Felix Kubin
Plano B, Porto
15 Mai 2009
Felix Kubin é uma figura. E isto serve para dentro e fora do palco, pois já antes do início do concerto se notava a sua presença pelos corredores do Plano B. Na sala não havia assim tantos presentes quando Felix Knoth se predispôs a iniciar as hostilidades – o público foi chegando com o tempo – mas Felix Kubin atacou como que se estivesse a actuar para 3000 pessoas. Disparou a electrónica que ele próprio apelidou de “música idiota” e a partir daí nada mais foi o mesmo. Com a chegada das batidas e dos acompanhamentos bizarros, Felix Kubin transforma-se, arrisca coreografias no limbo do bom gosto, e transforma o ambiente. Ele que começou a fazer performances nos anos 90, conhece muito bem a arte da provocação e a ironia e serve-se destas para impor um certo dadaísmo – do qual é fã – que tão bem assenta no espectáculo por ele criado.

A música, essa, é complexa. Há batidas mas há sempre tanta coisa a acontecer ao seu redor que é impossível encará-la apenas como música de dança. Há ruído, à distracção, há uma parafernália de sons desconhecidos e por conhecer. E apesar de toda a estranheza e bizarria, a música de Felix Kubin é estranhamente dançável e pulsante. Mas é sobretudo “idiota”, propulsora de comportamentos que não constam dos livros de boas maneiras e catalisadora de conflitos psicológicos internos. A culpa é das máquinas que disparam teias intrincadas de absorver, motivos agressivos que não computam com boa educação e timidez; teias, e motivos atenuados apenas por teclados maioritariamente doces que apareciam sem convite e suavizavam os ambientes, punham alguma água na fervura. Algo normal para quem disse um dia que “gostaria que a maioria da música electrónica não fosse tão elaborada, tão decorativa”. E disse mais ainda: “mesmo se é abstracta, muitas das vezes parece-se sempre com música de elevador”.

O humor foi pautando os intervalos entre as canções e continuou ainda nos vídeos que foram servindo de cenário às canções de Felix Kubin mais para o fim da sua actuação. Nele viam-se imagens abstractas e não poucas vezes insanas, ondas de cores intensas e vivas e uma dose proveitosa de surrealismo e nonsense. Apesar de terem surgido apenas no final, as projecções foram suplemento importante para ilustrar o que se foi passando em palco e para ajudar a compreender a personagem – e não o homem – Felix Kubin. Não foi um concerto sempre interessante – como foi na Casa da Música há alguns anos atrás – mas rendeu sem dúvida alguma momentos interessantes de abstracção; há-de ser esta uma das suas motivações superiores.
· 19 Mai 2009 · 00:31 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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