Milhões de Festa
Barcelos
23-26 Jul 2015
Dia Zero

O relógio marca poucos minutos após as 17h30 quando chegamos finalmente a Barcelos, passado o martírio de percorrer, a passo de autocarro, uma estrada sinuosa que liga a Correlhã à cidade do galo, onde houve que apelar ao divino para que o nosso vómito não fosse fazer ninho em careca alheia; nunca mais, é uma promessa, uma jura, um garante, nunca mais nos aventuraremos por tamanha montanha russa independentemente de quão bem passado foi o dia menos um deste Milhões de Festa - que, como podem calcular, não se faz apenas de ou em Barcelos; é onde e como quisermos, vai desde o minuto em que se acorda para partir rumo ao Minho até ao segundo em que pousamos as malas no chão da sala, regressados e esbaforidos, cheios de coisas para recordar e recontar. E recontávamos então as 17h30, o ar vibrando de alegria pelo reencontro com a família. Não será de todo necessário que o Milhões é uma família; vamos tendo as nossas divergências, os nossos momentos menos bons, as nossas zangas (tudo referente a 2013 e até certo ponto a 2014), mas cá estamos, ano após ano, para celebrar este filho parido em conjunto por todos nós, tanto os que o organizam como aqueles que fazem o seu ambiente.

O peso triplicado pela bagagem, a fome apertando o estômago e algum cansado ainda restante da noite anterior na magnífica Ponte de Lima, só pisamos o palco Taina a meio do concerto de Happy Meals, ressalvando aqui e agora que esta edição do Milhões de Festa foi a primeira em que não nos dignámos a ir encher o bagulho ao McDonald's local, após as troças/reclamações/indignações dos autóctones em anos anteriores. O brinde que nos estava reservado não era, contudo, tanto musical - já que os britânicos, ainda que interessantes, mais não eram que uns Peaking Lights circa 936 de segunda leva - quanto físico, com as canequinhas de barro destinadas ao vinho verde a revelarem-se um projecto muito mais interessante. Os Cave Story, que segundo consta não conseguiam ver os trastes da guitarra e do baixo devido à parca luz, deram mais um concerto coerente, pautado pelo pós-punk dos temas que fazem parte do seu EP de estreia, faltando lamentavelmente o barulho que fez do espectáculo no NOS Alive uma maravilha mas existindo, como existe sempre, uma dose salutar de perigo nas suas canções, cujas letras já alguns na audiência têm na ponta da língua: "Southern Hype" e "Fantasy Football", por exemplo.

Os Lodge poderiam ser mais uma banda de hardcore a pingar para o grind, mas preferem ser - e abençoados sejam por isso - uma javardice ríffica em tons femininos que distribuiu pancadaria muita pelo Taina e em especial pelas filas da frente, precisando a segurança de reforçar as grades para que não houvesse um acidente mais grave. Num festival que não viveu sem o seu peso, foram sem dúvida uma das apostas mais interessantes, superando em larga escala o que se seguiu no resto da noite zero: Shellac-, perdão, Riding Pânico, Corona Na Casa e Raw Decimating Brutality. Quando os Ekco Deck e os DJs da Casa sobem a palco já a vontade de ouvir música é nula, e por isso houve a necessidade de retemperar forças para sobreviver aos restantes dias. Não que haja mal nenhum nisso. PAC
· 01 Ago 2015 · 15:38 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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