Häsqvarna / Cave
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
30 Out 2009
Em semana de aniversário da Galeria Zé dos Bois, e um dia depois de uma celebração quase épica nesse espaço, foi um aquário bastante composto que recebeu a estreia dos norte-americanos Cave e o regresso em novo formato dos locais Häsqvarna. Não havendo muitos pontos de contacto entre os dois projectos no que diz respeito ao universo em que habitam, ambos parecem encontrar-se na década de 70 no que respeita ás influências primordiais que presidem à criação.

Häsqvarna © Carlos Nascimento

No caso dos Häsqvarna, essa influência acaba por ser mais difusa, filtrada pela lente dos Earth. Entre o carácter dronesco de Earth 2 e o Neil Young dolente das aventuras mais recentes, o duo de guitarras foi alinhavando diversos momentos através da sobreposição de sucessivas camadas, com vista à densidade perene, em dois longos temas. Era exactamente na articulação entre as diferentes passagens que se sentiam as maiores falhas dos Häsqvarna, com a relativa brevidade a impedir que um riff hard-rock drogado ou uma ambiência mais paisagística criasse a necessária envolvência que conduzisse o duo a paragens mais memoráveis e/ou resplandecentes. Deixando de lado um certo pendor post-rock mais volátil que se sentia de algum modo nas faixas do Myspace, não deixaram de lançar boas sementes para um terreno fértil de inspiração blues em tonalidades pagãs, com espaço para momentos de dissonância críptica e até umas escalas mais country enviesadas pelo psicadelismo. Se esta multiplicidade de registos poderá, por vezes, levar a um certo desnorte composicional, poderá também residir nestas colagens fluídas o modus operandi da banda. O tempo tratará de lhes conferir a necessária contundência.

Cave © Carlos Nascimento

Vindos de Chicago, os Cave tratam de pegar em quase tudo o que existiu de louvável na década de 70 para trazer à Lisboa de 2009 um pastiche dessas mesmas influências. Sem nada de particularmente notável ou distintivo que os impeça de resvalar para a emulação descaracterizada dos seus heróis kraut. Confinado a esse espaço, o quinteto foi desfilando temas relativamente curtos e directos conduzidos pelos sons vintage dos dois órgãos sobre uma secção rítmica entre a motorika e os breaks de Monster Movie. Se dúvidas restassem, existiu até uma versão de “Negativland” dos Neu!. As ocasionais vocalizações e a tendência para a construção de temas directos, aproximava-os a espaços dos momentos mais bubblegum dos Oneida, mas nunca existiu ao longo do concerto algo de verdadeiramente entusiasmante ou que fizesse mais do que relembrar porque Schwingungen é um clássico absoluto. Reféns da normalidade, poderiam até ser os Circle não fossem os finlandeses um combo entregue a uma saudável loucura, de caminho aberto à expansividade. A explicação para a formatação poderá estar na sua cidade de origem. Ou não. Mas falta aos Cave aquilo que faltou para fazer do post-rock algo mais do que exercício de estilo conservador. Nervo.
· 03 Nov 2009 · 17:07 ·
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
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