As dez melhores canções de sempre neste preciso momento #10 - Walter Benjamin
· 06 Out 2008 · 19:14 ·

Walter Benjamin escreve canções e por isso é um estudioso da mesma. Já que nenhum escritor de canções o faz sem antes ter ouvido alguém o fazer, é de todo normal que cada qual tenha os seus modelos - mais ou menos imperfeitos – dos quais se aproxima ou se afasta consoante a vontade de respeitar a fonte. Tudo isto pode parecer etéreo mas torna-se muito menos quando se pensa na literatura em causa e na prosa que até hoje se verteu à custa do tema. Nas escolhas Walter Benjamin é possível observar ou detectar algumas linhas com que o seu trabalho se cose; uma transparência que este cantautor não recusa nem receia.

 
1. "A Day in the Life", The Beatles: Esta é provavelmente a melhor canção da melhor banda de todos os tempos, o que poderá significar que esta é a melhor canção do mundo. Para alguns pode ser apenas aborrecida mas nem os cães ficam indiferentes a esta música.

2. "God Only Knows", The Beach Boys: Outra banda começada por "The". Os Beach Boys tornaram-se na primeira banda da minha vida quando eu descobri uma cassete deles ao pé da aparelhagem dos meus pais. Tal foi o meu entusiasmo que, aos 6 ou 7 anos, me ofereceram um disco de um concerto dos Beach Boys. Esse disco rodou todos os dias durante um ano no meu leitor de CD's, de tal maneira que os meus pais começaram a acreditar que a aparelhagem já sabia o disco de cor e o poderia tocar mesmo sem a presença física da rodela de plástico no interior do leitor. “Surfin' USA†é a música de qualquer verão e “God Only Knows†a música de qualquer dia da nossa vida.

3. "Shelter From the Storm", Bob Dylan: O Dylan era o mais previsível, as canções dele são a banda sonora de grande parte da minha adolescência. “Shelter From the Storm†é das mais perfeitas progressões de três acordes da história da música.

4. "Coney Island Baby", Lou Reed: Por falar em três acordes... Conheci o Lou Reed quando ouvi a música dos Velvet Underground, “Heroinâ€, por mero acaso (essa só tem dois acordes). “Coney Island Baby†fala da paixão que Lou Reed tinha pelo seu treinador de futebol e mostra-nos que o tipo até sabe tocar guitarra - este tem um dos melhores solos de guitarra que já ouvi.

5. "A Balada de Rita", Sérgio Godinho: Adoro tudo nesta música e tenho-a em tanta consideração como qualquer outra que aqui esteja mencionada. O refrão é fortíssimo e deixa-me sempre agarrado ao chão. Ninguém escreve como Sérgio Godinho.

6. "Meaningless", The Magnetic Fields: O 69 Love Songs é um dos álbuns mais importantes da minha vida e a sua existência desculpa todas os comportamentos menos simpáticos de Stephen Merritt nos concertos que fui ver. Eu adoro o tipo. Stephen Merritt é o único tipo capaz de converter a sua própria miséria em piadas auto-depreciativas. “Meaningless†é um bom exemplo do humor negro das canções dos Magnetic Fields, é a glorificação do falhanço.

7. "Spit on a Stranger", Pavement: Nunca percebi os Pavement. Acho que é por isso que tanta gente gosta deles. "I can spit on a stranger" é uma imagem fascinante na nossa cabeça.

8. "Dress Sexy at my Funeral", Smog: Melhor título de música de sempre. Voz sexy. Dá para dançar. Não sei dançar.

9. "Our House", Crosby, Stills, Nash & Young: Uma vez ia tendo negativa num teste de biologia porque tinha passado a véspera do exame a ouvir Déja Vu, o álbum onde se encontra esta música. Claro que ninguém será capaz de ouvir este tema sem se lembrar da Rádio Nostalgia (que agora tem nome de rádio ocupada pelo MFA). Mas há que lembrar que este foi um dos discos mais "drogados" de sempre, o que esclarece as camisas e os penteados de Crosby, Stills and Nash - o Young ainda hoje é cool! Pela mesma razão o Chick Corea usa camisas com palmeiras. “Our House†são as minhas viagens de carro a caminho das férias prometidas na praia. Naqueles tempos em que éramos obrigados a esperar duas horas inteiras pelo fim da digestão para podermos entrar dentro de água. Ok, o álbum tem músicas melhores mas há poucos hinos assim para cantar em família.

10. "Keep the Customer Satisfied", Simon & Garfunkel: Passei o verão todo a ouvir esta música. A secção de metais faz-me abanar as ancas e a linha de baixo prova que os Simon & Garfunkel não eram assim tão "meninos". Ok, eram. Mas eu gosto deles na mesma. Ninguém fazia segundas vozes como eles e a melodia do refrão é absolutamente épica e perfeita. Rádio no máximo para uma sessão de tuning ao som de Simon & Garfunkel. Ninguém resiste...
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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