Norberto Lobo & João Lobo Sexteto
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
18- Nov 2015
Já conhecíamos bem o trajecto prévio de cada um dos músicos. O trabalho de Norberto Lobo tem passado sobretudo pelo dedilhar da guitarra a solo, indo da folk mais pura até à exploração do instrumento, construindo uma discografia que culminou no brilhante Fornalha (2014). João Lobo é um criativo baterista oriundo do universo do jazz, quer ao leme dos seus projectos (como o belíssimo quarteto Tetterapedequ), quer colaborando com nomes grandes (como Enrico Rava e Carlos Bica).

A parceria musical dos Lobos surgiu primeiro nos Norman, trio que contava ainda com Manuel Lobo. A dupla Norberto & João surgiu oficialmente em 2012 com Mogul de Jade, uma tentativa inicial, ainda imperfeita, mas que mostrava desde logo algum material promissor. Já o segundo volume, Oba Loba (edição Shhpuma, subsidiária da Clean Feed) não foi apenas a simples continuação, ou um limar de arestas, representou um verdadeiro passo em frente, uma assumida evolução.


© Vera Marmelo

Na noite de 18 de Novembro, quinta-feira, o aquário cheio da ZDB acolheu a apresentação ao vivo deste novo volume da parceria - a SMUP, na Parede, receberia o grupo na noite seguinte. Além de Norberto (primeiro na guitarra) e João (bateria), o sexteto completou-se com Ananta Roosens (violino e trompete), Jordi Grognard (clarinete e clarinete baixo), Giovanni Di Domenico (teclados) e Lynn Cassiers (electrónica e voz).

O concerto arrancou na forma de pesquisa, com instrumentos perdidos à procura de um caminho comum, que foi evoluindo para um crescendo típico da improvisação livre, até a onda rebentar. Após esse arranque, seguem-se temas estruturados, composições eficazes a fazer render o combo instrumental. Evidenciavam-se sobretudo os sopros, o piano tinha uma presença discreta mas eficaz. A electrónica ficava remetida a um papel mais secundário, surgindo apenas em momentos de maior turbulência.

© Vera Marmelo

As composições dos Lobos exploram diferentes formas, aproximam-se de diversos universos. Estes temas sabem tirar partido do apoio instrumental, que realça o sentido melódico de cada composição. João esteve sempre concentrado na bateria e percussões; Norberto foi mais variado: começou na guitarra acústica, passou pela eléctrica e tocou ainda baixo eléctrico em alguns temas.

Um dos momentos mais marcantes aconteceu com metade do grupo em palco: apenas a guitarra Norberto e os dois sopros, com a magia das cordas amplificada pelo calor melódico de trompete e clarinete. Também notável terá sido um outro momento em que a bateria de João Lobo tomou as rédeas: a bateria marcava o ritmo, de forma quase marcial, que todos os instrumentos seguiam de modo disciplinado.

O tema “Tous les Lapins” acaba por ser representativo da música do grupo, na sua grandiosidade melódica de quase-hino, envolvendo todo o grupo. A música dos Lobos não é apenas a soma das partes, o ensemble confirma uma larga amplitude estética, que vai do jazz à música de câmara, passa pelo rock e até se atira à experimentação mais rugosa. Justamente ovacionado, o sexteto regressou no final para mais um tema bónus.
· 25 Nov 2015 · 14:53 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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