Butterfly Wings Make Ă© um disco fundamentado por um estado de lucidez A.M.. Obsessivamente debruçado sobre o secretismo das horas madrugadoras denunciadas pelo AM de um relĂłgio LCD e esteticamente fixado no estalar imperceptĂvel que emite a electrĂłnica ao despertar com o contacto do orvalho. A electrĂłnica, enquanto botânica em ponto de miniatura, regada por um elegante piano que, entretanto, tambĂ©m se deixa emergir pelo orvalho - naturalmente formado por mais espessos tons propositadamente prolongados.
A.M. porque, como a banda hertziana do mesmo nome, desbrava várias interferĂŞncias glitch atĂ© encontrar porto seguro em pontos onde Ă© imprevisivelmente fĂ©rtil a melodia (“Myself and Movement” torna-a infinita). A dicotomia atribuĂda Ă sigla A.M. abre tambĂ©m caminho para outros cĂłdigos que Orla Wren manipula com impressionante flexibilidade: passa a ser suavizada pelo citado piano soporĂfero todo o conjunto de metais (aqui digitalmente simulados) que conferiam Ă Orquestra Geinoh Yamashirogumi a má fama apocalĂptica de que goza pela responsabilidade da banda-sonora de Akira.
O inĂcio Ă© o fim. Butterfly Wings Make Ă© obra de um ermita oriundo do norte de Inglaterra que percorre descomprometidamente a EscĂłcia enquanto arrecada sons a incluir na sua mĂşsica e vende as suas fotografias da natureza ampliada em regime Macro (tal como a que serve de capa ao seu terceiro disco). Projectado num regredir naturalista – que reaviva memĂłrias do sentimento presente no teledisco de “Take it Back” dos Pink Floyd - Buttefly Wings Make sĂł denota mesmo dificuldade em conter entre a inicial “Closure” e o retorno a casa de “Sea Grass” todo o seu esplendor sobre a relva. Isso sĂł pode ser saudável.