Culf of Luna
Casa da Música, Porto
17 Set 2005

É sintomático que a primeira vez que uma banda do novo metal - não o nu, que já nasceu bolorento - actua em Portugal o faça na limpinha Casa da Música. A indústria musical encarregar-se-á de encontrar o rótulo mais conveniente, mas as coordenadas estéticas deste novo metal estão lançadas: descendem do metal menos ortodoxo dos Neurosis e dos Godflesh, a que lhes juntam doses massivas de groove stoner e passagens pós-rock reminiscentes de bandas como os Mogwai.

© Ana Sofia Marques

É, portanto, uma nova forma de metal (mas não necessariamente inovadora), que tanto agrada ao tradicional metaleiro como ao público indie. Os suecos Cult of Luna são a excepção europeia dentro deste campeonato, disputado por grupos norte-americanos como os Isis, Red Sparowes e Pelican. O concerto na Casa da Música - o primeiro de metal na história da sala - era por isso aguardado com alguma expectativa, até porque foi o primeiro do grupo em seis meses.

Abriram com “Echoes” que também principia Salvation, o último álbum do grupo, editado há cerca de um ano. “Echoes” começa com um dedilhado pós-rock e uma melodia melancólica de sintetizador. Depois de uma passagem tribal, a remeter para os Neurosis, a calma dá lugar ao headbanging compassado. Depois, o tema segue a estética habitual dos Cult of Luna: vai ao stoner e ao doom buscar o balanço e a agressividade, fazendo-o alternar com momentos calmos e introspectivos.

© Ana Sofia Marques

Apresentaram dois temas novos, um deles a apontar parcialmente um novo rumo para o grupo (um novo álbum deve sair em 2006), ao abrir com uma longa introdução instrumental com três guitarras entrecruzadas que podiam pertencer aos Interpol. Visitaram The Beyond (2003) em “Genesis” e “The Watchtower” (com direito a um final apoteótico com dois bateristas) que constituiu o encore. O vocalista anunciou que aquele era o primeiro encore de sempre do grupo, atestando a calorosa recepção à banda pelo público português.

Foi nos momentos mais directos, como “Leave me here” (entre a celestialidade dos Explosions in the Sky e a “bruteza” do metal), que o septeto se mostrou mais interessante. Noutros sofreram o mal de não terem argumentos suficientes para sustentar canções tão extensas. Não sendo os mais excitantes da nova vaga de metal (o pelouro é, desde há muito, ocupado pelos Isis), serviram, contudo, para satisfazer uma quantidade razoável de pessoas.

· 17 Set 2005 · 08:00 ·
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com

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