With Me" ou "Hitchhiker", mas também a beleza acústica de "Love And War", séria candidata a canção do ano. Se por vezes somos impelidos a sentir pena da sua solidão, logo nos lembramos de que o monstro não precisa de amigos; precisa do rock n' roll. PC

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26

Keith Fullerton Whitman
Disingenuity b/w Disingenuousness
Pan

Quando a discrição impõe um esquecimento momentâneo que já vinha de 2006, seria pouco expectável que este ano ficasse marcado pela proficuidade do Keith Fullerton Whitman. De uma saudável enxurrada de lançamentos mais ou menos rafeiros, Disingenuity / Disingenuousness elevou-se bem acima de quase tudo aquilo que foi feito em terrenos mais ou menos exploratórios ao longo de um ano parco em acontecimentos relevantes. Fruto de uma capacidade notável de reinvenção, Disingenuity / Disingenuousness não se trata de um passo em frente numa carreira plena de momentos marcantes, e cuja organização interna não pressupõe um movimento crescente. Antes uma rede complexa de interacções da melhor tradução possível do som em estado puro. Poluída (elogio) pelo savoir-faire inconformista do músico norte-americano, a realidade contida na matéria-prima para esta edição da Pan Records assume contornos deslocados no tempo e no espaço, enquanto humaniza todo este processo. Uma aparente dicotomia afável que reconhece o peso histórico de todo o legado que a precede, ao mesmo tempo que pode deixar cair qualquer conjectura analítica para se assumir simplesmente como Música. BS

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25

Broken Social Scene
Forgiveness Rock Record
Arts & Crafts

Eles que nunca foram de fazer maus discos (longe, longe disso – nem nada que se pareça), conseguiram com este Forgiveness Rock Record, e com alguma surpresa (pelas escolhas, pelo risco que correram), assinar aquele que é o melhor disco até à data destes gigantes indie do Canadá. Conseguiram superar-se e isso nos dias que correm é melhor que um pau nas costas e mais raro do que o que parece. Como é que é possível resistir aos encantos óbvios de canções como "All to All" ou "World Sick" e não achar que os Broken Social Scene contribuem para um mundo melhor, ou pelo menos para uma redução drástica dos dias menos bons? Indie rock de primeira linha, canções cozinhadas com amor e sem cinismos, um disco que corrido do início ao fim raramente ou nunca perde balanço – não há aqui lixo nem pãozinho com manteiga para encher. "Forced to Love" é mais um dos hinos num disco repleto de canções para cantar a plenos pulmões. Toma lá Arcade Fire. AG

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24

Jim O' Rourke
All Kinds of People ~love Burt Bacharach~
AWDR/LR2

All Kinds of People ~ Love Burt Bacharach é a assumpção mais descarada de sempre de um amor que há muito reconhecíamos em Jim O`Rourke. Desde Eureka que era notório o fascínio do génio de mau feitio pelos arranjos luxuosos do senhor (também ele genial) que fez da pop algo tão elementar quanto indecorosamente faustoso. Já existia a versão para "Something Big", mas desta feita, Jim O`Rourke foi mais longe na diversão e tratou de contactar alguns amigos ilustres para se juntarem a esta festa com vistas largas. Talvez seja, e como o disse Miguel Arsénio uma necessidade de "espairecer e sofrer alegremente novos danos pop num estatuto que é cada vez menos baseado no seu passado experimental". Façanha que, vinda de alguém com um passado tão rico, seria ainda mais louvável, não lhe fossem já sobejamente conhecidas propriedades miraculosas para a confecção de objectos tão deliciosamente cantaroláveis quanto tecnicamente intrincados. Sem resvalar para o desconstrutivismo, é a natureza de O`Rourke a fazer de All Kinds of People ~ Love Burt Bacharach o melhor disco de festa-tributo possível para qualquer ocasião. Nem poderia ser de outro modo, quando é de Burt Bacharach que se trata. BS

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23

The National
High Violet
4AD

É viável reconhecer nos National a capacidade de participar activamente na vida emocional de quem os escuta com atenção. Do alto da sua sofisticação, High Violet não podia ser mais prodigioso como conjunto de canções capazes de mover as pessoas. É um daqueles discos que quase fala como um Deus (para quem crê, claro). E, a partir daí, o mais difícil é desobedecer ao mandamento das suas grandes orquestrações ou sequer passar ao lado da bateria de Bryan Devendorf (um fenómeno digno de uma avaliação isolada). Não admira portanto que os National possam também ser culpados pelos impulsos que constroem ou derrubam relações afectivas. Assim que ganha a posição, com as escutas repetidas, High Violet é demasiado imponente para ficar à porta de casa sem entrar. MA

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22

The Black Keys
Brothers
Nonesuch / V2

2010 foi ano de poucos meninos. Afinal de contas, não foram poucos os artistas e bandas que voltaram com mais um disco e faixas que contribuem, a cada registo que passa, para revitalizar o som e a imagem de cada um. Os Black Keys não fugiram à regra e trouxeram-nos Brothers, o seu sexto disco de originais. Só que esta é também a sua melhor aparição, num álbum que percorre diversas formas de entender e expor o blues rock. Não só porque já iam na sexta cartada mas sobretudo porque se trata dum género revisitado e que teve em Hendrix o seu apogeu. Mas como aqui não há meninos, os norte-americanos deixaram os legos em casa e construíram aquele que foi um dos melhores acontecimentos de 2010, que ao longo de 14 guitarradas nunca chega a aborrecer. Por isso, só lhes temos a agradecer e a pedir o favorzinho de fazerem mais destas da próxima vez que decidirem sair da toca. SM

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21

Best Coast
Crazy For You
Mexican Summer

O retro está na moda e era inevitável haver também uma releitura dos anos 90, depois de tantas em cima das décadas anteriores. Crazy For You é a releitura ninety's nineteens de Bethany Consentino, que sai do experimentalismo dos Pocahaunted para uma vertiginosa corrida ao ouro do indie e do grunge no tempo em que a MTV ainda lhe dava destaque, longe do monopólio dance/hip hop/r&b de hoje. Canções imaculadas de beleza simples, road movie em mapas de guitarras, ouvidas antes nas Breeders, The Amps, Velocity Girl, Throwing Muses, Babes in Toyland, Veruca Salt e sem dúvida nos That Dog (obrigado Miguel Arsénio, tens toda a razão). Bandas com denso toque feminino que Bethany consegue rivalizar com a sua voz potente, sexy, que se torna cereja em cima de cada bolo melódico, ao sabor do viciante doce e agridoce de cada canção. Um recheio fabuloso e nada enjoativo de temas em torno do verão eterno da juventude, o que torna esta música estival em algo 4 estações, que viverá tão bem em 2011 como viveu este ano que acaba. Nathan Williams: a tua miúda é qualquer coisa! NL

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30-21 | 20-11 | 10-1


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