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Arcade Fire Neon Bible

2007
Merge / Universal


Quando em 2004 os Arcade Fire editaram Funeral houve quem desse pulos de alegria. E com razão. Afinal de contas o disco de estreia dos canadianos, Funeral, não sendo um disco inovador ou histórico, era um óptimo conjunto de canções, um disco coerente e, a espaços, excitante. O mundo indie - e não só - acolheu-os de braços abertos e com uma certa razão: canções com C maiúsculo, emotivas mas não lamechas. Um disco intenso e inspirado por acontecimentos trágicos: a morte de familiares de membros da banda. Ao longo dos últimos três anos os Arcade Fire já saíram do domínio indie – deram o salto e conquistaram outros públicos. Onde andam agora os Arcade Fire?

Urge dizer antes de mais que Neon Bible não é o disco que se esperava dos Arcade Fire. Quer dizer, é etéreo e grandioso mas não tem metade do conteúdo e inspiração de Funeral. ouça-se a inaugural “Black Mirror†para se entender que o tecido é bom mas que o acabamento deixa a desejar. O argumento do filme é bom mas o conteúdo desaponta. A velha questão de estilo VS conteúdo? “Keep the car Running†é bastante mais excitante que o primeiro tema. Começa aqui algo que se sente depois noutras alturas do disco: a presença de Bruce Springsteen na voz de Win Butler e até na própria atitude da canção. É o primeiro bom momento do disco. “Neon Bible†é um tema curto de vozes bíblicas mas pouco ou nada acrescenta ao disco. E daí talvez não seja essa a sua função.

“Intervention†começa com um daqueles órgãos que só podemos escutar em igrejas. O motivo? Este disco foi mesmo gravado numa igreja, ao que parece para potenciar a grandeza dos Arcade Fire. E é bem verdade que estas cordas, guitarras e vozes resplandecem neste disco. Progressiva e pomposa, assim é “Interventionâ€. Assim é quase todo o disco. Apesar do início algo duvidoso, “Black Wave/Bad Vibrations†acaba por se revelar numa caixinha de surpresas: quando Win Butler substitui Régine Butler nas vozes a coisa torna-se mesmo excitante e depois é uma explosão de beleza a fazer lembrar os melhores momentos de Funeral. Ocean of Noise†não é particularmente esclarecida.

“The Well and the Lighthouse†tem qualquer coisa de interessante no brilhar das suas mini explosões (e no sentimento dos 80s), e (Antichrist Television Blues) tem muito de Bruce Springsteen. É em “No Cars Goâ€, o melhor tema de Neon Bible, que até já tinha aparecido no EP homónimo de 2003, que reside a essência dos Arcade Fire. Fossem todas as canções do calibre desta “No Cars Go†(luminosa, explosiva, crescente, intensa) e estaríamos aqui a falar dum disco da qualidade de Funeral. mas não estamos. Resumindo, Neon Bible seria uma agradável estreia se fosse um disco de uma nova banda a dar os primeiros passos, mas não é um grande disco para os Arcade Fire, especialmente quando comparado com Funeral. Não pode ser. Quem cá está tem responsabilidades. Neon Bible é um disco admirável na sua intenção mas desapontante no resultado final.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
11/04/2007