Listas dos melhores 2008
· 09 Dez 2008 · 01:34 ·

Top 2008 · Top Portugueses 2008 · Momentos 2008 · Tops Ilustres

©Teresa Ribeiro
20.
The Bug
London Zoo
Ninja Tune
  London Zoo é um disco de reclamação de território, como era The Blueprint de Jay-Z ou Return of the Boom Bap de Krs-One (Watch out! We run New York!). Com o seu comprimento engrandecido por todo o tipo de publicações, o domínio da música urbana londrina é inevitavelmente extenso e capaz de suportar dubstep, grime, dancehall digital como factores atmosféricos de influência variável. Fitando os limites da cidade como um príncipe rebelde encara o seu futuro reino, London Zoo é o assalto de quem tem a espada numa mão e a trombeta na outra. Só com uma espada afiada se explica o aspecto rude e marcial de produções como “Skeng” ou “Insane” (ambas artilhadas por loops capazes de provocar assaduras). Só com uma trombeta se convocam MCs com tão incalculável força: a voz espectral de Flowdan devia ser banida pelo Vaticano, a rodada atitude frontal de Warrior Queen é apenas embaraço para meninas como M.I.A. e Santogold (ali no 11º lugar). O nome da esmorecida Ninja Tune reacende-se com o disco de The Bug que mais noites de sono roubará aos produtores vizinhos. Desembrulhar London Zoo é largar a cavilha e ficar com a granada na mão. Miguel Arsénio

19.
Frango
Nada Miles
Merzbau
  Se Whole Hit Bloomer constituía até agora o ponto mais alto de uma certa música periférica portuguesa emergente nos últimos anos (seja o que isso for), o trono tem de ser agora partilhado com Nada Miles. A evolução surpreendente característica dos Frango, dá neste álbum lugar a devaneios de percussão free-jazz sobre teclados a invocar sonhos new age e ao casamento natural do psicadelismo do kraut com a espontaneidade do rock mais expansivo. A descoberta de um terreno fértil e inexplorado onde os barreirenses plantam as melhores sementes para daí recolher os frutos que confirmam a sua posição de estetas numa revisão mais-do-planeada da melhor música feita em Portugal neste início de Século. Bruno Silva

18.
The Kills
Midnight Boom
Domino / Edel
 

Dos The Kills tínhamos a ideia de que eram apenas um duo parido no alvoroço neo-rock’n’roll do início do milénio, enquadráveis na segunda categoria da tendência, depois dos Strokes e dos White Stripes. Havia boas canções, mas o rótulo até lhes assentava bem. Midnight Boom, terceiro disco de Alison Mosshart e Jamie Hince, uma surpresa que provocou tremeliques até com alguns descrentes do duo, veio desmentir tudo isso. O que é que nos fez mudar de ideias? Canções pop como "Tape song" (em sonhos mais inconfessáveis imaginamos Mosshart de pijama, a calcorrear a guitarra eléctrica enquanto a caixa de ritmos debita uma batida simples), "U.R.A. fever" (dueto que parece talhado para uma cena pré-cama) ou "Cheap and Cheerful" (ritmo frenético, como convém nestas coisas do rock - e não só…), algum rock’n’roll básico, guarde-o deus, umas delícias como "M.E.X.I.C.O.C.U.", punk rock para viagens de Cadillac, e "Goodnight Bad Morning", uma espécie de "Sunday Morning" dos Velvet para a geração Clubbing. Quem diria que, ao terceiro disco, os The Kills tornam-se uma banda a ter em conta? Pedro Rios


17.
Cat Power
Jukebox
Matador / Popstock
  Há quem não perdoe a Chan Marshall uma certa resistência em escrever canções novas. Mantém-se essa tendência, já ensaiada em The Covers Record, de ir buscar temas dos outros. Jukebox é uma belíssima caixa de música, em que Cat Power torna seus originais de gente como Hank Williams, Lee Clayton e Joni Mitchell. É comovente o modo como ela canta James Brown em “Lost Someone” e Bob Dylan em “I Believe in You”. A este, ela escreve uma bonita carta de amor, “Song to Bobby”. Essa é a única canção nova a sair-lhe dos lábios e dos dedos, já que a outra que caberia nessa definição é uma versão de cabaret para a sua “Metal Heart”. A edição especial tem outro disco com mais cinco versões, incluindo “Naked, If I Want to” (e quem não gostaria que ela quisesse?) de Jerry Miller e “Breathless” de Nick Cave. E se Chan Marshall é bonita todos os dias, fica ainda mais bela quando canta em espanhol, como faz em “Angelitos Negros”. Convém ir ouvindo isto enquanto ela ainda está entre nós. Helder Gomes

16.
The Mountain Goats
Heretic Pride
4AD / Popstock
  A regularidade dos Mountains Goats podia até atraiçoá-los com o desgaste a que se submeteu Mike Patton naqueles anos em que surgia em 8 discos, sem conseguir silenciar bocejos como Ó, não… Outro disco deste gajo… Tratando-se de uma saga, a obra Mountain Goats deve evoluir como tal: acumulando acrescentos, nutrindo a linearidade, evitando quebras amnésicas entre capítulos. Quem aderiu a John Darnielle já não passa muito bem sem novidades suas, sendo que dois anos sem outro álbum de Mountain Goats quase parecem uma eterna ressaca. O último Heretic Pride pode bem agravar essas necessidades: entendido como um só sermão digressionista, adensa a curiosidade de quem se perde neste labirinto de referências descobrindo impressionantes saídas em arranjos e golpes de mestre capazes de incomodar o sono de Sufjan Stevens. Além disso, cozinha uma quantidade tal de detalhes e recursos musicais que, no fim, sobra uma azia agradável (ou o orgulho herético de ter essa indisposição alojada no estômago). Opera a transformação da trivialidade e citação enciclopécida em episódio confessional e depois em alegoria aberta. Converte os infiéis e blinda a fé dos convertidos. Miguel Arsénio

15.
Fuck Buttons
Street Horrrsing
ATP Recordings
  Poderá o “noise” ser uma coisa amigável? Os Fuck Buttons (nome ridículo e censurável, fosse esta uma publicação de respeito - o que felizmente não é) arriscam dizer que sim. Ouça-se a faixa inaugural do disco: primeiro entram uns pozinhos que podiam figurar numa qualquer canção dos Múm, depois a coisa cresce e vai entrando ruído, discretamente, por camadas, e quando nos apercebemos estamos no meio de um delicioso turbilhão de barulho que, se o som estiver num volume exagerado, nos fode literalmente os ouvidos. Por vezes o barulho não é disfarçado, outras vezes só aparece depois de sermos mimados com um padrão rítmico hipnótico (“Bright Tomorrow”), que vai crescendo e só desvenda totalmente as suas vísceras no último terço do tema, quando somos assaltados por berros alucinados. O “noise” nunca será “pop”, mas a forma como o barulho é embrulhado neste Street Horrrsing engana-nos bem (e nós gostamos). Nuno Catarino

14.
Gala Drop
Gala Drop
Gala Drop Records / Flur
 

Entre as paisagens surrealistas e abstractas, o tribalismo urbano, as passas ocasionais no cachimbo da paz de Lee "Scratch" Perry ou a hipnose induzida por um qualquer xamã da era moderna, a música dos Gala Drop é a fina flor de uma nata portuguesa que não se incomoda de conviver com diferentes travos na boca. Esta música respira liberdade enquanto luta pela diferencia de quem sabe estar em lugares longínquos e irreconhecíveis sem abandonar o conforto do retiro espiritual. No fundo um passeio aventureiro pelos quatro cantos do mundo em busca de um legado sonoro que se vai dissipando com o tempo e que, pelo extraordinário exemplo deste trio português, ainda está no zénite do recuperável. Rafael Santos

13.
Lil Wayne
Tha Carter III
Cash Money / Universal
  Fosse pelas inúmeras mixtapes ou pela sua personalidade ácida e irreverente, Wayne Carter sempre teve o dom de confundir. Na óptima resenha de Rodrigo Nogueira fala-se em consagração, e muito embora não se possa falar abertamente nestes termos de alguém que já era enorme, Tha Carter 3 fica para história como o seu álbum mais coerente e um sucesso de vendas sem precedentes na carreira do rapper de Nova Orleães. Dissipam-se todas as confusões e reconhece-se-lhe sem embaraços o estatuto de maior estrela norte-americana de 2008. Porque o baixo de "A milli" pode bem ser o momento mais poderoso deste ano (sobre o qual "todos" fizeram a sua interpretação), mas nenhuma versão chega aos calcanhares de pérolas literárias como I could turn a crack rock into a mountain, dare me...don't you compare me cuz there ain't nobody near me , e torná-las numa verdade irrefutável. Bruno Silva

12.
Jazzanova
Of All the Things
Verve / Universal
  Quanto todos esperavam um estafado disco de elevador, o sexteto de Berlim não vai de modas e serve um luminoso disco soul. Formados em meados da década de 90, só agora os Jazzanova editam o segundo disco no circuito mundial, depois de um In Between encharcado de acid jazz e house. O destaque mais óbvio de Of All the Things é “Rockin’ You Eternally”, numa versão que recupera o original com 26 anos de Leon Ware com a própria lenda da soul. Mas também “Little Bird” merece ser lembrada neste final de ano, sobretudo por causa da voz de José James (muita atenção a este tipo!) e do relaxamento dos metais. E ainda “Dial a Cliché”, escrita por Morrissey, e que fecha o álbum com teclas insinuantes. Se Portishead foi o regresso mais consensual do ano e Tricky o mais incompreendido, os Jazzanova vieram provar que ainda podem fazer parte dos sonhos molhados de muitos. Helder Gomes

11.
Santogold
Santogold
Atlantic
  Que bem sabe, em 2008, ouvir guitarras new wave ("Lights out"), pop com pitadas de ska e garra de punk rocker ("You’ll find a way") e reggae açucarado ("Shove it"), sem que isso redunde em objectos mutantes (assim de repente, surge-nos uma sub-Gwen Stefani). Muitos esperavam que Santi White seguisse o caminho de "Creator", essa malha de contornos explosivos a que se perdoava totalmente a inspiração em M.I.A. (ou não fosse Switch, artífice dos instrumentais de Kala, o seu produtor), editada em 2007. Esse caminho actualmente em voga - música ocidental permeável aos ritmos e encantos das periferias - está presente no álbum, seja em "Creator", "Startruck" (conduzida por uma linha de baixo mínima) e "Unstoppable" (que, a espaços, parece reconfigurar Sandinista dos Clash à luz dos anos 2000), ambas da responsabilidade do venerável Diplo. A ele, Santi juntou uma exploração de qualidades intemporais da música pop, num disco concentrado na entidade "canção", simultaneamente conservador ("I’m a lady" é deliciosamente reaccionária) e filho do seu tempo. Pedro Rios


30-21 | 20-11 | 10-1


Parceiros