Super Bock em Stock
Avenida da Liberdade, Lisboa
23-24 Nov 2018
Dia Dois

Peçam-se três bagaços. Faça-se a piada previsível com o facto de o vinho em exposição provir de Alcochete. Engula-se tudo depois de uma bifana com mostarda e remate-se com um fino. O resultado é uma dor de cabeça chata no dia seguinte, aliada a fortes dores nos músculos, porque depois desse fino OBVIAMENTE que se seguem vários outros, e mesmo que a cabeça diga não estou bêbado o corpo sabe muito bem que estás e vai-te foder a puta do domingo. E está resumido o festival... Ou estaria, não fosse David Bruno ter voltado a Lisboa com aquela léria nortenha que só ele e os Conjunto Corona conhecem.

Devidamente acompanhado pelo Jimmy Page de Carapeços ou lá que é, o bom do dB veio ao Super Bock Em Stock apresentar uma vez mais o óptimo O Último Tango Em Mafamude, obra-prima da portugalidade vista com os olhos de quem cresceu com a Internet e com Valentim Loureiro ao mesmo tempo. Porque é mais ou menos isto que é: a piada do disco só será compreendida por quem tem entre 25 a 35 anos, algum sotaque e uma avó minhota que acha que não gostámos da comida só porque não engolimos a panela inteira. Esses perceberão que faz todo o sentido ver David Bruno e Marco Duarte tocar debaixo de um enorme fresco do brasão de armas do país. Os outros terão de se contentar com os beats e com os versos, simples, elegantes e eficazes que ali foram debitados - quer por anónimos, quer por gente da cena. Tão bom que até se teve de repetir "Alfa Romeu & Julieta" e "Lamborghini Na Roulotte" no final.

Só não se quis repetir o concerto dos Saxophones, que pareceram banda para fazer o amor ao fim da noite numa hora em que a malta ainda só vai no início da mesma. O que não quer dizer que não sejam maus, foram só extremamente aborrecidos neste contexto específico de querer ir javardar para outros lados. Se os escutarmos relaxados e confortáveis, na salinha, com conhaque e uma manta, rapidamente percebemos que "If You're On The Water" é uma canção extraordinária, algures entre Destroyer e Amen Dunes, e que todas as outras são iguais a "If You're On The Water".

Talvez por isso fosse possível ver tanta gente abandonar a sala do São Jorge a meio do concerto, ou porque no Coliseu, e para fechar o festival, os Jungle já se encontravam a postos para fazer toda a gente abanar a anca. Quem não esteve a postos foi o sistema de som, que foi abaixo pelo menos umas duas vezes, naquele que foi um momento 7,7/10 na escala de "Korn no Rock In Rio". A plateia, que lotou a sala, não se entristeceu por causa isso; ficou, berrou, dançou, e continuou sem perceber que os Jungle são um sono, feito a pensar não em quem gosta de soul/funk mas em quem acha que "Get Lucky" foi uma canção boa (a "Busy Earnin'" até é fixe, vá).

Tal como no primeiro dia, as honras de abertura couberam ao hip-hop, nomeadamente às escolhas de Darksunn, que devido ao mau tempo passou do terraço do Capitólio para o seu interior. Desde set fica a malandrice do senhor encarregue de servir cerveja, quando questionado por um transeunte se se poderia fumar dentro da sala: «só quando estiver cheio, senão dá muita cana»... Mais abaixo, na garagem da EPAL, o menino Éme tornou-se um senhor desde que a gente o viu pela última vez ao vivo, indo de "Sonho Mau" a "Um Lugar" com uma mestria fabulosa, acompanhado por Lourenço Crespo, Miguel Abras e «um baterista invisível e pequenino» cuja marca não captámos.

Também de canções se fez Cavalheiro, que nos entrou fundo dentro da alma mesmo que o público não fosse o exigido; cínicos, pensaremos que isso apenas se deve ao facto de ele ter nascido de Santarém para cima. Honestos, pensaremos exactamente o mesmo. Já Lo-Fang foi só um cometa raro a passear-se pelo Super Bock Em Stock; apresentou uma folk sussurrante, temas sobre tipos ciumentos apanhados a cuscar o Facebook da namorada e, mal Otávio falhou um penalty, começou a cantar pelo Francisco e pela cadeira do Francisco - não vimos o que se passou e, francamente, isso também não interessa para nada. As U.S. Girls desiludiram: demasiada gente em palco para aquilo que não passou, ao vivo, de uma pop minimamente interessante tocada para uma plateia cheia de nada.
· 05 Dez 2018 · 23:11 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

Parceiros