Jazz ao Centro 2015
Coimbra
28-31 Mai 2015
Chegado à sua 13ª edição o festival Jazz Ao Centro continua a inovar, apresentando concertos em diversos espaços da cidade de Coimbra. Os Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra arrancaram no dia 28, quinta-feira, com a actuação do grupo What About Sam? no Museu Machado de Castro. O quinteto de Luís Vicente (trompete), Federico Pascucci (saxofone tenor), Roberto Negro (piano), André Rosinha (contrabaixo) e Vasco Furtado (bateria) abriu o festival apresentando o seu disco de estreia. Com um jazz enérgico e aberto, sobressaíram sobretudo o saxofone de Pascucci e o contrabaixo de Rosinha, muito interessante em diversos diálogos - especialmente discreto esteve o trompete de Vicente, habitualmente mais aceso. Na primeira noite de “after-hours” no habitual Salão Brazil actuou o sexteto Vertigo, oriundo da República Checa. O grupo combinou estruturas jazz com melodias de leste, uma mescla estranha que nem sempre funcionou. Contudo, sobressaiu a qualidade individual de vários músicos, não só dos sopradores (Oscar Torók no trompete, Marcel Bárta nos saxofones), como - e sobretudo - dos extraordinários Vojtech Procházka (piano e electrónicas) e Daniel Soltis (bateria).

Ellito Levin’s Lisbon Connection © Hélio Gomes / JACC

Na sexta-feira, dia 29, o festival abriu com a actuação a solo de Jorrit Dijkstra na Casa da Esquina. O holandês explorou o saxofone alto e electrónicas, combinando a instrumentação acústica e eléctrica: o som gravado do saxofone era processado e trabalhado em tempo real, numa interessante mescla sonora e o resultado foi curioso, embora a actuação se tenha prolongado demasiado. Seguiu-se a actuação do Elliot Levin’s Lisbon Connection no magnífico relvado da Casa das Artes Bissaya Barreto. Este quarteto, que acaba de editar o seu disco de estreia, junta o saxofonista (e flautista) americano Levin com três nomes da cena improvisada lisboeta: Luís Lopes na guitarra eléctrica, Hernâni Faustino no contrabaixo e Gabriel Ferrandini na bateria. O ar livre não ajudou e o som do grupo soava extremamente desequilibrado - saxofone e bateria demasiado baixos. Levin, que além do saxofone tenor e flauta ainda declamou poesia (quase parecia um Bukowski), não pareceu muito inspirado; já os parceiros nacionais não estiveram mal e a guitarra de Lopes fez-se notar especialmente, não faltando o seu habitual feedback (de costas para o público, claro). A noite fechou com a actuação do Mário Barreiros 4teto no Salão Brazil, que repetiria no dia seguinte.

Marc Ducret © Hélio Gomes / JACC

No sábado, 30 Maio, os concertos do festival arrancaram com a actuação da dupla Samuel Blaser & Marc Ducret no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra. Este improvável duo de trombone e guitarra eléctrica apresentou uma das actuações mais originais e memoráveis do festival, com o trombone elástico de Blaser a encontrar na guitarra de Ducret um parceiro fenomenal. Ducret, que tinha actuado na última edição do Jazz em Agosto, esteve particularmente criativo, servindo-se de diversas técnicas na guitarra, numa performance marcada pela originalidade. Na mesma noite o Teatro Académico Gil Vicente acolheu o quinteto de Susana Santos Silva, que apresentou o recente disco “Impermanence” (edição Porta Jazz). Ao lado de Susana Santos Silva (trompete, fliscorne) estavam João Pedro Brandão (sax alto, flauta), Hugo Raro (piano), Torbjörn Zetterberg (contrabaixo) e José Marrucho (bateria, a substituir o baterista do disco, Marcos Cavaleiro). O som da sala não estava perfeito, os músicos estavam demasiado longe do público, a interpretação do disco acabou por não ser a ideal. As composições originais de Santos Silva requerem a intervenção activa dos parceiros de grupo, que poucas vezes foram memoráveis - valeram alguns momentos da líder no trompete e, pontualmente, do contrabaixo de Zetterberg.

Susana Santos Silva e Torbjörn Zetterberg © Hélio Gomes / JACC

O quarteto de Mário Barreiros aproveitou as actuações nas noites de sexta e sábado (29 e 30) para gravar ao vivo um disco, para futura edição JACC Records. A par da bateria do veterano Barreiros estava o contrabaixo do também histórico Carlos Barretto, o jovem saxofonista Ricardo Toscado e o pianista galego Abe Rabade. A propósito deste grupo foi referido o nome de Elvin Jones e a música do quarteto acabou por reflectir essa alta intensidade que era marca do baterista. As actuações no Salão Brazil, sobretudo a segunda noite, acabaram por ser memoráveis - especialmente pela energia e originalidade inesgotável de Toscano, mas também pela fluência e dinâmica de grupo.

Mário Barreiros 4teto © Hélio Gomes / JACC

O festival fechou no domingo, dia 31, com a actuação do quarteto Zíngaro/Mitzlaff/Viegas/Rosso no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha - concerto ao qual não tivemos oportunidade de assistir.
· 05 Jun 2015 · 00:19 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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