Listas dos melhores 2008
· 09 Dez 2008 · 01:34 ·

Top 2008 · Top Portugueses 2008 · Momentos 2008 · Tops Ilustres

©Teresa Ribeiro
10.
Hercules and the Love Affair
Hercules and the Love Affair
Mute U.S.
  Configurações disco em registo pop. Sofisticado e Irresistível. À semelhança dos perfumes e dos cozinhados, há que temer misturas na música. Podem descaracterizar as partes, podem resvalar para o kitsch, podem abafar boas ideias. Em caso de tiro certeiro, podem, contudo, desvendar obras-primas. No ano passado, a improvável aliança entre o dinossauro rock Robert Plant e a fragilidade folk-country de Alison Krauss produziu um belo disco feito em conjunto. Este ano, a surpresa colaboracionista vai para Hercules & Love Affair que junta num mesmo pacote Antony Hegarty e colaboradores de LCD Soundsystem. Inacreditável, hã? E a mistura não poderia ter um saldo mais positivo. São dez faixas sem tempo suficiente para aborrecerem alguém e ousam incutir um travo retro aos sintetizadores e linhas de baixo imparáveis que perspassam o disco de lés-a-lés. Percussão, sopros e conjugação invencível disco/house fazem o resto. Para os mais distraídos, volto a repetir: Antony Hegarty, o art-rocker dos Antony & the Johnsons empresta a sua voz a grande parte destes temas. É verdade. Eugénia Azevedo

9.
Al Green
Lay it Down
Blue Note
  Ninguém – mas ninguém – canta como Al Green. Cada "aah" dele é como mel. A sério. Al Green podia usar óculos fundo de garrafa, aparecer num bar com Crocs nos pés, calças à Aladino e vestido de cores berrantes que bastava lançar um "aah" e teria problemas em aviar as hordas de mulheres a cair aos pés dele. E isto num homem na casa dos 60. É mais que certo que actuará no meu casamento. Como reverendo, celebra a cerimónia e depois canta no copo-d'água. Este ano juntou-se a ?uestlove e James Poyser e fez magia. Talvez a palavra correcta seja "amor". Porque é sobre isso que é toda a carreira dele, porque é isso que é a voz dele. As canções são óptimas, a produção e os convidados também: rodeia-se de gente como John Legend, Anthony Hamilton ou Corinne Bailey Rae (mil vezes mais interessante aqui que a solo). Trabalhou, esforçou-se e fez um disco onde um simples "aah" bastava. Um regresso em grande para uma das melhores vozes de sempre. Nem era preciso, mas foi. Rodrigo Nogueira
8.
Tricky
Knowle West Boy
Domino / Edel
 

E eis que surge mais uma porta aberta, após o regresso dos Portishead, para a redescoberta da classe de Bristol. Para não enganar ninguém, urge explicar que Knowle West Boy” não supera de forma alguma a audácia que conhecemos de Maxinquaye, o álbum de estreia do músico e galinha dos ovos de ouro da sua discografia. Mas convence, bem acima da média, tratando-se do melhor disco que Tricky concebeu na última década. Mais uma vez, a sua faceta de observador nato é notada, num disco cujo título remete para a sua terra de infância e cujas palvras procuram algumas realidades sofridas às quais é apontado o dedo. Fragmentos de trip-hop com cabeça como em “Past Mistake” ou o rap irado de “Council Estate” não podem ficar na gaveta e têm necessariamente de recolocar Tricky na roleta da sazonalidade de tendências musicais. E provam, para lá da versatilidade de que é capaz (nunca esquecer os Massive Attack), que ainda há lugar para a marca “Tricky”, feita de indeléveis traços. Eugénia Azevedo


7.
Vampire Weekend
Vampire Weekend
XL / Popstock
  Porque este foi o ano em que a secção de estilo do New York Times declarou que o informal já não era igual ao desfraldado, quatro betinhos ricos nova-iorquinos que passam férias em Cape Cod lançaram uma estreia brutal. Não é bem o Graceland do Paul Simon – porque não tem sul-africanos a sério e, convenhamos, o que é que há no mundo que se compare ao génio de escrita de canções do semi-Deus Simon? –, mas pega na música africana (e o ska e o reggae) e junta-a ao indie rock em canções incríveis. Pode não parecer muito. Contudo, é. Até dá vontade de comprar um iate e ir para a marina de Cascais, só para perceber depois que não é bem a mesma coisa. E qualquer banda que rime "reggaetón" com "Benetton" ou fale de Peter Gabriel E de Lil Jon (um dos membros da banda definiu literalmente a palavra "crunk" quando estagiava num dicionário) merece o céu, por muito dinheiro com que tenha nascido originalmente. Rodrigo Nogueira

6.
Buraka Som Sistema
Black Diamond
Enchufada
  Kalemba (e o seu eterno Wegue Wegue) pode ter sido um dos momentos altos do Verão português. Agora, Black Diamond representa uma das mais valias estéticas no panorama musical deste pobre país à beira-mar encalhado desde há alguns anos para cá. Ultrapassados os preconceitos sobre o kuduro que imperavam na mentalidade colectiva da “metrópole”, os Buraka Som Sistema ergueram a ponte que definitivamente uniu duas margens que distanciavam-se inexplicavelmente. Black Diamond abraça duas culturas distintas e bombeia-as para o centro da acção da escrita criativa. Um coração urbano que bate vigorosamente, irrigando o sistema com o puro sangue africano enquanto oxigena os músculos com o melhor que o espírito das raves deixou como legado. Obrigatório! Rafael Santos

5.
Tv on the Radio
Dear Science
Interscope / Popstock
  E agora, para algo completamente diferente, os TV on the Radio decidiram dar um golpe de rins. Depois da complexidade de Return to Cookie Mountain, carregado de samples e de guitarras distorcidas e adulteradas, a banda decidiu dar às suas composições mais espaço para respirar. Ouça-se, por exemplo, “Family Tree”, uma das suas mais acessíveis canções de sempre, guiada por arranjos de cordas e um piano quase subliminar. As vozes de Tunde Adepimbe e Kyp Malone brilham mais do que nunca, mas não se pense que a viagem é livre de sobressaltos: há influências de disco e soul, e a deliciosamente funky Golden Age. Apesar da mudança de atitude, os TV on the Radio conseguem um álbum tão bom ou melhor do que os anteriores. Para quem achava que as estruturas complexas escondiam alguma falta de ideias de composição, eis a resposta. João Pedro Barros

4.
Girl Talk
Feed the Animals
Illegal Art / Flur
 

Quando apareceu, com Night Ripper, Girl Talk deixou toda a gente atónita e boquiaberta, sem saber bem o que pensar (na verdade já tinha gravado coisas antes, mas foi em 2006 que começou a ter mais exposição mediática e que chegou até nós). Depois da digestão feita, e de já se saber o que aí vinha, este Feed the Animals continuou a surpreender. Absolutamente viciante, este disco é uma autêntica enciclopédia portátil da música popular do século XX. Através de corte e colagem, Gregg Gillis construiu uma pérola sonora feita de cerca de trezentos samples. Que outro disco consegue, incluindo citações directas de Avril Lavigne, Procol Harum, The Band, Ace of Base, Wu-Tang Clan, Nirvana, Roy Orbinson, Beach Boys e Cranberries, a proeza de soar übercool? É com toda a certeza a maior salganhada do ano, mas não poderíamos encontrar uma salganhada feita com mais precisão e detalhe. Verdadeira referência da cultura “mash-up”, vai seguramente ficar como ícone definitivo para a música do Século XXI. Nuno Catarino

3.
Gang Gang Dance
Saint Dymphna
Warp, Symbiose / Vortex
  Em 2008 os Gang Gang Dance cumpriram o que vinham ameaçando: ascenderam definitivamente ao primeiro escalão de notoriedade indie, pondo até o "The New York Times" a chamar-lhes uma das bandas do momento. Houve uma altura em que parecia não haver dia em que uma publicação de referência não dedicasse linhas ultra-elogiosas a Saint Dymphna, disco que teve a difícil tarefa de suceder ao maravilhoso God’s Money, de 2005. Dificilmente haverá disco em 2008 que sintetiza melhor o espírito do seu tempo do que este. Ele reflecte toda a importância crescente que a música não-ocidental tem adquirido (a redescoberta de África, também patente no êxito dos Vampire Weekend), a vitalidade criativa do hip-hop e derivados, o namoro do "estranho" com a pop ("House Jam" é uma das canções do ano - gostamos de imaginar Madonna triste por não ter sido ela a escrevê-la) e o seu inverso, que o sucesso dos amigos Animal Collective também traduz. Todas estas e outras coordenadas coexistem em Saint Dymphna, um dos mais fascinantes álbuns do ano. Pedro Rios

2.
Beach House
Devotion
Carpark / Bella Union / Popstock
  Canções é o que não falta por aí aos pontapés, a serem debitadas por colunas foleiras e a qualquer altura do dia. Mas canções escritas de forma inteligente e reflectida não pululam nem muito menos nos atravessam aos pés. Devotion é um disco de canções com cabeça, tronco e membros. Mais: é um disco quase perfeito que para além de resumir de forma certeira a música que directamente lhe antecede se atreve a criar algo de novo. Ou a continuar. Apesar de Victoria Legrand e Alex Scally não terem propriamente inventado nada de novo, já é bem altura de falarmos no “som Beach House”, introduzido no disco homónimo de 2006 e aperfeiçoado em 2008 com Devotion. São canções de bolso, portáteis no melhor sentido dos termos. Não ocupam muito espaço mas aproveitam aquele de que dispõem para encher os ouvidos de ricas texturas e vozes de alto quilate. Este 2008 que agora termina não conhece garantidamente muitas canções melhores do que “Gila”. André Gomes

1.
Portishead
Third
Universal
  Enterrada a sonoridade trip-hop aveludada que caracterizou os dois primeiros episódios e ultrapassado o estigma que ambos representavam no percurso natural, os Portishead superaram-se a si próprios; pondo em causa as metodologias de trabalho e desafiando os estados de espírito, não rogando a original singularidade que lhes corria nas veias, regeneraram-se sem perder a personalidade soturna que sempre os caracterizou. Dez anos volvidos sobre o último álbum de originais, Third está nos antípodas do que se estaria à espera dos do trio de Bristol. A mudança já se anunciava ao longe, mas nunca numa envergadura tão radical. Third é um passo em frente repleto de riscos, que enfrenta os fantasmas do passado com admirável elegância; é bizarro, rude e melancólico sem nunca perder a beleza interior. É directo, cru e verdadeiro como poucos foram em 2008. Por estes motivos, e outros mais subjectivos, eis o merecido reconhecimento desta redacção. Rafael Santos


30-21 | 20-11 | 10-1


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