The Vicious Five
Mercado, Lisboa
10 Set 2005
Portugal. Temos Portugal, um país de costumes. Um país que, de vez em quando, pára porque duas dúzias de gajos (ou lá o que é) querem pontapear uma bola. É estranho. Ao passar por Belém, Alcântara, Santos, Cais do Sodré, não vemos quase ninguém na rua. Chegamos ao Clube Mercado, na Rua das Taipas, que supostamente ainda conta como Bairro Alto, e esbarramos, à hora a que o concerto de The Vicious Five estava marcado (10 da noite), com uma porta fechada. Uns minutos depois, saem alguns membros da banda e avisam que aquilo vai demorar. Uns 20 minutos depois da hora marcada, lá o Mercado abre as portas. Não chegariam mais clientes antes das 11 e 20.

O futebol, tal como o conhecemos, foi inventado algures em Inglaterra no século XIX. Dois séculos e muitas revoluções depois, os The Vicious Five, tal como os conhecemos, foram inventados algures em Lisboa. Como explicar um atraso de 3 horas que se deve a um jogo estúpido que gira (e faz girar) à volta duma bola axadrezada? É impossível. Mas pronto, depois de algumas horas de espera, lá entram os The Vicious Five em palco, prontos para destruir todas as concepções que qualquer pessoa tivesse sobre um clube de música predominantemente negra. "Esqueçam o futebol, a noite é de rock'n'roll", foi o que Joaquim Albergaria declarou (ou algo parecido) no início. E foi de rock'n'roll, pelo menos até ao fim da hora e muito pouco que a banda tocou. Ao vivo, a mais peculiar das contratações da Loop:Recordings (se esquecermos os Mécanosphère de Adolfo Luxúria Canibal, mas esses foram editados por uma subsidiária da Loop) está cada vez melhor e cada vez mais longe dos inícios hardcore.

É uma festa onde o rock'n'roll é rei, feita para os putos (aqueles que querem manter-se putos, pelo menos em espírito) dançarem. Nada mais. O problema é que nem todos os putos dançam, e a banda queixa-se disso. Mesmo assim, lá vai o desfile de temas de Up on the Walls, o álbum que ainda nem sequer saiu do forno, e de Electric Chants of the Disenchanted, o EP de estreia. Rápidos, concisos, e eficientes, estes são os tipos que dão tudo o que têm em palco. Os riffs, a energia, a dança estranha e contagiante do frontman e o suor estão todos lá. "We have enough self-esteem / to have no self-esteem / there's nothing beautiful here / we're all ugly" (de "Bad Mirror", o primeiro single retirado do disco) são as palavras de ordem. Ninguém se importa de fazer figura de parvo ou de idiota a dançar ao som daquilo, pelo menos num mundo perfeito. É este o desejo de Joaquim Albergaria, que desabotoa a camisa e mostra a sua barriga em todo o seu esplendor.

Há a entrega e os decibéis, há a descarga sónica, há aquilo que de mais parecido os The Vicious Five têm com uma canção de amor, com Joaquim Albergaria a gritar em falsete "I found you" mesmo em frente à sua própria namorada (algures durante o concerto virou-se para um membro da assistência e deu-lhe dois beijinhos só porque este tinha dito algo que lhe tinha agradado), há um cowbell em "Suicide Club" e há outra vez o falsete hard-rock do vocalista. E chega. Curto e eficaz, só é mesmo pena um jogo insignificante causar tantos estragos.
· 10 Set 2005 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
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