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Makossa & Megablast Kunuaka

2007
G-Stone


Poderia dizer-se que pouco há a esperar de Viena nesta fase. Poderíamos dizer o mesmo de Berlim ou de Paris. E o facto de nada de verdadeiramente relevante nascer nas principais praças europeias nos últimos tempos é bem indício da atrofia criativa que tem invadido o velho continente. Isto em contraste com os últimos anos da década de 90. Do som narcótico de Viena, ao techno de Berlim ou o french touch, todos ícones de uma década passada, não passam agora de nomes que tanto invocam alguma nostalgia como sinais de um tempo onde a criatividade ocupava o espaço primordial na acção instigadora da arte.

Nunca se poderá dizer que tudo não passou de um sonho breve quando os ciclos na música aceleram de década para década. E como se reciclam modas de forma cada vez mais célere, a cobra tem cada vez mais tendência a morder a sua própria cauda. Não será propriamente negativo que uma linguagem musical outrora rica e agora com pouco poder de comunicação não seja alvo de licença sabática forçada. Agora que as leis do consumo forcem o rápido emagrecimento de mentes férteis e o constrangimento no desenvolvimento natural de diversas estéticas é que já é pouco abonatório para indústria que força a actual conjectura.

Retirar-se espaço ao tempo seria como tirar o tapete violentamente sobre os nossos pés. E como há quem não tenha pressa em crescer, ainda há também quem prefira manter-se fiel aos princípios que outrora enriqueceram as veias criativas de seus conterrâneos. Marcus Wagner-Lapierre (Makossa) e Sascha Weisz (Megablast) souberam envelhecer o seu estilo durante a fase de remisturas. Souberam lentamente criar uma identidade própria sem nunca renegarem o historial sonoro de Viena. E o mais importante: ignoraram o fim de um suposto ciclo, tendo insistido em tudo o que de bom as margens do Danúbio trouxeram ao mundo; sem repetirem as fórmulas de outrora.

Kunuaka marca a estreia dos Makossa & Megablast em trabalhos de longa duração. E se o dub característico encontra novas formas de expressão cénica, o electro ou o house abrem espaço a manifestações funk e afro. As ideias são fortes e expressam-se de forma decisiva por entre ritmos que ora lembram o dub minimal de Stereotyp ou a robustez rítmica dos Rockers Hi-Fi, enquanto elementos híbridos algures entre Cuba e Ãfrica atribuem rudimentos orgânicos a toda a operação. Não haverá certamente nada de verdadeiramente novo no que por aqui se ouve. Apenas, e uma vez mais, a personalidade adquirida nos clubes de Viena e a sumidade do dub que adquirem estatuto suficiente para erguer uma obra viva, consciente do tempo e do espaço que ocupam. Apesar de seguirem as primeiras pistas sugeridas pelo mítico Dub Club, renovam a linguagem sem quebrar de forma radical os paradigmas sonoros de Viena. Mais um motivo de interesse em 2007 e um dos melhores discos saídos dos laboratórios da G-Stone nos últimos tempos.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
23/04/2007