Luna
Salão Brazil, Coimbra
3- Set 2018
O dia até tinha começado da pior forma, com a EMEL a decidir lixar quem estaciona em lugares vagos e não ocupados por residentes (esquecendo-se de que já não há "residentes" em Lisboa; foram todos substituídos por turistas). Mas pronto, admita-se a culpa. O mau humor passa depressa e é substituído pelo entusiasmo de nos colocarmos a caminho de Coimbra, onde os míticos Luna, do não menos mítico Dean Wareham, iriam dar um concerto que serviria como aquecimento para o festival Lux Interior, que se realiza em breve.

Formados a partir das "cinzas" dos Galaxie 500, os Luna foram iconicamente descritos como «a melhor banda que nunca ouviste» e aqueceram bastantes corações ali nos anos 90, década em que lançaram a grande maioria dos seus álbuns de estúdio, tendo acabado em 2005 e regressado, dez anos depois, para uma muito aguardada reunião, a mesma que passou esta segunda-feira pelo Salão Brazil. Alguns dos corações que aqueceram estavam ali, em maioria; seria insensato dizer que há bastantes jovens a apreciar a música dos norte-americanos. Alguns, talvez. "Bastantes"? Nem pensar.

Até porque é necessária uma certa melancolia interior, uma certa nostalgia pelas coisas antigas para apreciar devidamente a sonoridade dos Luna, tal como sucedia com os Galaxie 500. Esta é a música de uma meia-idade a procurar ser novamente criança. Sem ai nem ui, começa-se logo com "Chinatown" e esquece-se aquilo que apoquenta os fãs de hoje em dia: as contas por pagar, a família, a deterioração física. Ouve-se apenas uma inverdade que não o deveria ser: «You're out all night / Chasin' girlies / You're late to work / And you go home earlies»...

Há linhas de baixo deliciosas a complementar o choque entre guitarras. O típico rock indie norte-americano, aquela candura que faz voar bem perto da lua. Uma versão de "Fire In Cairo", dos Cure, e outra, com um fenomenal momento noise rock pelo meio, de "Bonnie & Clyde", de Serge Gainsbourg (e cantada em francês, nada de traduções patetas). Alguém pede "Lost In Space" através de um cartaz rudimentar, mas essa não estava no alinhamento; foi, no entanto, feita mais tarde a vontade do fã - porque se esta era uma noite de reencontros, também o era de amizades e jeitinhos. "Friendly Advice" leva uma rapariga a chegar-se à frente com o maior sorriso do mundo. E tudo termina com o caos de "23 Minutes In Brussels", Suicide pelos Luna pelo mágico Dean Wareham. Foi tão bonito que nem a polícia, que apareceu por causa do barulho, o conseguiu estragar no final.

A primeira parte esteve a cargo dos locais Birds Are Indie, que começaram por agradecer ao pessoal o ter saído de casa a uma segunda-feira à noite (agora imaginem ter ido desde Alverca até Coimbra de propósito), antes de arrancar com "I Never Wanted That", tema presente no seu último álbum, Local Affairs. O pop/rock electrizante do quarteto conhece apenas pausa nas muitas declarações de Ricardo Jerónimo, que já tem essa fama de falador. "The Place" é dedicada aos amigos A Jigsaw, houve uma versão de "23 Minutes In Brussels" com consentimento dos próprios Luna e ainda diatribes sobre praias nudistas e águas frias, pretexto para "Come Into The Water". E houve fofice. Bastante.
· 17 Set 2018 · 01:13 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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