Listas dos melhores 2007
· 10 Dez 2007 · 08:00 ·

Top álbuns 2007 · Top álbuns portugueses 2007 · Momentos 2007 · Tops ilustres

© Teresa

Há dois anos que se cumpre no Bodyspace a tradição de apresentar, do ponto de vista individual de cada membro da redacção, dez acontecimentos que mereceram ocupar um espaço cativo na nossa memória selectiva. Depois de realizarmos a triagem dos discos de 2007 com mérito para figurarem entre os melhores, importa lembrar que nem só de novidades discográficas se alimenta um melómano. Outras acontecimentos proporcionaram igualmente música para os nossos ouvidos. Os mais citados acabam por ser, inevitavelmente, os concertos. De Norte a Sul do país ou mesmo lá fora, muita foi a oferta e rica a variedade de géneros. Mas há mais para além dos concertos. E tudo isso para conferir aqui, numa secção que designamos de Top Momentos. Eugénia Azevedo


  André Gomes
 
Madrid me Mata © Angela Costa
O Summercase 2007, em Madrid, na sua segunda edição. Pela demência que é ver em menos de 48 horas Perry Blake, DJ Shadow, !!!, LCD Soundsystem, Jesus and Mary Chain, Hidden Cameras, Lily Allen, PJ Harvey, Flaming Lips, Arcade Fire, entre outros. Uma fartura que dava para fazer dois ou três festivais portugueses.
Inevitavelmente, o regresso dos Radiohead aos discos. Depois de Hail to the Thief a banda de Thom Yorke volta para não deixar ninguém indiferente. In Rainbows é mais um grande disco. Pode-se odiar ou amar, mas os Radiohead são claramente uma das bandas mais importantes das últimas duas décadas.
A abertura de algumas salas na cidade do Porto que, com melhor ou pior programação, servem e de que maneira para consolidar o despertar tão desejado – e agora oficial. É agora possível ver, ouvir, sentir (e até comprar) mais e melhor música no Porto.
A experiência transcendental que é ver, apesar de pela terceira vez, os !!! e perceber que eles são a melhor banda ao vivo do mundo neste momento. Ninguém pára Nic Offer e ninguém pára a rave indie que se cria entre as canções de Louden Up Now e Myth Takes. Como se isto não bastasse, os !!! ainda assinam o disco do ano.
Sonic Youth em Paredes de Coura ou assistir ao vivo a algum do melhor rock que os últimos 20 anos nos deixaram. Thurston Moore, que lançou um muito recomendável disco a solo, é um senhor, um gentleman nas guitarras e na vida real, dentro e fora do palco.
Andrew Bird só pode merecer outros dos destaques do ano. Além de ter conseguido um disco de canções maravilhosas, Armchair Apocrypha, conseguiu um dos concerto do ano. Encantou o Theatro Circo com toda a classe que lhe é conhecida. Só não ultrapassou o concerto de Famalicão há alguns anos, onde actuou só e bem acompanhado.
Apesar de um pouco menos activa em 2007, a música periférica portuguesa continua a dar cartas e a mostrar uma nova face dos sons que por cá se vão fazendo. Tudo leva a crer que isto não seja apenas passageiro, mas sim uma realidade que faz de Portugal um óptimo local para apreciar música experimental e periférica nos dias que correm.
Ver e ouvir Cristina Branco ao vivo tem de ser das coisas mais intensas que se pode ver em cima de um palco português com assinatura lusa. A marca de Ulisses, um dos melhores discos portugueses de sempre, ainda se sente e a homenagem a Amália Rodrigues é, a cada canto, admirável. Cristina Branco tem de ser a melhor voz de Portugal.
Por motivos profissionais, uma aproximação à música dita erudita e a algumas obras de qualidade superior. Ver Ivo Pogorelich ao vivo é uma experiência no mínimo inquietante.
2007 foi um ano de grandes canções. Provas? Sem mais, uma espécie de lista: “Reckoner” dos Radiohead, “Stay Tuned” de Robert Wyatt, “Heart of Hearts” dos !!!, “All my Friends” dos LCD Soundsystem, “Fireworks” dos Animal Collective, “D.A.N.C.E.” de Justice, “Pogo” de Digitalism, “Plasticities” de Andrew Bird, “Almost Ready” dos Dinosaur Jr. e “Fadunchinho” de Amélia Muge.


  Bruno Silva
 
Depreendo que não seja assim
A descoberta (tardia) do génio de Faulkner, e consequente exploração intensa dos cenários americanos (com excepções em O`Neil, Torga e Coetzee).
Borbetomagus a tornarem o ar do Music Box impenetrável dada a sua densidade. A visceralidade de um não-corpo em lugar do vazio. Avassalador
Axiom EP de Durrty Goodz como porta-estandarte da revitalização de um género (grime) que muitos consideraram (prematuramente) sonâmbulo, e boas previsões para 2008
Manhãs solarengas e de (re)descoberta de "Specialist in all Styles" da Orchestra Baobab num mês de Julho marcadamente apático
Manuel Mota. Em qualquer lado, em todo o lado.
Encontrar nos Bee Gees verdadeiras pérolas da pop psicadélica pela via da reedição dos 3 primeiros álbuns. "1st", "Horizontal" e "Idea" são essenciais para quem sonha acordado. Ou simplesmente inventar um mundo numa canção.
Notáveis reedições nos mais variados géneros. Masayuki Takaynagi a destroçar o coração do free-jazz. A vertigem negra de Paysage D`Hiver e Akitsa a reordenar as coordenadas do black metal. "Hotel Para.lel" a relembrar porque é que Fennesz sempre foi enorme. O Japão ácido dos Magikal Power Mako. "Daydream Nation" e "Piper at the Gates of Dawn" já todos tínhamos, mas devem ser sempre relembrados.
Belas tardes e noites de conversa afável e improviso salutar em honrada companhia. Um obrigado sincero.
Fish & Sheep r.i.p.
Desbravar território numa Avenida da Liberdade em convulsões numa sexta feira 13. Poderia também dizer apenas festa... talvez.


  Eugénia Azevedo
 
A noite com mais estrelas do ano © João Pedro Barros
A portugalidade evocada em espectáculos vários, desde a homenagem de Cristina Branco a Amália Rodrigues até à apresentação da banda sonora de "Portugal- Um Retrato Social" por parte de Rodrigo Leão; os documentários "Brava Dança" e "Fados";
A sorte que é poder rumar a Braga com facilidade; os concertos de Micah P. Hinson e Howe Gelb no Theatro Circo;
A Trienal de Arquitectura de Lisboa como ponto de partida para uma série de boas iniciativas que ligam a arquitectura à música, entre elas a maratona musical de Bernardo Sassetti no Pavilhão de Portugal e o lançamento do álbum "Espaço" da autoria do Trio de Mário Laginha;
A passagem graciosa da norueguesa Hanne Hukkelberg por Portugal, em concerto único no Lux;
As travessias do Tejo, em direcção à margem Sul, com orientação precária e imprevisibilidade à chegada; o concerto dos Mudhoney;
A credulidade, por vezes comovente, dos amigos empenhados em mudar os nossos gostos; a experiência de assistir às improvisações de Rodrigo Amado + Carlos Zíngaro, no CCB, e Chris Corsano + Manuel Mota, na ZdB;
Em tempo de finanças apertadas, a iniciativa "Spring Experience" do Casino Lisboa proporcionou agradáveis "soirées" musicais a custo zero - destaque para a actuação de Joana Machado e o festim dos Tora Tora Big Band;
A vinda dos Spoon ao festival Paredes de Coura e o recordar de temas como "The Way We Get By" e "I Turn My Camera On"; a troca de palavras com o simpático Britt Daniel no final do concerto;
Um cheirinho a mar e a mestria de Tony Allen (o responsável pela bateria dos The Good, The Bad & The Queen) na Póvoa de Varzim, na 1ª edição do Festival Músicas do Mar;
O prazer que nos proporcionam as viagens, nomeadamente o de descobrirmos além-fronteiras agendas de concertos mais simpáticas do que a nossa; o concerto de Ryan Adams em Estocolmo.



  João Pedro Barros
 
Os lendários Journey
“Don't Stop believing”: a power ballad azeiteira de 1981 dos Journey é o melhor exemplar do género. Ao servir de banda sonora para a melhor última cena de todas as séries, naquela que foi a melhor série dramática de sempre (Os Sopranos), tornou-se num clássico pessoal instantâneo.
Desmaterialização da música: o lançamento de In Rainbows pode vir a ser recordado como um momento decisivo na história da indústria; e fez regressar, na era da Net, a expectativa pelo dia de lançamento, porque desta não houve leaks.
Materialização da música: receber a linda caixa de In Rainbows em casa fez-me voltar a ter prazer em comprar música (em formato físico) e deu-me uma oportunidade de (re)descobrir o vinil.
Os mitos que me faltam ver ao vivo são cada vez menos: este ano saíram da lista os Sonic Youth. Thurston Moore ainda parece um puto e Kim Gordon tem classe para dar e vender.
O “adeus ao rock’n’roll” dos Mão Morta, anunciado por Adolfo Luxúria Canibal no palco do festival Paredes de Coura. Pode ter sido um happening semi-falhado, mas rock’n’roll também é isto.
Ver Control, o filme de Anton Corbijn: um mergulho de grande beleza e sensibilidade no universo da minha banda favorita de todos os tempos, os Joy Division.
Mia Clarke a “dilacerar” a sua guitarra em Paredes de Coura. Aquela mulher tem garra (e beleza)!
Bons momentos vividos no Theatro Circo, em Braga: um espaço que se afirma, com merecimento.
Sete anos depois, a Bor Land de Rodrigo Cardoso continua a dar cartas, a mostrar talento e ousadia. Norberto Lobo e Lobster são ao mais recentes exemplos.
Observar a profusão de vendedores de tampões de ouvidos à porta dos concertos na Suécia, mesmo que o intérprete seja um tranquilo e acústico… Ryan Adams!


  Miguel Arsénio
 
You are a designer
Por razões completamente egoístas, o momento mais alto do ano em termos musicais foi mesmo ter escutado “Problems” dos doentios Hospitals na ZDB. Em termos mais familiares, certamente as sessões de "Fada do Lar" na Rádio Zero e as gravações da radionovela "O que fazem mulheres".
A Farta Ceia dos 13 na Avenida da Liberdade (Frango, Gala Drop, Tropa Macaca, etc.) e a sensação póstuma de que essa noite foi quase como sonhar acordado. A saliva não parará de acumular até novo banquete no dia 21 de Dezembro.
Reter “The Zoo” do R. Kelly como tema do ano pelo milagre que representa aquela letra na combinação impossível de sedução, zoofilia, “camp” e sexualidade sobre-humana em que o Kells é mesmo o campeão.
Desafiar meio-mundo para o circuito de mini-golf na vizinhança e descobrir na Suiça (Cabanas e Frei) a minha selecção fetiche para o Pro Evolution Soccer na Playstation, depois de ter vivido anos a apostar no México.
Um oceano de luxúria Drag City: presenciar o arrepiante storytelling de Bonnie “Prince” Billy no Maxime e perseguir o rabo-de-cavalo da Joanna Newsom na “Colleen” que conheceu a Aula Magna.
Senhores absolutos do drone (do imundo ao benigno): Burning Star Core, Machinefabriek, David Maranha e Beautiful Schizophonic. Todos cumpriram um ano fora de série.
Reparar em como “The Money Will Roll Right In”, absoluto clássico dos Fang, consegue ser um hino niilista actual mesmo que já tenha um quarto de século em cima. Ressurgiu no disco de RTX, concerto de Mudhoney no barracão da margem sul e no encore familiar dos NOFX.
Jejum de uma vida interrompido por três inesquecíveis doses generosas de Beastie Boys, o que equivale a “Sabotage” e a Money Mark fora de si mesmo vezes três.
Passar Dashboard Confessional e Jimmy Eat World no casamento progressivo da Za.
T.


  Nuno Catarino
 
Amor.
Ornette Coleman ao vivo na Gulbenkian: o mais importante músico do mundo actuou em Portugal em boa forma, encerrando o Jazz Em Agosto 2007.
O festival Summercase em Madrid - pelo bom ambiente, pela quantidade de concertos, por !!!, Arcade Fire e pela grandiosa despedida com os LCD Soundsystem e o hino “All My Friends”.
O incêndio Borbetomagus no MusicBox; as labaredas Wolf Eyes no Out.Fest, que também se aproximaram dos mesmos conceitos de destruição.
Muitos e bons concertos jazz em Portugal: Martial Solal & Dave Douglas na Culturgest; Brad Mehldau a solo no CCB; Ken Vandermark imparável em diversos registos; Evan Parker em grande nível em Coimbra e no CCB; David Murray e Matthew Shipp no Lux; os allstars SFJazz Colective no Funchal; o histórico Henry Grimes em Ponta Delgada.
Belos concertos pop/rock em Lisboa: Panda Bear, The Who, Bonnie "Prince" Billy, Cansei de Ser Sexy, Joanna Newsom e Akron/Family.
Conversar com o simpático John Scofield em Paris; fazer headbanging com os Explosions In the Sky em Barcelona.
Reviver uma adolescência tardia com a descoberta do fantástico disco “Un soplo en el corazón” dos espanhóis Family e o regresso aos Belle & Sebastian.
Conhecer o Portugal pré-1985 nas palavras de Nuno Bragança e descobrir a sensibilidade americana de Carson McCullers.
Regressar ao melhor cheesecake do mundo no Toma Lá Dá Cá; cumprir a promessa de não voltar a entrar na Casa da Índia; aprender a fazer um bolo de chocolate semi-húmido (o qual, diga-se sem modéstia, é bastante apreciado); arriscar a vida por pimentos padrón e de vez em quando voltar às tapas; iniciar o hábito de visitar três vezes por ano a Velha Gruta.
Assumir (finalmente) o amor por Rocky Balboa; rir com o excesso de Shortbus; assistir à rara expressão de trôpega dignidade de Honra de Cavalaria; redescobrir Jacques Tati; a rendição à delícia Ratatouille.


  Pedro Rios
 
Aproximações ao Som Total em Marches of the New World
David Maranha: O ano é dele. Marches of the New World é talvez o disco português que mais marcas me deixou. Ouvir o David, no seu sótão, perto do Aeroporto da Portela, a improvisar no Hammond, a alcançar essa coisa de "Som Total", fez-me sorrir.
M.I.A.: O ano é dela. Kala é um genial atestado de mestria e "Paper Planes", "Jimmy", "Boyz" e "Bamboo Banga" são as canções do ano. É a figura pop da contemporaneidade por excelência.  
For the Entrance of the Sun e Crossing Birds. Realizações pessoais e colectivas (A, K, A, T <3).  
"Eu ImPorto-me", "Juntos pelo Rivoli", sintomas de um Porto civil que acorda, que faz as coisas e que vence batalhas (mesmo em tribunal).  
Descobrir (um pouco) Lisboa, as suas lojas de discos de primeira água (Flur e Ananana) e recantos aprazíveis (a Bomba Suicida, o Chiado) em quatro dias.
Descobrir (um bocadinho) do centro de Portugal numa roadtrip inesquecível com a melhor co-pilota do mundo.  
Frango na Fábrica de Som: menos é mais, pratos e delay a desenharem um universo de Som.  
Calhau! e Manta Rota no Passos Manuel: boa onda via África, psicadelismo, noise benfeitor e humor. 
Os graves e subgraves de Dizzee Rascal (concerto do ano), Buraka e "mitralhada" baile funk no Parque de Estacionamento da Casa da Música.


  Rafael Santos
 
A transfiguração como alternativa © Catarina Amaro
  Momentos: 5 Negas
A ideia que Portugal está inevitavelmente encalhado na cauda da Europa. Diga-se de boa verdade que as últimas governações não têm facilitado o fim do pessimismo reinante. Será que o dinheiro na carteira do povo facilita a inversão das estatísticas? Humm! Um mistério para os políticos!
Já agora, repararam no regresso de Santana Lopes?!? É preciso lata!!
A misantropia das majors que continua a não iluminar o caminho para o futuro ou o conformismo estático das editoras perante a revolução do mp3. Prince e Radiohead foram os mais recentes murros na barriga do moribundo.
A saloiice intelectual dos governantes que exigem mais música portuguesa na rádio. As cotas poderão forçar as playlist's mas o público pode continuar a não gostar da péssima música que se produz em alguns quadrantes da nossa pop/rock. Para quando cotas mínimas para mais programas de música na TV?
Rapto ou morte? Pais McCann: vítimas ou assassinos? O que é feito de Maddie? Devolvam Maddie! Um ano fabuloso para o jornal 24 Horas. Nunca se viu tanta especulação e palermice mediática num jornal só. Já agora um agradecimento às televisões que muito contribuíram para o aumento do entretenimento informativo. Bem dita hora que os McCann visitaram Portugal...
Um insulto muito especial para o meu sócio que acertou nos 5 números do Euromilhões na semana em que não registou o boletim da sorte.
   
  Momentos: 5 Positivos
Para muitos o Dance Stacion pode não ter sido o mais interessante dos festivais de Verão mas o serão passado entre a estação do Rossio e o Coliseu dos Recreios marcou-me a memória. E acho que fiquei a dever dinheiro a alguém...
A edição de Alive 2007 dos Daft Punk. Voltou-me à memória o espectáculo magnífico no Sudoeste do ano passado.
Dr. House foi a grande descoberta do ano na TV. Referências elogiosas para outras grandes séries de televisão: Heroes, 24, Prison Break e já agora Betty Feia. Em Portugal nota positiva para os Gato Fedorento (a melhor sátira politica) e A Guerra (documentário de Joaquim Furtado sobre a Guerra Colonial).
Destaque para uma série de grandes músicas que enriqueceram o panorama musical em 2007: Pinch “Brighter Day” (ft. Juakali), Bob Marley & The Wailers “Don’t Rock My Boat”(Stuhr Remix), Sharon Jones & Dap-Kings “01 100 Days, 100 Nights”, Christian Prommer “Strings Of Life”, Kanye West “Good Morning”, The Field “Mobilia”, Pantha Du Prince “Saturn Strobe”, The Midnight Juggernauts “Into The Galaxy”, Moodymann “Technologystolemyvinyle”, Hot 8 Brass Band "Sexual Healing", Bonde do Role "Gasolina" (Buraka Som Sistema Remix), Kode 9 "Magnetic City", entre outros que a memória atraiçoa.
Grandes discos em 2007: o inevitável Untrue de Burial, Matthew Dear, M.I.A, Bjorn Torske, Nostalgia 77, Justice, Cobblestone Jazz, The Cinematic Orchestra, Boys Noize ou Ebb. Para o ano há mais. 


Rodrigo Nogueira







  Samuel Pereira
 
McLovin
Acabo de pintar a casa de branco. Tenho tudo em caixotes, excepto um velho prato onde coloco, um a um, os discos que compõem a minha pequena colecção de álbuns dos Tangerine Dream. Mistura-se o cheiro a tinta (tenho a certeza de que a tinta branca tem um cheiro diferente das outras), o pouco vinho que me restou do almoço e a certeza de que, naquele momento, sou uma pessoa feliz (num mundo branco).
Entrevisto, em Gouveia, o guitarrista Christian Saggese. Estou preocupado: o seu inglês é parco e o meu italiano, apesar da minha ascendência, já teve melhores dias. Começamos a falar de Jaco Pastorius e, de repente, todas as barreiras parecem superadas. Sabe de cor todos os resultados semanais do futebol italiano, vê as séries estadunidenses da moda, aspira a casa, bebe café, ouve Jaco Pastorius ao domingo de manhã (mas apenas se estiver sol) e votaria em Demetrio Stratos para a presidência da república. No final, insiste em pagar o café.
O quinteto do Ornette Coleman dá um concerto arrepiante na Fundação Calouste Gulbenkian. Concluo que gostaria (eu, não ele) de ter sido baterista.
Outros concertos: Magma, em Gouveia; Amélia Muge, em Lisboa; Bonnie 'Prince' Billy, em Lisboa; Sérgio Carolino e convidados, em Alcobaça; Laurie Anderson, em Lisboa; Rolling Stones, em Lisboa; Christian Saggese, em Gouveia; The Who, em Lisboa; Robert Fripp Soundscapes & The League of Crafty Guitarists, em Gouveia; Faun Fables, em Lisboa; Rose Hill Drive, em Lisboa; IB Expo (Isildurs Bane + Björn J:son Lindh + Tuner + Metamorfosi Duo), em Gouveia; California Guitar Trio, em Gouveia; e Kurt Wagner, em Lisboa.
De há uns tempos para cá passei a ouvir cada vez mais rádio. Ouço um pouco de tudo: dos pequenos programas de autor aos relatos da bola, cujos clubes mais não são do que versões engomadas dos solteiros e casados. Mas eis que de vez em quando apanho grandes momentos de rádio (a rádio ainda tem grandes momentos). Foi exactamente isso que me aconteceu, no regresso de uma muito merecida tarde de praia. O programa em questão, "História devida", já por outras vezes me prendeu a atenção: trata das histórias de anónimos, de pequenos acontecimentos que nunca farão parte da história mundial, mas que, talvez por isso mesmo, nos são mais próximos, mais "reais". Fiquei atento. Pareceu-me ter ouvido "Wyatt" – é engraçado ouvir o Miguel Guilherme a dizer "Wyatt". O meu coração começou a bombear cada vez mais sangue: estabeleciam-se pontes entre gerações enquanto o autor relatava uma busca ocorrida há mais de vinte anos. Estabeleciam-se pontes entre pessoas, entre nós. Também eu teria empreendido essa busca numa praia nos arredores de Barcelona, para que, no final, quando já toda a esperança estivesse perdida, pudesse transformar a angústia em realização. A forma como isso ali se fez deu origem a um texto belíssimo que vos aconselho a ouvir. O autor, Ricardo Saló, produziu um momento de sublime beleza – daquele tipo de beleza que, segundo o João Lopes, "nos obriga a sair de nós mesmos".
"I am McLovin", a frase que fez de Superbad Fogell (Christopher Mintz-Plasse) o nerd mais cool de sempre.
As crónicas escritas pela Alexandra Lucas Coelho, durante a sua estadia nos Açores, para o jornal Público.
A crónica do Miguel Esteves Cardoso sobre a Festa do Avante – e a chapada de luva branca que foi a sua outra crónica sobre o despedimento do António Sérgio.
O prémio Nobel da Literatura de 2007 é atribuído à britânica Doris Lessing. A senhora, que entretanto já havia perdido a esperança de alguma vez ganhar o dito galardão, caminha muito calmamente num supermercado ao pé de sua casa. Mais uns bolinhos de côco; acho que o chá está a acabar; este tipo quer meter-se à minha frente na fila.
A entrevista de Paris Hilton a David Letterman.
Aprendo a utilizar o meu cartão Multibanco.

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