Equations / Guardian Alien
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
2- Jul 2014
Há muito tempo que não colocava os pés na Zé dos Bois. Tanto que já nem me lembrava de como gosto do espaço em si, dos curiosos a mirar o palco do lado de fora da janela, dos sofás onde um gajo se senta para três dedos de conversa e uma cerveja, dos concertos que regra geral nos acendem a alma e nos fazem querer durar um pouco mais, só um bocadinho mais, neste mundo, neste meio, nesta cidade que se odeia mas da qual não temos pressa nenhuma de sair - não enquanto existirem aqui e ali estas oportunidades de fuga (alguém que pare o mundo que eu quero sair, e de repente lembro-me de como gosto igualmente do Azevedo Silva e tenho saudades dele), não enquanto existirem os Equations.

Equations © Vera Marmelo

-e fale-se dos Equations, que pelo menos quatro deles fizeram uma viagem algo longa para estar aqui hoje a apresentar os temas que farão parte do seu segundo disco, mais prog, mais crescido, mais coeso, banda a tentar escapar ao rótulo que lhe colaram com o Frozen Caravels e a procurar desbravar o seu próprio espaço, como tem que ser; e se eles antes eram math rock hoje em dia são rock para astrofísicos, com os sintetizadores a puxarem-nos para outros campos onde a gravidade não existe e onde o riff de uma guitarra ressoa permanentemente no ouvido, igual àquele com que terminam a meia-hora de concerto no máximo da aceleração. Frozen Caravels? Tê-lo à venda na banca é defraudar quem os vê em 2014. Passada a estranheza das primeiras vezes que os vimos nestes termos: estão definitivamente melhores. Mesmo muito melhores. Salvé.

Guardian Alien © Vera Marmelo

Quanto aos Guardian Alien, é difícil descrever o que por aqui se viu. Por dois motivos principais: a falta de interesse, visto que sabê-los associados ao nome Liturgy é por si só motivo para fugirmos dali a sete pés, e o facto de do lado de fora da sala descobrirmos que o Gonçalo Duarte afinal entrou num filme porno ou que um qualquer actor porno gosta dos Radiohead, o que é sempre de salutar. A banda, trio apoiado sobretudo nos dotes de Greg Fox à bateria (e como toca, o filho da mãe, pena é tornar-se chatinho após os primeiros cinco dez minutos, pá, já percebemos que sabes tocar, agora faz um pouco de música), apresenta uma série de temas que poderiam ser hipnóticos se tivessem mais substância e/ou que poderiam convidar à pancadaria se a pujança toda não viesse só das baquetas - o que torna os Guardian Alien uma banda para a malta fanática de John Bonham, dos desvarios de Billy Cobham nos Mahavishnu Orchestra ou do fantástico solo de bateria na "Take Five" do Dave Brubeck. Talvez noutra ocasião. Todo o respeito, mas esta noite não poderia deixar de ser dos portugas.
· 03 Jul 2014 · 22:38 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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