Quando Cécile Schott, a francesa conhecida no mundo por Colleen, diz que este é o sÃtio mais bonito onde alguma vez tocou sabemos que está a dizer a verdade. Não estamos perante uns rockeiros manhosos que do Pavilhão Atlântico tentam conquistar a simpatia do público. A dimensão religiosa da Igreja de Santiago, integrada nas muralhas do magnÃfico Castelo sito no topo do monte iluminado, não é um território habitual para concertos de música experimental. A envolvência do espaço acresce magnificência à s músicas que invadem Palmela num festival que, pela responsabilidade de VÃtor Joaquim, tem vindo a crescer com os anos. Além da referida Colleen, este ano passaram ainda pelo Castelo as figuras fundamentais da electrónica Murcof e Oval, para além de Micro Ãudio Waves, Harald Sack Ziegler, Húmus e One Might Add.
Colleen © Rui Minderico |
O primeiro espectáculo da noite esteve a cargo de Colleen. Após um pequeno atraso (justificado pela organização), a francesa atirou-se à sua música composta por camadas sobrepostas de samples a partir de música criada em tempo real. A experimentalista de origem francesa foi alternando entre guitarra acústica e a viola de gamba – uma espécie de antecessor do violoncelo, uma recente aquisição que a tem deixado muito satisfeita. Neste concerto foram tocadas pela primeira vez algumas músicas novas, ainda em fase de desenvolvimento. As ambiências näif, que remetem para sonoridades tipicamente infantis, continuam a funcionar como espirais de encantamento. Ainda que limitada pela previsÃvel restrição de meios, a experiência Colleen-live continua a manter aquele embalo que nos conquistou daquela primeira vez (num sábado à tarde num sofá, ao lado “delaâ€, por exemplo).
Colleen © Rui Minderico |
Depois de um intervalo ocupado a dar autógrafos aos fãs (na sua maioria chamados Pedro), Cécile Collen - como assina - voltou para uma colaboração com a Naja Orchestra. Naja é um projecto nacional de processamento de sinal, que sampla o som de um músico convidado acústico. Para esta orquestra digital o convidado é a pessoa mais importante, sendo o som por si produzido posteriormente processado por um quinteto de laptops: VÃtor Joaquim, Pedro Tudela, Miguel Carvalhais, Carlos Santos, Carlos ZÃngaro (que nos últimos anos em explorado esta ferramenta, para além do seu tradicional violino). Após alguns problemas iniciais, o quinteto começou o trabalho de desconstrução das melodias edificadas na viola de gamba. Entre as sugestões surgidas dos vários processadores, foram sendo elaborados ambientes que culminavam em crescendos agradáveis. Se bem que a comunicação e a direcção por vezes não tenha sido a melhor, inviabilizando uma possÃvel maior fluidez na comunhão sonora, valeram alguns momentos interessantes. A solo ou em partilha colectiva, a presença de Colleen no Castelo de Palmela foi o culminar em grande de um festival cada vez mais importante.
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