Topes 2010
· 14 Dez 2010 · 00:48 ·

Top 2010 · Top Portugueses 2010 · Topes Individuais · Momentos 2010 · Topes Ilustres

© Teresa Ribeiro


 

10

Long Way to Alaska
Eastriver
Lovers & Lollypops

Chegou mesmo mesmo no final das colheitas, no encerrar da temporada fiscal, mas mesmo assim a tempo de ser vindimado. O disco de estreia dos Long Way to Alaska, depois de um EP que muito deu que falar por aí, confirma bastante daquilo que as suas canções embrionárias prometiam. Confirma além disso uma muito apreciável sensibilidade pop vinda de Braga e que, no futuro, pode ir para onde muito bem quiser. Em Aljezur, em Leiria, em Barcelos, Gondomar ou em Los Angeles, "United Colors of Patapon" é uma óptima canção que celebra ao mesmo tempo a pop (sem vergonhas) e a vida enquanto uma cena não assim tão má para se levar. Do EP de estreia resgataram as belíssimas "Bad Bears" e "Sicilian" (não sabemos já se é uma relação ou se é complicado) porque valia totalmente a pena que tivesse uma segunda vida. Se não me falha o GPS, a distância entre Portugal e o Alaska é agora um bocadinho mais curta. AG

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9

Black Bombaim
Saturdays And Space Travels
Lovers & Lollypops

Milhões de fuzz. Milhões de drive. Milhões de tampões – milhões de surdez para quem não o fizer. Milhões de válvulas. Milhões de tarolas a partir tudo. Milhões de crashes a partir ainda mais. Milhões de riffs. Milhões de alma. Milhões de reverb quando o solo pede. Milhões de Black Sabbath. Milhões de Jimmy Hendrix. Milhões de colhões, porque sem eles não havia nada disto. Milhões de improvisos. Milhões de Jimmy Page. Milhões de rock, foda-se! Os Black Bombaim são de Barcelos, cidade que acolheu o Milhões de Festa. Milhões de deambulações. Milhões de orações. Milhões de sábados e viagens no espaço. Milhões de suor. Milhões de psicadélico. Milhões de força nos braços. Milhões de acordes – ok, só uns três ou quatro. Milhões de efeitos. Milhões de tempo numa só música. Milhões de groove. Milhões de apreço pelos Black Bombaim, que fazem do melhor rock que cá temos. SM

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8

Octa Push
Baluba EP
Optimus Discos

Num ano em que muita música electrónica mais ou menos dirigida ao corpo se recolheu ao abrigo de uma expressão tão abrangente quanto sofrível como Global Bass, também o burgo fez o seu disco de pleno direito a figurar no lado certo da trincheira. Baluba nasce em Carcavelos mas passeia-se por todo o lado (é isto que querem dizer com Global?) e é num contínuo com o melhor que se tem feito numa realidade já pouco preocupada com o lado bovino do Dubstep que vai alinhando as melhores propriedades para as ancas sem recurso a águas termais. Com Baluba os manos Dizzycutter e Mushug amplificam as indicações deixadas em Deixa enquanto apontam para o futuro. Por entre o frenesim de coordenadas dispersas, tudo conflui naturalmente para a batida enquanto fim último. Recolhê-las não exige um esforço mental, antes o abandono necessário para que tudo seja celebração. E é disso que o meu povo gosta! Ou devia. BS

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7

Linda Martini
Casa Ocupada
Lisboagência / iPlay

"Eu vou queimar tudo o resto, fingir que presto para te levar, se eu não ficar foi o tempo, que não nos disse quando parar." Os Linda Martini não pararam em 2010 e conseguiram o feito de superar Olhos de Mongol. Com grandes canções como este "Elevador", sem preconceitos em torno das suas influências (sim, muito Sonic Youth), com a sua portugalidade a trazer algo novo. Sónicos sim, mas tugas. Um som que luta com a força de um "Belarmino" ou de uma "Mulher-a-dias". Um retrato da "Juventude Sónica" no país que não sai da crise. E claro, há um lado muito post-hardcore na sua vertente mais sónica, lá está. Se calhar para eles é até algo que sai de forma inconsciente, mas ouvir Linda Martini põe-me sempre a pensar como seria Red Medicine dos Fugazi ou o homónimo dos Drive Like Jehu na língua de Pessoa e Camões. NL

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6

Ride
Psychedelic Sound Waves
Rockit / Flur

É nosso. E é um talento. Até pode continuar a procurar um estilo autoral que defina de vez a sua sonoridade. Mas do que se trata é de um processo, natural num criativo, de encontrar o seu próprio veio artístico. De se expressar musicalmente, de transmitir um propósito para a sua arte. Assim o tem feito. Psychedelic Sound Waves prova que tem um plano para o futuro. E já nem vale a pena andarmos às voltas com a questão Ride DJ ou Ride produtor porque profissionalmente ele próprio já entendeu que entre o live proformer e a função de produtor de música há algumas diferenças, no mínimo nos estados de espírito. Percebe-se com este último disco que Ride deve ser tomado a sério, que, e para além do prazer da brincadeira de experimentar novo equipamento, há uma alma, uma mente capaz de ter uma visão mais ampla da música (onde declaradamente já se insere), que tem um enorme capital como estudioso do som. Sim, é um talento com capacidade de abrigar os princípios elementares do hip-hop (com os velhos ensinamentos dos turntablism cravados no carácter), mas, amplamente, abraçar o dubstep, as ciências do drum & bass e do breakbeat e, tudo o que vier à mão como matéria-prima para samplar, como ferramentas úteis. Nós gostamos dele, não por ser um tipo porreiro - que o é, e já falamos com ele algumas vezes -, mas porque gostamos da determinação criativa que tem num país muito indie, que gosta de batidas para curtir, mas que se está a cagar para o trabalho que elas dão a fazer. RS

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5

Tiago Guillul
V
FlorCaveira

V é um disco com falhas (como "São sete voltas para a muralha cair", o dispensável primeiro single), mas o seu charme está também aí. Tiago de Oliveira Cavaco, na versão de altar, e senhor Guillul, na versão de palco, atira-se a todas: samples RTP África em "A febre em 1993", pop-rock sem espinhas com mensagens bonitas ("Canção para a Maria não furar as orelhas"), uma amorosa dedicatória (a Deus?) em "O Meu Carcereiro", homenagens ao período áureo dos GNR ("Nabucodonosor", com o próprio Rui Reininho), power chords hard rock metidos com órgão de igreja suburbana ("Agora"), odes à "Barreiro Rock City" com um homem que sabe do assunto, Nick Nicotine, e mais canções de bons sentimentos. Tiago Guillul é um caso sério. PR

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4

Gala Drop
Overcoat Heat
Golf Channel / Mbari

Caiu na recta final do ano e abre o apetite para um próximo álbum dos Gala Drop. A banda abraçou em definitivo o ritmo e opera uma síntese miraculosa entre o krautrock mais propulsivo, alguma electrónica (Gavin Russom, por exemplo), guitarras que denunciam muito digging de música africana, dub e a out-pop dos Animal Collective. Música de dança tocada por uma banda de rock com currículo na experimentalia (e também na música de dança – é ver a ascensão de Tiago Miranda enquanto produtor), Overcoat Heat desenrola-se pelo menos ouvidos como um objecto sem paralelo na música moderna - em Portugal e no mundo inteiro. PR

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3

PAUS
É Uma Água EP
Enchufada

Se alguém dissesse no ano passado que um dos discos portugueses do ano seria de uma banda com dois bateristas, ninguém acreditaria. É que piadas sobre bateristas há muitas, e com razão. Só que a teoria não interessa perante uma prática destas. As descrições são meramente indicativas, mas imagine-se uns Battles portugueses vindos do mundo do hardcore, com letras em português que não soam mal, baixo e teclas quase kraut/prog (quando o baixo não é arrastado) e um índice de dançabilidade elevado. São, sem sombra de dúvida, a melhor banda portuguesa para ver (e dançar ao som de) ao vivo (ou, pelo menos, a melhor nascida este ano) simplesmente magníficos, e esse é o maior defeito que se pode apontar a É uma Água: não é um concerto. Tirando isso, o disco torna as piadas sobre bateristas supérfluas e prova que, com uma bateria siamesa, um baixo, teclas e uns quantos centímetros de barba se pode ir muito, muito longe. RN

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2

Orelha Negra
Orelha Negra
Arthouse

Em primeiro lugar: dou grande valor ao que o “super-quinteto” de Sam the Kid, Fred Ferreira, Francisco Rebelo, João Gomes e DJ Cruzfader fez neste capítulo inicial duma história que espero venha a ser de aprofundamento e abertura. “Aprofundamento” das raízes presentes nas composições e da vontade em investir na vertente live, quase rock n’ roll – que não cabe na rodela analógica ou no ficheiro digital. Abertura – a novos horizontes e sonoridades que façam deste um projecto (ainda) mais original, não só no panorama interno como eventualmente internacional. Não é por acaso que este disco e o do (subvalorizado) Rocky Marsiano entram nas minhas preferências de 2010. Vão ambos beber, em boa medida, às mesmas fonte, reciclando-as com novas e sedutoras vestes. E são compostos por músicos invejáveis. A estreia da Orelha Negra foi bastante auspiciosa. Talvez não seja a tal viagem ao futuro anunciada na faixa 7… mas Roma e Pavia também não se fizeram num dia. HRP
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1

B Fachada
Há Festa Na Moradia
Mbari

Além de disco artilhado com sete magníficas canções, Há Festa na Moradia é um manifesto de ocupação, uma bem pensada artimanha colonial nos temas e nas referências musicais. É económico: bastam-lhe 23 minutos para consumar uma estrondosa empreitada de ritmos africanos, repetições viciantes e versos venenosos para entreter os teóricos e os inimigos de B Fachada. E é assim que Lisboa enche a barriga, porque a cidade, durante este ano, teria sido um lugar mais cinzento sem estas canções com o rastilho de fora. B Fachada é o incendiário certo e ameaçava varrer Lisboa, quando, no Lux, em Maio, terminou o concerto com os versos Eu vou ser o puto Abrantes / Eu vou ser o Panda Bear / Entrar onde eu quiser / Entrar onde eu quiser. Já entrou. Na colheita de 2010, Há Festa na Moradia é a melhor garrafa de vinho tinto entornada sobre um pano de mesa muito limpinho. MA

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