Vodafone Paredes de Coura
Praia Fluvial do Taboão
13-17 Ago 2013
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Passados três dias poderíamos falar de um pouco de música, se a cegueira o permitir, se o wi-fi ou as luzes da tenda de imprensa não forem abaixo, se os Alabama Shakes não nos distraírem assim tanto; poderíamos, mas poderíamos antes falar do ambiente que existe neste festival de amigos e camaradas, dos gritos POOOOORTO porque alguém com um chapéu de panda na cabeça mostra a sua filiação clubística, da Paixão e do João a lembrarem-se de nós não sucedendo o inverso (gin, a quanto obrigas...), do Tabuão gelado e sempre bem composto de fauna feminina pronta a ser caçada pelo mais nobre dos guerreiros, e do Márcio Laranjeira, que vai tão trazer Yawning Man ao Milhões 2014.

Mas falemos dos Unknown Mortal Orchestra, que, apoiando-se no psicadelismo e na boa pop feita com guitarras, deram um óptimo concerto no palco secundário (perdida que estava, infelizmente, a Discotexas Band por atrasos no jantar). A banda de Ruban Nielson veio para apresentar o parcamente apelidado II, disco de 2013 que, sejamos honestos, não lhe faz juz - os momentos mais altos do híbrido neo-zelandês/norte-americano são as cançonetas indie do seu registo de estreia, casos de "Thought Ballune" e "Ffunny Ffrends", esta última propiciando o murmurar da melodia na ponta dos lábios sedentos de álcool e derivados. Se é permitida a achega, teriam resultado melhor ao fim de tarde, o enorme clarão vermelho do sol a pôr-se a maravilhar o festivaleiro amante da natureza...

Se os Alabama Shakes (Marvin Gaye com um par de seios) satisfizeram a muita canalhada alternativa mas não os jornalistas a sério - um dos grandes subordinados de Belmiro de Azevedo referiu-se a eles como "banda de covers" -, Bombino, coadjuvado pelo seu funk árabe, colocou o recinto a dançar, ventres esbeltos guiando-se pelo riff, tudo a tirar a burqa e a clamar por Alá; concerto magnífico apenas pontualmente quebrado por motivos de convivência. Porque há que dizer que Paredes de Coura é o pior festival para se ser anti-social - há sempre alguém que nos quer falar ou tirar uma fotografia, há sempre um fino oferecido ou pago a outrém, há sempre um megafone à porta do campismo a disparar usuais como Peter Brötzmann.
· 25 Ago 2013 · 10:21 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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