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James Blake Assume Form

2019
Polydor


James Blake conquistou o seu lugar. Não há dúvidas disso ao primeiro instante que brota das colunas uma pianada enevoada, vozinha melancólica e acordes vaporosos enredados em batidas raquíticas; o homem é senhor do seu som! Os prodígios conseguem-no e estabelecem-se pelos anos, inconfundíveis. O problema é quando se deixam ficar. Quando se acomodam. Quando deixam de se desafiar. Fórmula aprumada, há que viver dela. Ou é ingenuidade. Ou é enfatuação.
 
Blake parece andar por ai, em certos ambientes, rodeado de altivez, a vaguear de encomenda em encomenda, a andar sem grandes rasgos de coragem, a imitar-se a si mesmo, aconchegado no seu cantinho, a escrever as suas letrinhas, a compor a sua musiquinha delicada, electrónica ultra-frágil, pop sonâmbula, r&b lânguido; com vedetas a colaborarem aqui e ali para uns retoques distintivos – para que tudo não pareça o que realmente é: mais do mesmo.
 
De todos os seus discos podemos dizer que são intimistas;que a música partiu da solidão do seu autor, que os amores e desamores, as frustrações, deram o singular toque. Achar que este Assume Form dá forma a algo novo, desafiante, é ter claros problemas de memória. Aqui e ali há pozinhos de novidade – "Barefoot in the Park" ou "Where's the Catch" são disso exemplo. Mas tudo o resto é Blake, à descarada, a iludir-nos, a fazer de conta que tem algo substancial com que nos impressionar. Vão longe os dias em que as canções eram rústicas mas verdadeiras. Agora? Simplesmente plásticas. Haja paciência.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
18/04/2019