Topes 2009
· 07 Dez 2009 · 22:13 ·

Top 2009 · Top Portugueses 2009 · Topes Individuais · Momentos 2009 · Topes Ilustres

© Teresa Ribeiro



 

10

Girls
Album
Eskimo / Ultima

O lo-fi pegou e (ainda) bem. Fez-nos acreditar de novo que a pop pode e deve ser alvo de imperfeições, magoar o ouvido e instalar e deixar no ar a dúvida entre uma opção estética e um “prego”. Os Girls gostam pouco de perfeições e de régua e esquadro, a não ser quando estamos a falar de chico-espertismo pop (elogio) e composição certeira. Sim, apareceram do nada mas ficaram no ouvido: Album é coisa pegajosa, que apetece abrir e usar várias vezes ao dia, um disco para todas as estações do ano, do metro, do autocarro e de comboios. É um disco de partidas e de chegadas, com um tempo e um espaço ainda por definir. Album gasta o dinheiro todo em viagens aos anos 70 e de volta. E leva porrada quando chega a casa. Uma canção como “Lust for Life” pode não salvar vidas mas pode e deve salvar dias. Em 2009, um álbum como Album (desculpem), mesmo perdido na cronologia, soa verdadeiramente refrescante. AG

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9

Doom
Born Like This
Lex

Carta aberta a Daniel Dumille (DOOM):
Eu adoro-te, claro. Mas a verdade é que tu és demasiado prolífico. Devias parar para pensar de vez em quando. Tens coisas incríveis, mas tens demasiado álbuns. Se calhar a culpa é do Madlib, que também faz a mesma coisa. Quando vocês se juntam fazem magia, normalmente, a não ser que estejam a ser demasiado auto-indulgentes. O teu Born Like This não é um clássico enorme ao nível de um Madvillainy ou um The Mouse and the Mask – não é à toa que as tuas melhores cenas são colaborativas –, mas é bom. Bons beats, teus, do Dilla, do Madlib e do Jake One – responsável por um dos melhores beats da década que ainda por cima teve direito a verso teu: "Rock Co.Kane Flow" dos De La Soul –, samples de E.S.G. e colaborações com o Ghostface ("The Mask" já era um clássico, mas "Angelz" também é enorme). E o Raekwon? Tu és quase sempre bom, mas obrigado por te teres esforçado desta vez. Nota-se.
Abraço,
Rodrigo. RN

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8

B Fachada
Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado
Flor Caveira / Mbari

Se se atribuísse a B Fachada um lugar na actualidade nacional, o Jornal da Noite teria contado, durante 2009, com notícias de abertura como “jovem cantautor de Cascais diverte plateias“, “Bernardo Fachada transforma Lisboa num campo de batalha de opiniões” ou “novo disco pela Flor Caveira converte centenas de indecisos”. Com sorte (ou azar), o seu dom para provocar e emocionar valer-lhe-ia um convite do Bloco de Esquerda, mas foi Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado quem desencadeou todas as reacções noticiadas. “Quem”, sim, porque o Pónei é um disco com vida própria: condensa a inspiração de meses numa sessão de meros quatro dias, transforma standards passados em standards futuros - e ainda tem tempo para recuperar episódios e personagens de outros tempos, que nos ajudam a entender melhor as sexualidades e os afectos de hoje. B Fachada atreveu-se a cantar a vida off-line, mandando à merda a anglo-superficialidade habitual. Nem toda a fruteira tem espaço para tamanhos tomates, é verdade, mas nem isso trava o Ponéi Dourado. MA

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7

Wavves
Wavvves
De Stijl / Nuevos Medios

Depois de um primeiro álbum homónimo, acrescentou-se um terceiro “v” a Wavves e pumba, rebentou como uma onda de maremoto noise na bolha da cara do adolescente ávido de distorção. Isto já não é “punk” porque o “punk” também já não é de agora, mas tem a essência do movimento, na sua base crua, DIY, feroz e descomprometida. A esta agressividade por vezes visceral, que percorre com rapidez todas as auto-estradas e trilhos 4x4 do rock de poucos acordes e bateria amadora, de Ramones a The Jesus & The Mary Chain, junta-se todo um espírito Lo-fi tão em voga neste ano que finda com laivos de electrónica de quarto às tantas. Assim temos um disco electrizante, ruidoso, defeituoso, maravilhoso. Com potenciais hinos geracionais com o “So Bored”, Nathan Williams, sempre à beira do seu próprio abismo, traz-nos sobretudo a “garage e surf-music” dos nossos tempos, mais numa de rejuvenescimento do que revivalismo, verdadeira “piece-de-resistance” de uma San Diego solarenta na era do Aquecimento Global, repleta de praias que trocaram os Beach Boys e Dick Dale por hip-hop e chachadas MTV. Venham mais “v” aos Wavves. NL

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6

Bill Callahan
Sometimes I Wish We Were An Eagle
Drag City / Flur

Ao segundo disco assinado com o nome de baptismo, Bill Callahan volta ao seu melhor nível. Com uma produção impecavelmente seca, o ex-Smog apresenta um conjunto de melodias certeiras. Num disco muito homogéneo e, arrisquemos, quase perfeito, será difícil destacar temas individualmente, mas poderemos tentar destacar duas: a abrir, na belíssima “Jim Cain”, Callahan confessa o regresso às trevas (“I used to be darker, then I got lighter, then I got dark again”); a fechar o disco, com a sumptuosa “Faith/Void”, Callahan suplanta Saramago no debate ateu (“It's time to put God away”). Se Woke on a Whaleheart lançava a carreira de Callahan a solo (e já era um disco bem bom), este Sometimes I Wish We Were An Eagle - título do ano, sem conotação benfiquista - é ainda melhor, intenso até ao osso. NC

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5

The Very Best
Warm Heart of Africa
Moshi Moshi Records / Nuevos Medios

África. África minha, nossa, vossa, deles. Mãe África, de todos, deles, vossa e do mundo ocidentalizado. Esau Mwamwaya é o maestro que conseguiu unir o continente africano com a costela indie que se dá bem com o rock, música electrónica e linguagens concubinas. E o resultado é no mínimo excitante. Em prolífica parceria com os produtores Johan Karlberg e Etienne Tron (Radioclit), Esau Mwamwaya faz vingar em The Very Best aquilo que o seu nome indica: Warm Heart of Africa explora o melhor de dois mundos e devolve experiências extra sensoriais muito apreciáveis. A proposta é tão irrecusável que até M.I.A. e Ezra Koenig (o senhor dos Vampire Weekend) quiseram tomar parte desta ponte entre a Europa, a África e o Estados Unidos. Dá vontade de voltar aqui sempre e quando a mestiçagem for uma opção para lavar os ouvidos de alguma música mais formatada. AG

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4

Fever Ray
Fever Ray
Rabid / Nuevos Medios

Para quem escreve estas linhas, o disco homónimo de Fever Ray mantém-se como o melhor do ano desde que saiu, em Março de 2009. Trata-se da estreia a solo da metade feminina do duo sueco The Knife, que Karin Dreijer Andersson partilha com o irmão Olof. Canções como "If I Had a Heart", "When I Grow Up" ou "Keep the Streets Empty for Me" – ilustradas, já agora, por excelentes vídeos – são vultos eléctricos, a rebentar de ansiedade e a roçar o macabro. Ouvir o disco de uma ponta à outra é uma experiência de quase-sonambulismo, um terror surdo que se vai desenrolando lentamente e que, na verdade, não passa da sugestão. Pelo caminho, há palpitações africanas a furar o manto de electropop. A posição abaixo da linha do pódio na lista final é meramente indicativa do valor relativo destas coisas. HG

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3

Grizzly Bear
Veckatimest
Warp

2009 deu-nos a surpresa da confirmação. Em Horn of Plenty mas sobretudo em Yellow House já haviam largos indícios da qualidade desta (mais uma) banda de Brooklyn. Contudo, este conjunto de canções com C maiúsculo deu, ainda assim, o algo supreendente passo definitivo para que pudessem subir em apenas 3 discos ao pedestal das grandes bandas. Os Grizzly Bear prometiam, é verdade, mas superaram-se totalmente. Fizeram um enorme disco de alma e coração. Não é à toa, que uma super-editora de electrónica faz um excepção e os tem no catálogo, ou que por exemplo, Johnny Greenwood, guitarrista dos Radiohead, confessou ser esta a sua banda preferida. A rara grande canção no seu sentido mais clássico, que ninguém resiste, omnipresente, intemporal, a bordo dos acordes simples, dos coros, da super-melodia, encontra-se aqui e há várias, são inacreditavelmente abundantes. “While You Wait For The Others”, “Two Weeks” e a soberba ao cubo “Cheerleader”, por exemplo, são caixinhas de música que poderiam ter marcado o mundo em 60’s, 70’s, 80’s, 90’s, mas vieram só agora e ainda muito a tempo de ficar na jukebox de todo o sempre. NL

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2

SUNN O)))
Monoliths & Dimensions
Southern Lord

"A" banda de tudo quanto se pode chamar drone, doom, pós, ou qualquer coisa metal do nosso século cumpriu em 2009 o seu melhor e mais ambicioso álbum até à data, deixando qualquer melómano capaz de ultrapassar a estranheza inicial de queixo caído. Monoliths & Dimensions é perfeito na dinâmica de filme de terror que cria, na incorporação da voz de Attila Csihar, da guitarra de Oren Ambarchi, da viola d'arco de Eyvind Kang, nos sons de igreja, de cordas, de conchas, trompetes, trombones, moogs, etc, com a turbulência única dos drones de Stephen O'Malley e Greg Anderson.. O disco acaba com "Alice" onde ouvimos uma harpa. Monoliths & Dimensions é a bofetada de luva negra que mereciam todos quanto acharam que o som dos SunnO))) era limitado logo à partida. NP

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1

Animal Collective
Merriweather Post Pavilion
Domino / Edel

Muitos tentaram rivalizá-lo e ainda bem, alguns quase conseguiram e ainda bem, mas quase todos sabíamos que seria impossível Merriweather Post Pavilion não ser o álbum do ano. É um disco totalmente de agora, contagiante à primeira audição, viciante eterno, a Pop reformulada da Era da Informação, mescla de tudo o que já se fez em caldeirão de renovação futurista, quase acessível ao mainstream sem nunca o ser, ainda para mais cuja expectativa criada em volta já remontava a 2008. E como em todas as obras-primas houve alguma divisão: para alguns, este era o melhor AC de sempre, para outros, mais do mesmo, nada de novo, etc. e tal. É o que faz os discos dos AC serem tão bons. Mas como em todos os Pet Sounds e O.K. Computer da nossa vida, quanto mais dias passam, mais gente se rende e esse é poder desta imensa obra-prima, até agora talvez o maior momento musical do século XXI. Os Animal Collective estão cada vez melhores, e a melhor notícia é que não estão parados e em 2010 prometem, novamente e muito. Conseguirão eles próprios superar-se? NL

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30-21 | 20-11 | 10-1

 

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