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Mette Rasmussen & Chris Corsano A view of the Moon (from the Sun)

2018
Clean Feed


De um lado está Chris Corsano, baterista americano que, a par de colaborações com nomes como Björk, Six Organs of Admittance ou Espers, vem consolidado um percurso como notável improvisador. Tem tocado com músicos como Paul Flaherty, Nels Cline, Joe McPhee ou Evan Parker e, mais recentemente, integra o “quarteto americano” do saxofonista português Rodrigo Amado, que editou este ano o magnífico álbum “A History of Nothing”.

Do outro lado está Mette Rasmussen, saxofonista dinamarquesa que se tem afirmado como uma das novas vozes da improvisação livre europeia, colaborando com projetos e músicos como Fire! Orchestra, Trio Riot, Alan Silva, Tobias Delius, Rudi Mahall, Wilbert de Joode, Axel Dörner, John Edwards e Craig Taborn. Nos últimos anos a saxofonista tem colaborado com a trompetista portuguesa Susana Santos Silva e juntas integram o quarteto Hearth.

A colaboração entre Corsano e Rasmussen teve o seu primeiro registo com o disco “All The Ghosts At Once” (Relative Pitch, 2015). No ano seguinte editaram “Star-Spangled Voltage” (Hot Cars Warp, 2016), desta vez em trio com Paul Flaherty. Este novo disco, editado com o selo “Ljubljana Jazz Series” da Clean Feed, foi gravado ao vivo no festival de jazz de Ljubljana e documenta essa sua atuação.

Trabalhando uma improvisação sem rede, Mette Rasmussen começa por explorar o saxofone alto de forma convencional, revelando um fraseado aceso. O seu instrumento é seguidamente usado como fonte criativa de sons, desenvolvendo sons texturais e, ao longo do disco, Mette utiliza o saxofone sobretudo para cuspir fogo, exibindo uma energia imensa, assumindo-se como herdeira natural de Brötzmann.

Na bateria Chris Corsano alimenta a tensão rítmica crescente, que funciona como propulsão para a música da dupla. O baterista funciona como fonte fervilhante de ideias, contribuindo para uma comunicação musical constante. A dupla opera uma música original que, por vezes rugosa, por vezes abstrata, quase sempre fluida, soa permanentemente desafiante. Partindo da improvisação pura, o duo serve-se de elementos da tradição jazzística, o que acaba por resultar num diálogo puro, verdadeiro jazz visceral.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
06/11/2018