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Melvins Pinkus Abortion Technician

2018
Ipecac Recordings


Parece haver duas certezas na vida em relação aos Melvins: a de que odeiam Portugal (basta ver o número de anos que já se passaram desde a sua última visita até este rectângulo), e a de que enquanto tiverem forças para tal continuarão a editar discos com a mesma urgência, o mesmo peso que tinham quando começaram a sua carreira. Podem chamar-lhes pais do grunge ou ícones do metal mais alternativo; só não lhes chamem preguiçosos.

Tudo bem que depois de A Walk With Love & Death, álbum duplo que editaram o ano passado, poderíamos permitir-lhes alguma preguiça - e os próprios Melvins parecem ter cedido a ela, já que Pinkus Abortion Technician não chega a 40 minutos de música. Não só isso como nem sequer é um álbum dos Melvins, propriamente falando; é mais uma carta de amor aos não menos bons Butthole Surfers, a quem foram buscar não só o título desta obra como também o seu baixista, Jeff Pinkus.

Estes seus conterrâneos não foram os únicos homenageados pelos Melvins; há também uma versão mais ou menos bizarra de "I Want To Hold Your Hand", dos Beatles, a prova viva de que mesmo quem faz do peso o seu modo de vida não resiste a uma boa melodia (ou pelo menos a estragá-la). Já "Stop Moving To Florida", fusão entre "Stop", dos James Gang, e "Moving To Florida", dos Butthole Surfers, pouco muda às originais - sendo, ainda assim, a melhor abertura e cartão de visita para este disco.

Sem que nenhuma das canções aqui presentes seja puramente dos Melvins (fora as versões, as originais são assinadas por Pinkus e Steve McDonald / Anna Waronker / Josh Klinghoffer, sobrando metade de uma para Dale Crover e metade de outra para Buzz Osborne), o resultado é um álbum que pode não parecer coeso à primeira mas que depois lá vai mostrando, devagarinho, os seus atributos. Pensem nele como o rock n' roll a fazer striptease: sensualidade Faith No More em "Don't Forget To Breathe", amor ternurento em "Flamboyant Duck", orgasmo tântrico em "Prenup Butter". Certo, não chega a consumar de facto a relação. Mas os preliminares não são, por vezes, tão mais gostosos?


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
16/05/2018