Hinds / Modernos
Hard Club, Porto
7- Fev 2016
Tudo começa à noite, à noite no Hard Club com Modernos a abrir e Hinds a serem o ramalhete. De Modernos, agradável surpresa lisboeta feita de “etéreo rock á moda tuga” e momentos altos como “Casa a Arder”, primeiro single do EP #1 , a melhor definição para a sua aparição por terras portuenses a melhor definição coube ao vocalista Tomás Wallenstein: “Está a ser uma prestação porreira!” E foi. Mas existiram interstícios. Espera que, como os peixe : avião explicaram, é um arame, neste caso, um arame pontuado por conversas sobre “friend zones” que não aquecem nem arrefecem; gajos que vão embora com espanholas (não as Hinds) e muita dor de corno com Lucky Strike à mistura, num carrossel de vai e vem sem sair do lugar.

Carrossel em que não entrou Leonor. Natural do Porto, Leonor confidencia-nos que “acha piada” mas não conhece a fundo estas hermanas e “nem sabe o que esperar”, porque a sua onda até era mais Modernos. Ficou a dica, no final o Bodyspace fala contigo, e falou. Depois, como quem não quer já querendo chegaram Hinds, as quatro espanholas encantadas que demoraram a fazer pegar o motor do seu machibombo, mas que uma vez em andamento só pararam no público, literalmente em cima do público. Começou morno, lento, até parado face aos problemas técnicos que assolaram o som nos primeiros acordes do concerto, quase caso para dizer que entraram caladas mas não mudas. Elas caladas sim, mas não o mano que pontuava esses minutos de silêncio com um sonoro “caralho”; se José Cardoso Pires lá estivesse diria, por certo, que este mano, enquanto puto, “comeu cascalho com o leite”.
Após os ajustes necessários, ainda que não totalmente resolvidos como o resto da performance o iria comprovar, as Hinds partiram para uma prestação que não desmereceu mas que, demorou a convencer.

Entre um carinhoso mas travesso ” Qué passa Porto! Están bien?” e um menu de línguas (espanhol ou inglês?) logo a seguir a “Fat Calmed Kiddos”, primeira música do alinhamento, Carlotta Cosials, vocalista e guitarrista, foi puxando como podia e sabia, mas o gelo teimava em manter-se á medida que estas garbosas espanholas iam percorrendo Leave Me Alone, primogénito álbum de Hinds. “Chili Town”, Bamboo” ou “Warts” foram algumas dessas tentativas. Se no álbum a jinga e a música “na boa” destas quatro madrilenas soa a uma paixão de verão embalada pelo pôr-do-sol, ao vivo, e, devido em grande parte a problemas de som que afectavam a dispersão de voz de Carlotta, a coisa teimava em ser ligeiramente diferente, apesar da sua alma lá estar.

Qual jogo de sedução ao retardador, ora paga o público um copo às Hinds ora as Hinds pagam um copo ao público e a coisa deu-se ou não fossem elas “miúdas que não amuam”. Depois da meia-hora/quarenta minutos de concerto a música foi outra. Ao duo “Garden” e “San Diego” a fazer levantar os pés do chão e o sorriso dos rostos, o encore com “Davey Crockett” prometeu e lançou Carlotta Cosials, literalmente, para os braços do público, que num crowd surfing enamorado trocou as inflamadas juras de amor com que se acabou a noite.

Bem…acabou não, porque ainda nos faltava falar com alguém e, como prometido é devido… Convenceram-te Leonor? “Elas berram um bocadinho, pareciam a bandazinha da universidade. Parece fixe, mas… gosto mais no álbum”. Ficou uma semi-fã, se isso existe, porque apesar das palavras, Leonor ainda espera a paixão por Hinds. Um pouco como o concerto, uma espera que acabou para alguns e que se ainda irá prolongar para outros, mas uma certeza para todos: estas chicas talentosas e boa onda não amuam.
· 09 Fev 2016 · 23:19 ·
Fernando Gonçalves
f.guimaraesgoncalves@gmail.com

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