Orchestral Manoeuvres In The Dark
Aula Magna, Lisboa
16- Fev 2018
Quanto vale a nostalgia? Entre 28€ e 40€, os mesmos que dezenas de pessoas pagaram para entrar na - e esgotar a - Aula Magna naquele que foi o regresso dos Orchestral Manoeuvres In The Dark a Portugal, dois anos após a estreia no Festival de Vilar de Mouros. E houve, até, quem não o conseguisse fazer, como o jovem casal que foi barrado na bilheteira e se martirizou por não ter comprado a entrada mágica mais cedo. Seriam, talvez, o único "jovem casal" presente nas imediações da sala lisboeta; o restante público, salvo algumas excepções (como as famílias numerosas e betas que se tratam por "você" e "mamã"), tinha claramente deixado de ouvir música nova nos anos 80. Há mal nisso? Claro que não. Quer dizer, algum.

Mas - e isto é um mas - ninguém celebra tanto como quem já não o faz há muito tempo. E esta era uma noite de celebração. Da dupla britânica, que se estreou em Lisboa quase 40 anos após a sua formação. E da juventude enquanto conceito, porque não será difícil acreditar que, para a grande maioria dos casais de meia-idade ali presentes, existem muito poucas oportunidades para a voltar a reviver. Muitos estiveram lá como prenda de São Valentim. Outros tantos, como se pôde ouvir, de forma alheia, no comboio de volta para casa foram porque os filhos foram simpáticos q.b. e compraram-lhes os bilhetes. Também não será difícil acreditar que este será dos poucos, senão o único, concerto que verão este ano...

Com uma primeira parte a cargo de Balla («a pedido dos OMD», conforme se lia em papéis afixados à porta), que num alinhamento curtinho inseriram as suas duas grandes canções ("Outro Futuro" e "O Fim Da Luta"), os Orchestral Manoeuvres In The Dark chegaram à capital para apresentar The Punishment Of Luxury, o seu novo álbum, editado em 2017. Convenhamos: seriam muito poucos os que queriam saber disso para alguma coisa. Aliás, é certinho que aquele público estava lá pelos êxitos, dançados num Frágil desta vida algures em 1981. Apesar de The Punishment Of Luxury ter tido boas críticas aquando do seu lançamento, o desconhecimento dos presentes dessa mesma obra era notório; a dança refreava, as palmas idem, e as bocas ficavam fechadas e quietas, esperando pelo momento em que pudessem voltar a soltar um verso reconhecível.

Mesmo que os Orchestral Manoeuvres In The Dark se posicionem em dois campos que à partida seriam opostos - são uma banda de êxitos, sim, mas também têm aquela coisa denominada credibilidade indie; foram dos primeiros a lançar pela Factory, afinal de contas -, e mesmo que toda a atmosfera Kraftwerkiana com coração humano seja palpável ao longo do espectáculo, a música aqui, especialmente a mais recente, foi secundária. Foi um concerto apto a revivalismos, uma lembrança de um passado cada vez mais distante, uma forma de libertar a tensão do dia a dia. O mote foi dado pelos próprios OMD, que sabem bem que nunca mais serão as mega-estrelas que já foram: «New songs, old songs, dancing!», resumiram logo à partida.

Ao segundo tema, já metade da sala se encontra de pé, e outras dezenas de pessoas responderiam ao repto, o que proporcionou momentos de puro gozo a quem é ligeirameeeeente mais jovem e acha um piadão à visão de cinquentões a curtir mil. Não que não o tenham feito, por arrasto; aliás, foi um pouco difícil ficar indiferente à energia que Andy McCluskey mostrou ainda ter, cumprimentando as filas da frente e pulando/dançando de um lado do palco ao outro, com ou sem baixo, sempre com a voz que se escuta nos discos e não com algo mais gasto. E com um sentido de humor extraordinário: «You lot were dancing to a song about the end of the universe...», gracejou, sobre "The History Of Modern (Part I)".

Descrevendo "If You Leave" como uma canção que provocou ódios nos fãs europeus (por ter feito parte da banda-sonora de Pretty In Pink, de 1986), e passando por "Souvenir", "Joan Of Arc" e "Talking Loud And Clear" («this song is 33 years old and I still manage to fuck up the lyrics...»), os OMD terminariam a primeira parte do concerto com "Enola Gay", como seria de esperar - não se sabe se haveriam Super Dragões na assistência, mas é um tema que é sempre alvo de carinho especial. No encore, "Pandora's Box", "Secret" e, claro, "Electricity", a malha punk com a qual se deram a conhecer ao mundo. Sem que poucas ou nenhumas pedras tivessem ficado por virar, os Orchestral Manoeuvres In The Dark souberam cativar um público à partida fácil e, mais importante ainda, não despejaram um balde de água gelada sobre o seu vasto legado. Quanto assim é, não se pode senão ter um enorme respeito por quem ainda faz da sua juventude uma carreira. E ainda prometeram voltar em breve.
· 21 Fev 2018 · 17:18 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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