Super Bock Super Rock
Parque do Tejo, Lisboa
28-30 Mai 2005

O Super Bock Super Rock era um festival que se realizava por aí, por várias salas de Lisboa. No ano passado deixou de ser itinerante para voltar a ser, como nas duas primeiras edições, num só sítio, em três dias de pândega e álcool. Curiosamente, a primeira nova edição (a décima de todas) do festival nesses moldes foi pautada por muitos problemas. Num festival com nome de cerveja era quase impossível arranjá-la. A enchente que se verificou no terceiro dia estragou tudo, era impossível andar por lá.
A Música no Coração aprendeu com os seus erros. Na edição deste ano os comes e bebes estavam bem organizados. Não havia qualquer tipo de problema quando alguém queria comer ou beber alguma coisa. Havia mais condições, mas também menos gente. Talvez desanimados com o cartaz ou decepcionados com a edição do ano passado, nem tanta gente acorreu ao festival.
O maior problema de organização do festival teve a ver com os transportes. Havia um contrato com a Carris para um aumento de transportes. À saída do festival, no primeiro dia, demorava-se uma hora para chegar do Parque do Tejo até à Gare do Oriente, ambos dentro do Parque das Nações. Há que dizer que este é um percurso que, de carro, demora 10 minutos ou menos, e a pé demora meia hora. Sim, foi assim tão mau. Mas a culpa é da Carris e dos motoristas idiotas que enchem alguns autocarros até à exaustão e depois não deixam entrar as pessoas noutros. Má gestão, muito má gestão. RODRIGO NOGUEIRA

No primeiro dia do festival só se viam fãs de System of a Down. As camisolas, todas elas extremamente feias e desinspiradas, ou as t-shirts faziam as delícias dos fãs. Alguns já as tinham e traziam de casa, outros tinham-nas comprado lá. Musicalmente este dia deixou realmente muito a desejar.

BIZARRA LOCOMOTIVA
O vocalista dos Bizarra Locomotiva grunhe e aparece em palco de tronco nu. No peito diz "ÓDIO", nas costas aparece o símbolo da banda. Serão tatuagens? Pinturas? Se forem tatuagens o tipo está tramado na praia. A diferença entre os Bizarra Locomotiva e os Mão Morta é que Adolfo Luxúria Canibal se senta a ponderar as letras, enquanto os Bizarra Locomotiva gritam "ÓDIO", "ESGOTO" e duas ou três outras coisas na esperança de que faça sentido. Não faz. Um baterista, um guitarrista, um vocalista e um tipo que brinca com um sampler, disparando batidas e melodias. Este último tipo também "canta", se bem que a sua voz não se ouça.
Cá atrás dizia um miúdo para o outro: "O gajo é um beto, caralho!" (dois dos Bizarra Locomotiva estavam de tronco nu, os outros de manga cave e wife-beater, respectivamente, o guitarrista tinha um moicano). RN

BLACK SUNRISE
Os Black Sunrise dizem "pessoal" entre todos os temas. "Olá pessoal, tudo bem?". Pedem um circle pit, mas ninguém segue o que eles dizem. Ninguém percebe o que eles grunhem, mas os fãs de System of a Down e os metaleiros gostam muito daquilo.
Um amigo meu dizia de Vader "Ouve isto! Quase que se percebe o que ele diz!". Só num momento do concerto dos Black Sunrise se percebeu o que o tipo disse. E mesmo assim não teve interesse nenhum. Têm temas sobre a violência doméstica, mas podiam ser sobre o Vietname, ninguém saberia perceber a diferença.
Entre riffs do metal e grunhidos, "ai", "ui", só se pode dar aos jovens Black Sunrise crédito por uma coisa: a entrega em palco. Mas isso não quer dizer nada, nem chega para fazer um bom concerto. Lá porque eles se divertem não quer dizer que os outros se divirtam. RN

LOUIE
Os Louie não passam de uma boys band inglesa. Tocam os próprios instrumentos, é isso que os difere de uns... Boyzone ou assim. E também têm roupas todas fashion, rock'n'roll. Têm um tema que lembra The Who - mas em mau - e é isso. Dois vocalistas acabados de sair da menoridade, imberbes, para uma coisa competente mas em nada consistente. Melhor imagem da noite do primeiro dia: os adolescentes Louie completamente alcoolizados a entrar na zona VIP e a perguntar: "Where's the party at?". RN

TARA PERDIDA
Os Tara Perdida continuam iguais a eles próprios. Punk rock, cerveja e temas que não diferem entre eles. Há também o não parar entre as músicas, ou não tivesse João Ribas uma banda de covers dos Ramones chamada Kamones. Nada de especial, uns Xutos & Pontapés mais duros e punk. Nada de novo. RN

THE 80S MATCHBOX B-LINE DISASTER
Os The 80s Matchbox B-Line Disaster são bons. Mas não passam disso. Têm força e rockam. O guitarrista quer ser o Joe Strummer, o baixista parece mais ou menos o Gene Simmons dos KISS sem a maquilhagem e a língua. Gritam, gritam, têm riffs porreiros, etc. Mas a meio do concerto acaba por ser uma amálgama de distorção e gritos que não chega a lado nenhum.
Não ficam bem aqui, neste contexto de festival generalista, mas não deixam de ser uma grande banda que se revela potente ao vivo. RN

PRIMITIVE REASON

Guillermo de Llera Blanes e os cada vez mais seus Primitive Reason (o espanhol é agora o único músico que resta da formação original) partiram a louça toda no fim da primeira tarde do festival. O tempo para as bandas portuguesas foi sempre pouco, mas chegou para apresentar canções de Pictures on the Wall, revisitar Some of Us e até prestar homenagem ao já velhinho Alternative Prison, com a energia bilingue de “Hipócrita” a puxar à nostalgia. Hardcore barra músicas do mundo, há quem diga que é fácil e quem lhes tenha asco. Pelo meio dos milhares que saltam, gritam e vivem um dos melhores concertos desta edição do Super Bock Super Rock. LUÍS BENTO

INCUBUS
O Brandon Boyd é um fofinho. Ou um FoFYñUUUh, como diriam as fãs pré-adolescentes. Os Incubus são uma boa banda ao vivo. A única pena é que não sejam nada de jeito. Dois ou três bons riffs, o resto é a vozinha e o sex-appeal adolescente de Boyd. Têm um DJ com rastas e todo étnico. Não serve para nada, a não ser para um esporádico scratch manhoso. Tipos com t-shirts de Metallica gravam o concerto no minidisc e afins, toda a gente canta "Wish you were here".
Quando Brandon Boyd tira a parte de cima é o delírio. Os Incubus são daquelas bandas que injustamente têm milhões de fãs por todo o mundo, e a maior parte parece concentrar-se em Portugal. Eles não são maus músicos, não senhor, e tocaram "Hungry Like the Wolf". O original dos Duran Duran foi o momento alto do concerto.
"Portugal é o melhor público do mundo. A sério.". Porquê dizer isto? Quanta boçalidade, quanta banalidade, quanta estupidez e insinceridade. Foi uma manobra idiota e inútil, que fez o deleite de vários fãs.
Há luzes, delirantes luzes a piscar, há minutos intermináveis de show-off instrumental e feedback. Tudo a brincar, a brincar, só porque fica bonito e engata pitas. RN

THE TEMPLE
Os The Temple são uma banda de metal portuguesa. Não é preciso dizer mais, só que têm guitarras e distorção e escrevem canções sobre dança e assim. São poderosos e essas coisas todas que não valem nada. RN

SYSTEM OF A DOWN
Há uma cortina no palco. Começa-se a ouvir uma voz, uma boa voz, a cantar, e a cortina abre. São os SOAD.
Os SOAD tocam que se fartam. E isso é muito, muito mau. Têm a mania que são progressivos e que podem andar aí no show-off durante horas e horas. O vocalista tem uma grande, grande voz. São quase como que uns Mr. Bungle mais pesados, mais chatos e sem tanta piada, com letras sou-tão-torturado-e-adolescente-que-até-enjoa. É A ADOLESCÊNCIA! AAAAAAAAAAAH! SÃO CENAS BUÉ FODIDAS! Dizem "motherfucker" demasiadas vezes, palavra associada a "rock'n'roll". "Self-righteous suicide" e coisas parecidas. Friques hippies dançam, atiram-se para o chão, talvez sob a influência de ácidos ou assim.
Há umas melodias giras, há uns riffs porreiros, mas estragam tudo com distorção e com aquelas letras. Há sintetizadores giros, ritmos bonitos, guitarradas porreiras, há aquela voz que alterna entre operática, rock, demoníaca e infantil. O problema é que há também distorção metálica a rodos e temas onde se compara o tamanho do pénis do guitarrista e do vocalista com o do público (é melhor nem fazer trocadilhos com público-púbico).
Ao olhar para os SOAD de fora percebemos porque é que o novo Papa, Bento XVI, não gosta do rock'n'roll. Idolatração de falsos ídolos. Eram a banda mais esperada da noite, e isso notou-se durante todo o dia. Centenas de adolescentes envergavam, orgulhosos, t-shirts e camisolas da banda. E lá o concerto se estendeu e estendeu, e o público gostou, até usaram um vocoder. Que bonito. Intermináveis horas de uma descarga brutal que toda a gente papou. RN

BLASTED MECHANISM
Os Blasted Mechanism são os Blasted Mechanism. Um concerto dos Blasted Mechanism é igual a um concerto dos Blasted Mechanism. Isto não é bom nem mau. Há batidas para abanar o traseiro, há aquelas letras esquisitas e aquela língua esquisita, há instrumentos inventados e há aquela indumentária estranha.
Há o público, mais propriamente os friques e os mais betinhos, nunca os metaleiros, a gostar. Dão o melhor concerto português da noite, mas isso também não era difícil. Falam de revolução e etc. O concerto estende-se para além da uma da manhã que estava reservada aos Prodigy. "Karkov" é o tema mais aplaudido. RN

THE PRODIGY
Lá estava ele. O riff que fez com que Kim Deal passasse um porradão de anos a coçar a barriga em casa ou a drogar-se na prisão. "Firestarter" é o nome do tema que sampla a guitarra dos Breeders. E foi um dos momentos altos, apoteóticos do concerto dos Prodigy. Os ingleses, apesar de velhinhos, até nem estavam em má forma. São uns tipos fodidos, os gajos, e metem-se nos ácidos e tal. Não estávamos em Inglaterra, era Portugal, e o ano não era 1996. Mas afinal era. Batidas poderosas, etc. Tudo cheio de força e genica e a agradar ao público. Nada de muito surpreendente, mas deveras competente.

Porquê demorar uma hora a ir do Parque do Tejo até à Gare do Oriente de autocarro? Afinal os transportes não estavam coordenados. A organização recomendava que se andasse de transportes públicos e não de transportes privados. O tanas. Só um louco escolheria transportes públicos em vez de transportes privados. RN

· 28 Mai 2005 · 08:00 ·

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