Vodafone Paredes de Coura
Praia Fluvial do Taboão
13-17 Ago 2013
Olha o panda!

Paragem curta pelo posto médico para combater um mau presságio gripal e ouvir histórias sobre os excessos que os virgens têm nos seus primeiros festivais, segue-se o soundcheck dos The Glockenwise e o concerto propriamente dito, com o quarteto barcelense a mostrar provas, uma vez mais, de que é um seguro valor nacional; garage rock sem merdas com direito a moshpit e versos na ponta da língua - "Scumbag", "Napoleon" ou "Time To Go" algumas das entoadas com mais força -, um cachecol do Mágico Porto a ser apresentado ao recinto inteiro pela voz do irreverente Nuno Rodrigues (os pretensiosos The Knife que aprendam aqui alguma coisinha). Naquela que foi a sua estreia em Paredes de Coura enquanto artistas (já cá tinham vindo drogar-se nas tendas, disseram) os Glockenwise não desiludiram e deixaram uma óptima imagem daquilo que de bom se faz por cá, como se ainda o não soubéssemos.

E se a raiva punk dos Glockenwise começa e acaba na atitude, os dinamarqueses Iceage parecem querer fazer dela uma bandeira. "Parecem", porque na realidade padecem de um enorme mal - serem agressão sem sentido e pouco mais, ritmo marcial e guitarra rasgada eminentemente aborrecidas, com um desinspirado Elias Rønnenfelt a cagar-se ou a fingir que se estava a cagar para o público, péssimo em qualquer um destes casos. A piada mínima que os pseudo-fascistas impõem é o soarem a uns Joy Division made in America (até porque lhes terão roubado o nome), ficando o punk no mesmo sítio em que estava independentemente de todo o hype em seu torno: morto e enterrado. Pelo menos, não foram tão aborrecidos quanto os Peace, mais uma bandinha indie para ajudar os muitos fãs sub-16 dos The Horrors a passar o tempo agarrados às grades. Salvem-me...

Os The Horrors, que trazem atrás de si uma legião de fãs, iniciam bem - teclados a fazer lembrar os Cure, linhas de baixo com groove -, passam para momentos pop/rock menos abonatórios e, quando os deixamos em paz, tinham iniciado uma estupenda cavalgada motorik; presume-se que a criançada não tenha ficado nada desapontada, até porque quando se regressa ao concerto dos Cold Cave no palco secundário é ver os sorrisos estampados no seu rosto. Cold Cave esses que se revelaram uma óptima surpresa, darkwave sem rodeios que semeia o gingar dos corpos suaves ao som do ritmo electrónico e dos sintetizadores mínimos. Duo composto por uma senhora com ar simpático e um senhor sem um braço, os Cold Cave venceram claramente o dia; por muito que se possa gozar com góticos, a verdade é que de vez em quando acertam na mosca. Canções sobre sexualidade reprimida, lágrima tatuada ao canto do olho e desgosto no dancefloor? Guardo todas. Um concerto fora da caixa que bem faltava ao festival. Dispensáveis seriam os Echo And The Bunnymen, a actuar para saudosos das gabardines de 1985, antes dos Simian Mobile Disco partirem a loiça toda através do 4/4.
· 25 Ago 2013 · 10:21 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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