Frango + Dance Damage + Loosers.
Teatro Passos Manuel, Porto
14 Mai 2005

Há nova música a ser feita em Portugal. Há uma espécie de nova comunidade feita por gente que se cansou, provavelmente, do estado das coisas e se agarrou ao barulho, ao ruído, às entranhas como forma de explorar a música. Editam em CDR, editam em net labels (hats off to Test Tube), ensaiam pequenas editoras de CDR, cuidam do artwork, fazem vénia ao DIY e à home made music. Nesta óptica, o CDR surge como uma espécie de testemunho do presente e incitamento do futuro pois, diz-se, quase todas estas bandas mudam completamente de concerto para concerto. E quais são estas bandas? São os Loosers, os Gala Drop (que ainda há pouco estiveram no Porto na abertura do concerto dos Excepter), os Frango e os CAVEIRA – todos eles de Lisboa. São os Dance Damage – quais são as probabilidades? – de Santo Tirso e mais alguns projectos que ainda não atingiram a “visibilidade” dos nomes mencionados mas que ameaçam fazê-lo em breve. Nestas coisas é tudo uma questão de tempo.

Frango © Ana Sofia Marques

Por tudo isto, o concerto no Passos Manuel - tire-se o chapéu também (e de que maneira) ao trabalho que se tem desenvolvido naquela que se tornou provavelmente a sala mais interessante da cidade do Porto – funcionava como uma espécie de teste, de declaração de intenções, de auscultação do movimento e da sua aceitação. Mas o que parece é que a cidade do Porto anda meia adormecida, perto do desfalecimento - pelo menos a ver pela quantidade de pessoas que aparecem neste tipo de eventos. E este evento havia de começar com a actuação dos Frango, o projecto que editou Sitting San pela Test Tube. Os Frango fazem-se de duas guitarras, uma bateria e um baixo e criam peças que procuram a conciliação entre a tranquilidade embrionária e a tensão proposta por camadas densas de ruído - com poucas variações, de tons acinzentados - que acabam por surgir de forma natural. A percussão é forte, quase violenta, mas é nas guitarras que se centra a música dos Frango. Entre essas edificações, os Frango aventuram-se por experimentalismos: o baterista deixa de o ser para tomar conta de uma terceira guitarra e o clima transforma-se num de exploração dos instrumentos mas, verdade seja dita, os Frango são mais interessantes quando estão a construir do que a desconstruir.

Dance Damage © Ana Sofia Marques

Os Dance Damage já não são os mesmos da maqueta Don't Pray in Public, nem na formação da banda, nem no rumo musical. São agora três em palco, abandonaram a estética pós-punk e aventuram-se agora pela exploração do barulho. O baterista surgiu em palco com uma máscara similar às dos Lightning Bolt e foi-se juntar a Pedro Magina e André Abel, que se preparavam para mais uma celebração dos Dance Damage. E a celebração agora faz-se de palavras de ordem cada vez mais urgentes gritadas por Pedro Magina, de ataques furiosos de percussão, de rádios e cassetes que reproduzem algumas mensagens, teclados, mais investidas enfurecidas na guitarra e até mesmo um cavaquinho (tocado ou utilizado como percussão). Ao mesmo tempo que se afastaram do pós-punk, os Dance Damage criaram um som mais próprio, mais simples e mais visceral que pode ser conferido no CDR Level Your Hearts at Dawn ou no fresquíssimo CDR single Excavator.

Loosers © Ana Sofia Marques

Mas não são só os Dance Damage que estabeleceram uma mudança estética radical no seu som. O mesmo aconteceu com os Loosers, que parecem ter fugido a sete pés de qualquer rótulo com a música dos Liars. Tiago Miranda também já não parece o mesmo; com as longas barbas chegou uma espécie de aura de espiritualismo que se manifesta claramente. Dos Loosers sabe-se agora que se afastaram radicalmente do formato canção e que os seus concertos nunca são iguais. A actuação foi algo relâmpago, mas começou por um exercício maioritariamente instrumental feito de muita percussão, baixo e programações electrónicas. Depois veio a voz, os temas mais dinâmicos e – surpresa – a participação dos membros do público. Tiago Miranda foi distribuindo pelo público partes da bateria e baquetas, e incitou até a subida ao palco dos músicos improvisados. Só subiu Pedro Magina dos Dance Damage e o espanto era um pouco geral: ninguém sabia muito bem aquilo que lhes tinha atingido.
· 14 Mai 2005 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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