A pequena Mirah, nascida Mirah Yom Tov Zeitlyn, ocupou o pequeno palco do Mercedes acompanhada da sua guitarra. O concerto oscilou entre os momentos bonitos da voz simples e bonita de Mirah e outros menos conseguidos, muito por culpa de uma baterista a necessitar de ensaios. Sem ser um mau concerto, nem Mirah nem o público estavam nos seus melhores dias. O concerto nem uma hora durou, menos do que na noite passada em Leiria.

Foi difícil não me lembrar de como foi ver ali mesmo Rosie Thomas e a comunhão que se sentiu nessa noite. Com Mirah, foi diferente. O público estava apático e Mirah estava, como ela mesma reconheceu, pouco faladora. E, desculpem-me os que dizem que o que importa é como se toca, isso não é totalmente verdade neste tipo de concertos. E em nenhum, arrisco-me a dizer.

Advisory Committee, disco de 2001, foi o prato forte do concerto e Songs from the Black Mountain Music Project não teve direito a um único tema. Foram também apresentados temas novos como "Jerusalem" ou "Argentina Sky", pouco diferentes do que Mirah tem vindo a fazer. O que fica desta noite? Provou-se que "Cold Cold Water" é uma grande canção, mesmo sem a produção fantástica de Phil "Microphones" Evrum que a transforma num arrombo dramático de percussão e orquestração. "Monument" e "Make You Hot" sussurraram-nos ao ouvido, enquanto escutavamos o dedilhado e o som dos dedos no braço da guitarra. Não ouvimos os violinos gélidos de "Special Death", mas, mesmo assim, foi um dos momentos da noite, ao lado da sonhadora "Person Person", do primeiro disco e do já citado "Cold Cold Water". Pena que a pop bubblegum de "Recommendation" tenha perdido tanto com a transformação em rock descarnado e que outras músicas tenham sido tocadas sem especial calor ou chama. O final foi com "The Garden", com jogo de palmas e sapateado do público a marcar o ritmo para a voz em regime acapella. O tom desesperante e raivoso do original foi subvertido pelo jogo colectivo.