The Astroboy
O Meu Mercedes é Maior que o Teu, Porto
23 Mar 2007
Sexta-feira de muitas ofertas na cidade do Porto. A do bar O Meu Mercedes é Maior que o Teu era The Astroboy, projecto concebido pelo bracarense Luís Fernandes (também Jazz Iguanas), que ao vivo é acompanhado por Miguel Pedro, dos Mão Morta, Jazz Iguanas e Mundo Cão. Em causa estava A Derrota da Engrenagem, surpreendente tela “electrónicorgánica” com selo Test Tube para edição online e Lovers & Lollypops para a edição física (em CD-R). A casa não terá sido das melhores em número de público, mas os que estiveram presentes tiveram a oportunidade de assistir a uma rendição bastante positiva de A Derrota da Engrenagem.

© Hugo Agualusa

Luís Fernandes e Miguel Pedro sentaram-se frente a frente numa mesa e cozinharam as bases que mais tarde receberiam desenvolvimentos semi-improvisados para as “canções” que constam em A Derrota da Engrenagem. Os teclados desempenham especial papel, mas também a electrónica e as batidas que surgem com mais ou menos antecedência. Num dos temas apresentados no concerto surgem vozes (assinadas por Alexandre Monteiro, The Weatherman), mas é quando Luís Fernandes pega na guitarra que tudo parece ganhar outra dimensão. A sensibilidade melódica e o sentido de oportunidade de Luís Fernandes nesse capítulo revelaram-se quase sempre decisivos.

© Hugo Agualusa

Num concerto de um projecto já de si tão capaz de evocar paisagens, ter alguém a fornecer imagens reais é um extra bastante acertado. Numa pequena tela branca por cima dos músicos mostravam-se imagens recolhidas e tratadas pelo Atelier Bolos Quentes (um grupo de estudantes da Faculdade de Belas Artes do Porto) que casavam bastante acertadamente com os sons criados em palco. Faces desconhecidas e ruas raramente identificáveis desenvolviam-se no pequeno ecrã; uma cidade como Budapeste, na sua beleza inconfundível, desfilava na tela perante os olhos dos presentes.

Será talvez fácil atribuir às paisagens emotivas sublinhadas pelas guitarras de Luís Fernandes o carimbo pós-rockiano (certas vezes fez lembrar World’s End Girlfriend sem o toque japonês), mas a música assinada por The Astroboy vai bastante para além desse rótulo. A exploração ao vivo dos tecidos e matérias contidos em A Derrota da Engrenagem revelou-se no mínimo prazenteira e no máximo excitante. Muito por culpa do risco e do sentimento work in progress que emanava do palco e da interacção entre os dois músicos em cena.
· 23 Mar 2007 · 07:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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