Festival Offf Lisbon 2008
Fábrica de Lisboa, Lisboa
8-10 Mai 2008
A afluência e índices de interesse registou um aumento no segundo dia de conferências. Na apresentação de Hi-Res!, dupla de designers representada no festival por Florian Schmitt, ficamos a saber que determinadas estruturas do site oficial de Beck tiveram por base “esculturas feitas com equipamento musical velho” (cassetes e tudo mais). O mesmo Florian Schmitt confessou que obtinha também inspiração ao conceito Secret Wall Tattoos celebrizado por Josh Homme dos Queens of the Stone Age e que consiste essencialmente na pintura de porções de paredes de motéis que, na altura do check-out, permanecem camufladas pelos mesmos quadros ou espelhos removidos para o efeito.

Jorge Haro

Jorge Haro © Teresa Ribeiro

Da Argentina, com caule nas lides da música experimental e criação audiovisual, Jorge Haro apresentou, em modo de ficção-cientifica sincronizada, cenários possíveis para a aterragem de OVNIS, preenchendo o ecrã com depósitos de água (será?) e campos de feno, enquanto as colunas do espaço soltavam um dilúvio de sons trepidantes capazes de ameaçar a resistência dos tímpanos.

Sawako

Sawako © Teresa Ribeiro

O prémio de “Mais adorável presença feminina no Offf” pertence justamente à japonesa Sawako. Bem o merece pela forma como assentava o cabelo diante do espelho no espaço comum entre os lavabos masculino e feminino, pelo à vontade de girl next door com que se atirava a uma garrafa de Super Bock de 33cl, por ser das poucas headbangers presentes na prestação de Byetone e principalmente pela decisiva saia que trouxe vestida no dia da sua actuação. De pernas cruzadas e diante de um laptop, Sawako faz desfilar uma estética que funde a discrição e detalhe do selo 12K (amplamente representado nessa noite) e a forma caleidoscópica e fragrância nostálgica da escola japonesa Noble (mais associada à electro-acústica). A certa altura, os coloridos escolhidos por Sawako aproximam-se dos normalmente explorados por Takagi Masakatsu (nome grande do Offf do ano passado em Barcelona) e o público comunga do sentimento nostálgico agridoce que aos poucos se apoderou da Loopita.

Antti Rannisto

De seguida, a distribuição de espaço ajustou-se à densa infiltração dos drones duplos ensaiados por Antti Rannisto, par de mãos finlandesas que durante sensivelmente meia-hora embalou frentes várias de um minimalismo ostensivamente frio. Enquanto isso, o pixel, matéria-prima do Offf como alguém acertadamente apontou, multiplicava-se a uma velocidade infecciosa no ecrã que começou negro e terminou praticamente repleto de luz.

Taylor Deupree / Kenneth Kirschner

Taylor Deupree / Kenneth Kirschner © Teresa Ribeiro

Dirigindo-se a Taylor Deupree e Kenneth Kirschner, que assistiam às actuações sentados junto à parede de fundo, Rui, um dos membros fundadores do Festival Offf, anunciava que era a hora dos primeiros subirem ao palco dizendo:Now it’s time for the nerdy boys.. Os visados reagiram com sorrisos, até porque nerdy pode nem ser um termo exactamente pejorativo – no caso de Deupree e Kirschner, é até lisonjeador e serve para resumir toda a atenção obsessiva e minuciosa que os estetas dedicam aos conteúdos sonoros trabalhados. O conceito apresentado nessa noite, denominado de pós-piano, é até familiar a ambos: Taylor Deupree tem refinado a sua abordagem digital ao instrumento numa série de lançamentos e projectos, Kenneth Kirschner dedica-se várias vezes ao piano, sendo, além disso, apologista de que outros artistas o samplem ou misturem. De certo modo, as dinâmicas são semelhantes às mantidas por Alva Noto e Ryuichi Sakamoto no projecto Insen – filtram-se os sons de um piano tratado através de um laptop - clínico na sua intervenção – e, com isso, sucedem-se novas possibilidades habitualmente resultantes em acrescentos à parcela da palete reservada aos sons mais elegantes e inexplicavelmente propícios a um saudosismo dedicado a eventos ainda por acontecer.
· 08 Mai 2008 · 08:00 ·
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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