Andrew Bird
Cinema São Jorge, Lisboa
31 Mai 2007
O culto que Portugal dedica a Andrew Bird é um fenómeno em rápida expansão, a julgar pelo número de cadeiras ocupadas no São Jorge a noite passada. Uma evolução clara relativamente ao concerto de 2005 no Lux, que já tinha deixado os presentes entusiasmados. Na noite de 31 de Maio, o entusiasmo e os aplausos ruidosos marcaram novamente presença. Apenas não foram as únicas novidades.

Quem viu no Lux sabe que Andrew Bird depende do uso de pedais de sampling para construir o esqueleto das canções por cima das quais canta. E se nessa altura tal pode ser encarado como um pormenor que ajudava ao charme das mesmas, no São Jorge a sensação foi algo diferente, e não para melhor.

Em discos como o mais recente e maioritariamente belo Armchair Apocrypha, a música flui como um todo, e é notória a qualidade dos arranjos de guitarra e violino. Ao vivo, ao assistir à montagem das canções, algo fica fora do sítio. Perdemos demasiado tempo a ver os cenários a serem construídos, e quando a peça decorre já não resta grande vontade de a ver, apesar das alterações. Aliás, temas como “A Nervous Tic Motion Of The Head To The Left” ou “Scythian Empires”, que fechou a primeira parte, não ficam a ganhar ao serem truncadas, sacrificadas ao tempo que leva a prepará-las para consumo.

Não quer isto dizer que o concerto tenha sido uma ocasião perdida, ou um gasto inútil de tempo. Bird tem charme, e presença de palco, vestido de fato e gravata, abanando a cabeça, ou tocando guitarra e violino. E quando experimentou ver como as canções funcionavam em simples estilo rockeiro de duas guitarras e uma bateria – assegurada por Martin Dosh que tocou dois temas antes de Bird entrar em palco – o saldo tornou-se bastante positivo. Uma música como “Heretics” foi bom exemplo, e talvez a prova de que não são precisos grandes “truques” de montagem para que músicas como “Skin Is, My” ou a excelente “Fiery Crash” se tornem na pop elaborada e afagante que são em disco.

Um aplauso de pé ao fim de hora e meia de concerto deu direito a um regresso com a mais velha “Weather Systems”, tocada com o violino de Andrew em passo lento, a deixar-se pairar já depois das palavras se terem esgotado. Foi o único bónus para um público que promete continuar a fazer crescer o culto, e dar salas maiores ao músico em cada visita a Portugal. Mas, na verdade, é bom que Bird aprenda a não querer exagerar demais. Há um ponto em que se pode parar sem sacrificar a qualidade.
· 31 Mai 2007 · 08:00 ·
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
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