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Timespine Urban Season

2018
Shhpuma


Surgiram em 2013, com um disco de estreia homónimo, editado na Shhpuma. O trio Timespine reunia três músicos oriundos de universos diversos: Adriana Sá (zither e electrónica), John Klima (baixo eléctrico) e Tó Trips (dobro e percussão). Este novo “Urban Season” é o segundo volume de uma discografia de um grupo que já encontrou o seu universo sonoro próprio. Este é um mundo muito particular: a matriz sonora instrumental é folk, mas o trio não se serve de composições convencionais para mergulhar na tradição da América profunda; ao contrário do que acontece noutras edições da Shhpuma, o trio também não explora a improvisação pura. Neste projecto atípico, o grupo trabalha a partir de partituras gráficas (da autoria de Adriana Sá) e as intervenções de cada um dos instrumentos vão respeitando as indicações visuais. Embora exista esse respeito à composição gráfica, neste processo há uma grande amplitude para a interpretação de cada sinal, cada músico pode transformar em música a sua interpretação pessoal, que poderá diferir da interpretação dos outros músicos. Ou seja, trata-se de uma música semi-aberta, onde há uma margem alargada para a criatividade de cada contribuição individual. O resultado que encontramos neste neste “Urban Season” é uma folk planante, música exploratória que vai incorporando referências diversas, mas acaba por soar como massa una, coerente. O Tó Trips que ouvimos não é o mesmo dos Dead Combo, a guitarra aqui opta por intervenções simples e esparsas, alinhada no ambiente controlado que marca o registo do trio. O zither (cítara alemã) de Adriana Sá, apesar da natureza folk, é quase sempre exploratória e surpreendente. E o baixo de Klima revela-se fundamental, sempre presente, em fundo. Há ainda electrónica e field recordings, que contribuem para o som final. Esta música é marcada por uma toada assombrada, é uma música que se afirma desafiante e que não se deixa prever.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
05/02/2019