The Gloaming
Culturgest, Lisboa
04- Mar 2016
Apesar da sua programação musical estar habitualmente aberta às músicas do mundo, apresentando concertos de músicas oriundas das mais variadas origens, num gesto menos habitual a Culturgest apresentou desta vez um concerto com uma banda que estava anunciada como “música tradicional irlandesa”. Contudo, os The Gloaming não se limitam a apresentar música tradicional, pegam nessa música tradicional para fazerem uma revisão contemporânea e original.

Perante um grande auditório esgotado, a banda tratou de apresentar a sua revisão e actualização, sofisticada, da tradição irlandesa. Um dos trunfos do grupo é a instrumentação pouco habitual: um violino atípico (“fiddle” irlandês), uma voz (sóbria) e um “hardanger d'amore” (misto de violino norueguês “Hardanger” e viola d'amore) combinam com uma guitarra acústica e um piano clássico. Sem espalhafato, o quinteto desenvolve em palco uma interpretação contemporânea de temas antigos (na sua maioria), com sobriedade e elegância.

Juntaram-se no palco Martin Hayes (“fiddle”), Iarla Ó Lionáird (voz), Caoimhín Ó Raghallaigh (“hardanger d'amore”), Dennis Cahill (guitarra) e Thomas Bartlett (piano) – este último um produtor nova-iorquino que tem trabalhado com gente como Sufjan Stevens, The National ou Sam Amidon. Se a interpretação de cada música é tecnicamente irrepreensível - o virtuosismo é evidente em todos os músicos presentes no palco, especialmente em Martin Hayes -, é sobretudo saliente a dinâmica colectiva, é essa a característica fundamental que atravessa toda a actuação do grupo.

A combinação da exuberância melódica dos cordofones com a voz, ampliada pelo classicismo do piano, gera uma música assente no sentimento, com uma intensidade que por vezes se aproxima de um patamar quase religioso. O público que encheu a Culturgest saiu rendido.
· 08 Mar 2016 · 15:20 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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