Noite Príncipe - Puto Anderson / AJ Tracey + Elf Kid + General Courts / Nidia Minaj / JLIN / DJ Firmeza
Musicbox, Lisboa
9- Abr 2016
Parabéns a você Music Box. Uma década de existência. Uma história bem vincada na noite lisboeta. Templo maior das míticas noites que nasceram há quatro anos da parceria com a Príncipe Discos. Por isso muitos anos de vida, celebremos nesta data querida: 9 de Abril.

Onze e picos da noite, a noite ainda não era Príncipe, era ainda uma criança e uma promessa com poucos anos mais, Puto Anderson. Entre aquecimento na maquinaria, entre vai não vai, a sua pica foi vítima da hora, que ainda fazia pouca gente estar por ali, preferindo atestar-se em cervejagasolineiras ali ao lado. Copo a copo, as pessoas iam chegando às mijinhas e o Puto ia arrancando o seu sonoro talentoso, levantando o pé a quem ia entrando.

De repente, mais ou menos na hora prevista, lá pelas mil e meia-noites, entra um MC de peso, literalmente. Que arranca logo para a faixa da esquerda da autobahn Txiga-Londres Oeste-Sul. O Puto ia bem, na faixa do meio, mas foi assim uma aceleração brutal. General Courts in the house my friends, disparando artilharia. Em menos de um minuto, tinha já tudo baleado a dançar. Paralelamente começou o fluído de mais gente a chegar. A cavalaria da copofonia entrava na casa que rebenta com a chegada de mais gente: o resto deste trio de nomes que estão a ficar grandes no grime: AJ Tracey e Elf Kid. Grime da melhor linha, com todo o arsenal rapper dos dois, sempre numa energia contagiante, evológica, nevrálgica. Intensidade máxima. Elf Kid qual professor de rapperaeróbica, sempre a mil, aos pulos, aos saltos entre palavras. O golden boy dava aula em boa companhia numa sessão de “1000 calorias a menos” em abdominal-Ladbroke Grove-style sempre com a ginga cockney nas rimas. AJ mais na dele, despindo a sua fatiota de treino da seleção da Albion, peça a peça, até chegar ao nirvana de pulos e tronco nu que Elf demonstrava logo desde o começo.

“Make fuckin’ noise” repetiram muita vez durante este pico, este auge de muitos minutos. E o público cada vez em maior número, respondia amestrado pelos ritmos do General. “Best Dj in the world”, diziam. Passe o exagero, de repente até fazia sentido, porque o General é mesmo bom, manda, dá-lhe, manda vir, amestra, as vozes completam-no muito bem. Um nome a reter. “We love you Lisbon!”, ya nós também. Love Lisbon. E grime, claro.

A seguir, Nídia Minaj. Mas esperem, não. Dizia o cartaz que sim, mas a sapiência da observação da vibe das hostes, já em polvorosa e ainda a faltar muito (imagino que tenha sido isso), fez a organização antecipar a Jlin. E eis ela que surge, tímida, obscura, ainda com o General a pavimentar-lhe a estrada sonora para a passagem sem paragem. Maravilha: Miss Jerrilynn Patton mudafuckers, detentora do disco do ano para a Wire e do disco que eu tinha ouvido o dia inteiro antes de ir para a cena, o portentoso Dark Energy. Presenteou-nos com o seu footwork hiperfragmentado, sexy siderúrgico, uber dançável mas não à primeira, pelo menos para cérebros menos fritos (sim, eu dancei bué). Por isso entendi a aposta, que fez alguma da multidão acalmar um pouco, refrear, beber mais ou wórévá (detesto que diz “whatever” nas conversas, a sério). Quem soube aproveitar aquela energia negra, magia negra, com matrix em pano de fundo (grande VJin’, ou VJlin’), não se arrependeu. Os copos já me toldavam a memória nessa fase mas foi inesquecível ouvir de repente Ofra Haza na mix de passagem entre estas duas divas da electrónica. Sim, Nídia Minaj já estava no palco. Passagem de testemunho, sai Jlin e a nossa regressada à Tuga toma conta do telecomando mudando todos os nossos canais corpóreos em zapping, de filme em filme. Oh pés de chumbo aborboletando. Porra, nesse trilho sem parar sei que ouvi um resquiço de Drake, um “cellphone” por ali num afrohouse portentoso. Sei que estava tudo a dançar, até mesmo o “mate” General Courts que aparece no palco assim do nada (a.k.a. backstage), louco com a cena. Pudera, merece.

Hora e tal depois no sumário do “pá, Puto, Grime, Jlin, Nídia até agora 5 estrelas”, casa-se o número, e já são quase 5 da manhã. Eis que chega a hora F: Firmeza! Tudo firme por ali apesar dos excessos, pronto a poder levar com o banho sonoro de um dos artistas da Príncipe que mais tem conquistado o mundo e arredores (para quem acha que é de Saturno).

Atrás dele, o trabalho do VJ brilhava, aprontava maldades, (props para João Pedro, residente habitual do MBox, em parceria com psicodesenhos do grande Márcio Matos). Não é todos os dias que, sem estar a alucinar, vejo Salazar com fitinhas coloridas na cabeça, uma série de Salazares para compensar a sorte que é estar ali ao som do DJ Firmeza que não brinca em serviço. Assim, branco no preto, está ali para unir a tugaland. Manifesto? “One Love” do Bob Marley entre os breaks futuristas da sua panóplia sonora. Entre gourmetanfetaminas, o seu cardápio sonoro ainda tinha mais: uma homenagem ao artista que melhor fez a ponte entre Portugal e África neste país rectangular às vezes tão quadrado. Zeca Afonso e o seu Vila Morena agora a 200 à hora na reta de Grândola, f####-se os buracos, são beats, são Salazares com cornos nos olhos, oh demo, oh democrazy, Zeca e Jeff Mills tudo atarraxado, não estou marado não. Ouvi, senti. Obrigado. Quero mais.
· 13 Abr 2016 · 22:19 ·
Nuno Leal
nunleal@gmail.com

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